Conservar o Manguezal evita a perdas humanas e de bilhões de dólares
Análises de risco em países atingidos por furacões e tempestades tropicais mostram que a vida de muitas pessoas e muito dinheiro são poupados por anos devido a proteção fornecida pelo manguezal. Essa é mais uma dos benefícios da concervação e restauração desse ecossistema, inclusive no Brasil.
Furacões e tempestades tropicais custam à economia dos EUA cerca de 50 bilhões de dólares (USD) com danos por vento e inundações. Um recente estudo, publicado na Scientif Reports mapeou o risco de inundação em 700 km de costa, em mais de 59 países ao redor do mundo. Os resultados evidenciam o importante papel do manguezal na proteção das zonas costeiras e prevenção à perdas econômicas e humanas.
O trabalho combinou simulações numéricas das inundações com outras ferramentas que são padrão em análises de riscos de seguradoras e industrias de engenharia. A maior parte dos levantamentos de riscos existentes para ciclones tropicais são feitos para países desenvolvidos, onde há recursos para tal. Isso exclui grande parte dos países tropicais, onde se concentra a maior parte da populações vulnerável do mundo e os efeitos de um desastre natural pode ser ainda mais devastador.
Os gastos com inundações excedem USD 730 bilhões anualmente com impactos diretos à bens e propriedades. Esse valor chega a ser 3 vezes maior quando impactos em atividades de subsistência e outras atividades econômicas são considerados. Nesse sentido, o manguezal reduz o risco de inundação, protegendo mais de 15 milhões de pessoas e prevenindo a perda de USD 65 bilhões todos os anos.
USA, China e Taiwan recebem o maior benefício econômico, através de proteção de propriedades, enquanto Vietnã, Índia e Bangladesh recebem o maior benefício social, com a proteção de pessoas.
Manguezal, nossa primeira defesa
O manguezal é um ecossistema, que recebe esse nome por sua árvore típica, o Mangue. Sua vegetação é adaptada ao ambiente salobro, típico de zonas costeiras onde há desembocadura de rios, e a água doce se mistura com a água do mar. Muitos estudos recentes tem destacado esse ecossistema como essencial para a regulação do clima, por sua grande capacidade capturar e armazenar carbono da atmosfera.
No caso das inundações, o manguezal funciona como uma barreira natural à inundação promovida pelos fortes ventos durante a tempestade. Além disso, o manguezal também amortece as ondas geradas durante esses eventos, protegendo pessoas e estruturas costeiras.
Para além dos riscos de inundação, o manguezal também é um grande aliado a um problema crescente em cidades litorâneas: a erosão costeira. O mangue é excelente para acumular sedimento e formar pedaços de "terra". Na média, o terreno ao redor dos manguezais crescem verticalmente de 1 a 10 milimetros por ano.
O que podemos aprender com isso?
Os autores sugerem que os manguezais sejam vistos como infraestrutura nacional, para que sua conservação possa ganhar investimentos não só de órgãos ambientais, mas também de órgãos e instituições associados à mitigação de desastres naturais, como a Defesa Civil, por exemplo. É mais efetivo preservar e restaurar as áreas de manguezal, que gastar dinheiro com barreiras artificiais.
Outros trabalhos tem mostrado benefícios econômicos similares com outros ecossistemas costeiros, como o marisma e os recifes de corais. Em muitos locais, preservar e restaurar esses ecossistemas costeiros pode ser uma estratégia extremamente efetiva do ponto de vista econômico para proteger a costa de inundações e ondas causadas por tempestades.
Apesar do estudo focar em regiões afetadas por ciclones tropicais, as conclusões podem ser extrapoladas para regiões atingidas por ciclones extratropicais. No Brasil, as ressacas são causadas por esses ciclones, e seus danos à infraestrutura na orla marítima tem aumentado nos últimos anos. O Sul e Sudeste são os mais atingidos, e seriam extremamente beneficiados por iniciativas de conservação de manguezal e marisma.