De 1970 a 1980 houve uma diminuição na atividade de furacões! Qual a razão?
Durante as décadas de 1970 e 1980, as atividades de furacões no Oceano Atlântico experimentaram uma calmaria em relação aos anos anteriores e seguintes. Entenda quais foram as contribuições naturais e antropogênicas da "seca" dos furacões nesses anos.
A atividade de furacões é medida pelo índice de dissipação de energia ou pela energia acumulada do ciclone. Esse índice depende do número de furacões durante cada estação, sua duração e intensidade; que, por sua vez, dependem do cisalhamento vertical do vento, intensidade potencial, limite superior teórico na intensidade do ciclone tropical e variações no déficit de saturação troposférica média.
Nos anos de 1970 e 1980, a atividade de furacões no Oceano Atlântico sofreu uma "seca". E, até hoje, existem questionamentos acerca das contribuições para esse evento ter acontecido. No caso de ser exclusivamente de natureza natural, pode-se esperar que secas semelhantes se repitam. Em contrapartida, no caso de ter influência antropogênica, é necessário estarmos preparados para enfrentar esse cenário.
Contribuições naturais e antropogênicas
A teoria da intensidade potencial prevê ciclones tropicais mais fortes quando a superfície do mar é localmente mais quente. Fazendo uma análise em longa escala temporal, as temperaturas médias da superfície do mar no Oceano Atlântico nas décadas de 1970 e 1980 foram baixas, concomitantemente com a seca do furacão. Adicionalmente, existem evidências científicas que sugerem uma influência dos efeitos radiativos de aerossóis de sulfato antropogênico nas temperaturas da superfície do mar no Oceano Atlântico durante essa "seca".
Além disso, os efeitos do sulfato antropogênico podem ser amplificados localmente por feedbacks climáticos positivos, tais como as emissões de poeira do Saara. A poeira levantada do Saara é transportada em grandes quantidades pelo Atlântico Norte até o Caribe, onde - coincidentemente - sua concentração atingiu o pico nas décadas de 1970 e 1980.
As perturbações da temperatura da superfície do mar no Atlântico Norte também são aumentadas pela velocidade do vento de superfície e feedbacks das nuvens, que podem estar relacionadas aos efeitos da poeira. Portanto, nesse caso, acredita-se que a atividade de furacões pode ter sido controlada principalmente pelo forçamento de poeira local, cuja variabilidade foi indiretamente modulada pelo forçamento de aerossóis de sulfato. Esses diferentes processos estão diretamente conectados entre si; e, para compreender cada componente é necessário descobrir como eles se encaixam.
Um estudo recente, publicado em agosto de 2022 na Nature, justificou a "seca" de furacões nos efeitos radiativos dos aerossóis de sulfato da Europa e América do Norte, que reduziram a precipitação na região do Saara, levando ao aumento das emissões regionais de poeira e transporte sobre o Oceano Atlântico. Essa poeira fez diminuir a temperatura da superfície do mar e, consequentemente, a atividade dos furacões.
Neste estudo, os autores propuseram que as altas concentrações de aerossóis de poeira das décadas de 1970 e 1980 não resultaram de variabilidade interna, mas ocorreram como feedback ao forçamento radiativo de sulfato antropogênico.