Declínio dos rios europeus revelam "pedras da fome"
Uma seca intensa está diminuindo os níveis dos rios em toda a Europa, revelando pedras esculpidas há séculos, dando às gerações futuras um alerta às mudanças climáticas. Entenda mais sobre as “pedras da fome” e quais mensagens elas nos trazem.
Esse ano a Europa registrou recordes de calor e a atual seca que o continente está enfrentando pode ser a pior em 500 anos, afirma Andrea Toreti, pesquisadora principal do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia; e ainda acrescenta que há um risco muito alto de condições de seca extremas nos próximos meses.
Pesquisadores relacionam a intensificação das secas como consequência aos cenários de mudanças climáticas, uma vez que - resumidamente - o aumento das temperaturas globais está diretamente relacionado às alterações nos padrões de precipitação e evapotranspiração. De acordo com o Observatório Europeu da Seca, 47% da Europa estão em condições de alerta de seca (significando que há um déficit de umidade no solo) e 17% estão em alerta (significando que a vegetação está estressada).
O que são e como as "pedras da fome" ficaram conhecidas?
Os baixos níveis dos corpos d’água revelam mensagens arrepiantes do passado! As pedras centenárias, conhecidas como “pedras da fome” reapareceram recentemente quando os rios da Europa secaram intensamente devido às condições de seca. Essas pedras são rochas localizadas principalmente nos rios da Alemanha e República Tcheca, nas quais os ancestrais gravaram mensagens e anos em que os níveis da água do rio desceram tanto que os corpos rochosos se tornaram visíveis.
As marcas mais antigas nas pedras datam do século XII, mas a maioria delas foi esculpida no século XIX. De acordo com o jornal alemão Sächsische Zeitung, pesquisadores encontraram dezenas de “pedras da fome” nas margens expostas do rio Elba, algumas das quais eram anteriormente desconhecidas.
Uma equipe de pesquisadores afirmou em um estudo de 2013 que essas pedras foram esculpidas como alerta às consequências das secas históricas. Nelas há expressões de que “a seca trouxe uma colheita ruim, falta de alimentos, preços altos e fome para os pobres”. As secas de: 1417, 1616, 1707, 1746, 1790, 1800, 1811, 1830, 1842, 1868, 1892 e 1893 foram transcritas nas pedras, traduzido como os “anos de sofrimento que foram gravados na história”. Algumas pedras também têm marcas de 2003, 2015 e 2018, mas, nada se compara à seca enfrentada atualmente.
Uma das pedras, datada de 1417, fica às margens do rio Elba, que atravessa a Alemanha (nascendo na República Tcheca e desaguando no Mar do Norte), e contém o aviso em alemão: “wenn du mich siehst, dann weine”, traduzido: “se você me vir, chore”. Outra pedra esculpida contém a mensagem “a vida florescerá novamente quando esta pedra desaparecer”.
O declínio dos rios devido às mudanças climáticas no rio Po, na Itália, também revelou uma série de tesouros arqueológicos. O naufrágio de uma embarcação da Segunda Guerra Mundial ressurgiu em Junho deste ano, depois que o maior rio do país atingiu níveis extremamente baixos durante sua pior seca em 70 anos. Em Julho, o rio italiano ainda revelou uma bomba submersa também da Segunda Guerra Mundial.
Acredita-se que as mudanças climáticas intensificarão os verões quentes e secos em toda a Europa e os avisos do passado podem voltar cada vez mais para nos lembrar da situação trágica vivida pelas gerações anteriores. O ressurgimento desses sinais apontam para um futuro sombrio, que parece já estar se desenhando no presente. No último mês, Espanha e França tiveram que racionar água devido a uma seca severa, declarando que os países enfrentam a pior seca da história.