Desaceleração da Corrente do Golfo desmascarada por novo estudo publicado na Nature
No início do ano, um estudo alertava para um possível colapso da AMOC, com consequências catastróficas para o Atlântico Norte. Agora outro trabalho publicado na revista Nature mostra outro resultado bem diferente.
Um novo estudo publicado recentemente na prestigiada revista Nature destaca que a Corrente do Golfo se manteve muito estável nos últimos 40 anos, a julgar pelos dados obtidos a partir de um cabo submarino de telecomunicações, localizado no Estreito da Florida.
Estas observações contradizem a crença geral de que a Corrente do Golfo poderia ser gravemente perturbada pelas mudanças climáticas antropogênicas e mostram que o processo poderia ser mais lento do que se pensava inicialmente.
Por que a Corrente do Golfo é tão importante?
A Corrente do Golfo é uma corrente oceânica que arrasta a água quente das latitudes tropicais para o Atlântico Norte, transportando 20 milhões de metros cúbicos de água por segundo, praticamente 100 vezes o fluxo do rio Amazonas. A corrente começa no Estreito da Flórida e chega ao Atlântico Norte, onde a água, à medida que esfria e ganha densidade, afunda nas profundezas, retornando para o sul e fechando assim o ciclo.
A Corrente do Golfo esfria à medida que se move para o norte, tornando o clima da Europa Ocidental mais ameno, sem grandes extremos de temperatura. A principal função desta corrente é regular a temperatura e fornecer umidade. Sem ela, os invernos em países como o nosso seriam muito mais extremos.
A Corrente do Golfo faz parte da AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation), que é um sistema de correntes em grande escala que transporta água por todo o Atlântico, influenciando o clima e a riqueza da biodiversidade. Alguns estudos demonstraram que a AMOC está abrandando devido ao derretimento do gelo marinho no Ártico causado pelo aquecimento global.
Então, o que acontece com a AMOC?
O estudo, liderado por Denis Volkov, mostra que a corrente no Golfo da Flórida, peça-chave da AMOC, permaneceu muito estável nos últimos 40 anos. Para coletar os dados, a presença de um cabo submarino de telecomunicações no Estreito da Flórida foi fundamental.
Devido ao campo magnético da Terra, os íons salinos da corrente oceânica induzem uma carga elétrica no cabo, que pode ser medida quantitativamente. Os resultados foram contrastados com medições diretas do volume transportado e das propriedades da água em estações próximas.
No início do ano, outro estudo publicado na revista Nature alertou para o possível colapso da AMOC, com consequências catastróficas para o clima da Europa. Neste trabalho estimou-se que o colapso poderia ocorrer em meados do século, entre os anos de 2025 e 2095, com uma confiança de 95%.
Talvez estes resultados possam variar com as descobertas de estabilidade no Golfo da Flórida. O sistema atmosférico é caótico e uma mudança nas condições finais pode alterar bastante os resultados. O matemático Edward Lorenz já disse isso com sua teoria do caos e do efeito borboleta: “O bater das asas de uma borboleta no Sri Lanka pode causar um furacão nos Estados Unidos”.
Referência da notícia:
Volkov, D. L. et al. Florida Current transport observations reveal four decades of steady state. Nature Communications, v. 15, n. 7780, 2024.