Desmatamento no Cerrado aumenta 16,5% nos últimos meses e preocupa cientistas
Alertas de desmatamento batem recordes no Cerrado, com um aumento de 16,5% da área devastada desde agosto de 2022. Esse fato preocupa pesquisadores, que estão cobrando ações de proteção do bioma às autoridades.
Pesquisadores brasileiros publicaram recentemente uma carta na revista Nature Sustainability, na qual fazem um alerta para o aumento dos desmatamentos no Cerrado, e pedem um maior controle do bioma através de ações de proteção.
Eles afirmam que o Cerrado tem sido excluído de esforços que poderiam garantir a sua sustentabilidade, e que as ações ambientais têm focado na Amazônia, ignorando o impacto da degradação do bioma.
Alertas de desmatamento batem recordes no Cerrado
O Cerrado, também chamado de savana brasileira, é o segundo maior bioma do Brasil, compreendendo cerca de 24% do território brasileiro. Apresenta uma enorme biodiversidade vegetal, com mais de 11.600 espécies de plantas nativas, e é uma área com grande potencial aquífero. Conhecido também como “Berço dos grandes rios brasileiros”, esse bioma abriga várias bacias hidrográficas que abastecem as regiões Sul e Sudeste.
Foram registrados recordes de desmatamento no Cerrado, com um aumento de 16,5% de agosto de 2022 a julho de 2023, atingindo 6.359 km² de área destruída neste período, segundo os dados do sistema de alertas DETER do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Este é o pior resultado desde o início das medições em 2017, e a maioria dos alertas está na região conhecida como Matopiba (que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), com quase 75% do total dos desmatamentos. Matopiba é uma região importante para o agronegócio, pois lá desenvolve-se agricultura de alta produtividade com uso intensivo de insumos modernos, além de ser responsável por 10% da produção nacional de grãos e fibras.
Para fins de comparação, em 2022 o desmatamento já havia sido 25% maior do que em 2021, chegando a 10.689 km². Isso é quase igual ao total desmatado no mesmo período na Amazônia (11.568 km²), que ocupa um território duas vezes maior que o Cerrado.
Cerrado sendo ‘deixado de lado’
Segundo os autores, há menos ações para coibir o desmatamento no cerrado do que na Amazônia, por exemplo, e as funções ambiental, econômica e social de ambos os biomas interessam igualmente ao planeta. Mesmo assim, o Cerrado é negligenciado, e é necessário priorizá-lo nas discussões diplomáticas. “O ritmo recente de desmatamento está alto e já afeta condições edafoclimáticas vitais. Isso compromete até mesmo o futuro da produção nacional, podendo desencadear crises ambientais e socioeconômicas, bem como afetar políticas de segurança alimentar”, explicou Michel Eustáquio Dantas Chaves, pós-doutorando na DIOTG-INPE, um dos autores da carta.
Os pesquisadores citam também o pacto Moratória da Soja, alguns projetos de lei criados e uma nova regra da Comissão Europeia, que acabam deixando parte do Cerrado desprotegido, como uma “zona de sacrifício” para desenvolvimento agrícola.
“O momento exige estratégias que unam provisão de serviços ecossistêmicos e produção agrícola. O Cerrado é peça-chave nesse desafio, mas geralmente é lembrado apenas por seu potencial agrícola. Sua condição de ser a savana mais biodiversa do mundo, regular o clima, fornecer água e estocar carbono acaba negligenciada. Propusemos mecanismos para que o Cerrado seja respeitado como o motor da capacidade agroambiental brasileira”, complementou Chaves.
Investimentos tecnológicos feitos no Cerrado desde 1970 aumentaram a produtividade brasileira de grãos, o que indica que é possível conciliar a atividade agrícola com políticas de conservação, como por exemplo, a expansão do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCD). Porém, segundo os autores, a implementação do PPCD no Cerrado depende de políticas específicas para o bioma, com esforços coordenados entre os governos municipais, estaduais e federal.