Diminuição dos insetos põe em risco a produção em todo o mundo
A diminuição e até mesmo a extinção de alguns insetos acende uma luz de alerta em todo o mundo, isso porque a produção global de alimentos corre riscos. Entenda mais sobre o assunto.
Em duas décadas os cientistas avançaram muito nos estudos sobre os insetos e como eles são importantes em toda a cadeia alimentar, inclusive, com uma gama de estudos científicos foi possível concluir que hoje em dia existe uma menor quantidade de insetos do que antigamente.
Cientistas relatam uma diminuição dos insetos, tanto em biomassa quanto em diversidade, o que pode gerar um grande problema apesar do tamanho minúsculo desses bichinhos.
Alguns dos estudos que apontaram tal diminuição nos últimos 20 anos, tiveram como base observações feitas por entomólogos amadores, outros estudos já envolveram cientistas que fizeram uma contagem do número de insetos atingidos por para-brisas dos carros.
Detalhes dos estudos
Estudos mais recentes que foram realizados nesses últimos seis anos ficaram cada vez mais sofisticados e confirmaram que, ainda que existam espécies de insetos que não estejam diminuindo de um ano para o outro, existem sim algumas espécies enfrentando graves problemas, até mesmo com risco de extinção.
Foi realizado um apanhado de 166 estudos no ano de 2020, e foi estimado que em média, a população de insetos apresenta uma diminuição em todo o mundo em torno de 0,9% ao ano, porém, vale ressaltar que as reduções não seguem um padrão. Em alguns ambientes, algumas espécies de insetos foram reduzidas, enquanto outras permaneceram estáveis e tinham outras que até apresentavam crescimento.
De fato, as razões dessas diferenças ainda intrigam os pesquisadores, ainda que seja claro que alguns insetos são mais resistentes que outros. Um novo estudo apresenta dados sobre as migrações sazonais no leste asiático, em que muitos desses insetos são considerados pragas, isso porque todos os anos eles voam para o norte durante a primavera para aproveitar a estação de cultivo na região, mas depois voltam para o sul durante o outono para escapar do frio, o que diminuiu nos últimos anos, indicando ser de fato, um problema global.
Os insetos migratórios
Foram quase três milhões de insetos migratórios capturados em armadilhas luminosas na ilha de Beihuang, no litoral nordeste da China, além de outros nove milhões de insetos detectados nos registros de radares, algo que foi feito por cientistas da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas na capital da China, Pequim, entre os anos de 2003 e 2020.
Desses milhões de insetos capturados, foram identificadas 98 espécies diferentes, sendo a maioria considerada praga que se alimenta da produção agrícola ou de outros insetos que são seus inimigos naturais. O que mais chamou a atenção durante esses 18 anos, entretanto, foi que a contagem anual de todos os insetos identificados caiu em 7,6% de lá pra cá, ou pode-se dizer uma tendência de redução estável de 0,4% ao ano.
Os insetos na produção agrícola
Muitos consideram naturalmente que insetos sejam pragas e que isso de alguma forma é maléfico para a produção agrícola. Existem sim os que atacam os vegetais e de fato é até tentador imaginar que um mundo sem insetos seria melhor, que a agricultura iria prosperar mais de alguma forma, mas isso não é verdade segundo o novo estudo.
Nos estudos, foram comparadas as velocidades de declínio de 124 pragas e de cada um dos insetos que são seus predadores naturais, ou seja, os insetos que pela cadeia alimentar, iria combater essas pragas nas lavouras de forma natural.
Com isso, durante os 18 anos de estudo, foi comprovado que a presença das espécies inimigas naturais das pragas diminuiu em 0,65% ao ano, enquanto a quantidade das pragas que se alimentam de plantas, em média, não se reduziu. Ou seja, há indicativos que as espécies benéficas, inimigas naturais das pragas, são mais propensas ao declínio do que aquelas que servem de alimento.
É claro que são inúmeras as razões para uma diminuição de biomassa e diversidade dos insetos nas últimas décadas, até porque é muito fácil culpar os pesticidas, a poluição luminosa pública brilhante, as mudanças climáticas e a intensificação da agricultura que afeta diretamente esses insetos com sua mecanização, erradicação das sebes, a monocultura, o aumento do uso de fertilizantes químicos e a aplicação regular de pesticidas.
O adeus a algumas espécies
Não há dúvidas de que os insetos são os seres vivos mais numerosos na Terra, até porque se reproduzem muito mais rápido e em maior quantidade. Em estimativa, pode-se dizer que a massa total de novos insetos que crescem pelo mundo ao longo do ano atinja cerca de 1,5 bilhão de toneladas. Mas para onde vai tudo isso?
A cadeia alimentar natural se encarrega de todo esse material, afinal, imagina se ficassem depositados todos os insetos que morrem a cada milésimo de segundo. Bom, a maior parte desses insetos são consumidos imediatamente por seus predadores e parasitas, ou seja, se diminui a quantidade de insetos que serve como alimento para outros seres, diminui também o número de outros animais silvestres, e inclusive, já existe indícios de que isso esteja acontecendo.
Nós fazemos parte de uma cadeia alimentar e se o menor dos insetos faltar lá na base, o topo uma hora também vai sentir essa redução. Prova disso é a população de espécies de aves que se alimentam de insetos que sofreu redução média de quase 10 milhões de indivíduos nos últimos 50 anos na América do Norte.
Sim, não podemos negligenciar e dizer que todos os insetos são incríveis e importantes para nossa sobrevivência, até porque é verdade que alguns insetos são uma ameaça aos seres humanos, como os mosquitos transmissores de doenças. Porém, vale ressaltar que a grande maioria dos insetos é benéfica: eles polinizam a produção agrícola, fornecem controle natural de pragas, reciclam nutrientes e ajudam na formação do solo, participando da decomposição de plantas e animais mortos.