Dipolo do Oceano Índico volta à ativa! O que isso significa?
Enquanto o Oceano Pacífico Tropical continua em sua fase neutra, no Oceano Índico Tropical um novo padrão de variabilidade climática emergiu, a fase negativa do Dipolo do Oceano Índico! Esse dipolo poderá influenciar o regime de chuvas no Brasil nos próximos meses.
Enquanto o El Niño-Oscilação Sul (ENOS) segue em sua fase neutra no Pacífico Tropical, outro importante padrão de variabilidade climática tropical retorna à ativa, o Dipolo do Oceano Índico (DOI)!
O DOI consiste num padrão de anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) opostas entre as porções oeste e leste do Oceano Índico Tropical. Essa diferença de temperatura implica em alterações na pressão, ventos e no regime de chuvas, afetando toda a circulação atmosférica sobre os trópicos, a chamada célula de Walker.
Nas últimas semanas a porção leste do Índico passou a registrar TSMs mais quentes que o normal (anomalias positivas), o que impulsionou a atividade convectiva nessa região, enquanto no Índico oeste as TSMs têm ficado dentro da média ou abaixo dela (anomalias negativas). Dessa forma, estabeleceu-se uma fase negativa do DOI.
A agência meteorológica australiana, Bureau of Meteorology (BOM), foi a primeira a confirmar o evento, já que essa é uma oscilação com fortes implicações no regime de chuvas e temperatura da Austrália. A agência prevê que, com a fase negativa do DOI, a Austrália receberá acumulados de chuva acima da média, principalmente no leste do país.
A última vez que o DOI esteve ativo foi em 2019, quando esteve em sua fase positiva (padrões de TSM opostos ao observado atualmente), uma das mais intensas registradas na história! Esse evento esteve associado a condições extremas de seca e temperaturas altas na Austrália, que desencadearam o pior episódio de incêndios florestais do país.
O que isso implica para o Brasil?
Apesar de distante, variações de TSM no Oceano Índico podem influenciar as condições climáticas sobre o Brasil via padrões de teleconexões atmosféricas. A porção tropical é mais afetada pelas alterações da célula de Walker enquanto que ondas de Rossby originadas no Índico ficam encarregadas de alterar o regime de chuvas sobre as latitudes médias.
Em 2019 o Brasil foi bem impactado pela fase positiva do DOI, registrando um déficit de precipitação em quase todo o país durante os meses de primavera e atrasando o início da estação chuvosa. Enquanto no extremo sul do país (Rio Grande do Sul) foram registrados acumulados de precipitação acima da média.
Apesar dos impactos da fase positiva do DOI no regime de chuvas serem mais intensos e evidentes durante a primavera, geralmente na fase negativa observamos um padrão oposto de anomalias, com chuvas acima da média em grande parte do país, principalmente no norte, e abaixo no extremo sul. Nos meses de verão a fase negativa do DOI parece contribuir com um deslocamento da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) mais a norte de sua posição climatológica, associada a uma anomalia ciclônica sobre o Oceano Atlântico Subtropical.
O Índico pode influenciar o ENOS?
Como ambos os padrões, DOI e ENOS, estão associados a variações na circulação de Walker sobre os trópicos, alterando o comportamento dos ventos alísios e os centros de convecção, esses eventos estão associados e poucas vezes ocorreram de forma independente um do outro.
Alguns estudos mostraram que a fase positiva do DOI pode causar ou influenciar um evento de El Niño, enquanto a fase negativa do DOI pode desencadear um evento de La Niña, devido principalmente às alterações dos ventos e TSM sobre o Pacífico Oeste. Isso corrobora com a previsão de retorno da La Niña nos próximos meses!