El Niño Costeiro: chuvas torrenciais deixam ao menos 16 mortos no Equador
A chuva expressiva dos últimos tempos tem chamado a atenção em diversas localidades da América do Sul, uma delas o Equador que tem enfrentado inundações, enchentes e deslizamentos de terra.
No último domingo (26) foi registrado um deslizamento de terra de grandes proporções em Alausí, que fica na província de Chimborazo após chuvas torrenciais atingirem a região que fica cerca de 300 quilômetros de distância ao sul de Quito. O deslizamento deixou ao menos 16 mortos, 23 feridos e 46 desaparecidos.
A chuva tem sido expressiva no Equador desde o mês de janeiro, segundo levantamentos do governo que foram divulgados nesta segunda-feira (27) após o incidente em Alausí. Autoridades estão ainda a procura de mais de 45 pessoas que sumiram em meio ao lamaçal que escorreu com a avalanche que soterrou dezenas de casas de uma só vez.
O deslizamento pode ser visto de longe por pessoas que estavam em montanhas ao redor, a grande parede de terra cedeu sobre casas após as chuvas torrenciais que vem deixando o solo encharcado e propício para esses eventos de rompimento do solo. A área de deslize foi enorme e ainda não se sabe ao certo a quantidade de vítimas fatais.
Avalanche de lama
O deslizamento de grandes proporções varreu dezenas de casas com seus moradores dentro, visto que o episódio aconteceu durante a noite, o que aumenta a chance das pessoas estarem em suas casas e aumenta também a dificuldade de ver o solo se desprendendo e cedendo ladeira abaixo.
Durante a madrugada os bombeiros foram acionados e com a ajuda dos próprios moradores da região começaram as buscas incansáveis por vítimas e sobreviventes em meio aos destroços, lama e muitas pedras que rolaram morro abaixo. Inclusive, o deslizamento de terra atingiu parte de uma rodovia.
Foram encontrados em meio ao lamaçal, lâminas de metal retorcido e troncos de árvores que foram partidos pela metade, o que dificultava ainda mais os resgates. Segundo o presidente Guillermo Lasso: “Precisamos continuar com os processos de resgate. Pedimos a todos os munícipes que deixem as zonas afetadas para que possamos atender da melhor forma esta emergência”.
O governo inclusive ordenou que 600 residências fossem evacuadas, visto que ainda estão de pé, mas correm riscos na área da do desastre, o que inclusive, deixou moradores surpresos por essas casas não terem sido levadas junto. O deslizamento ocorreu por volta das 21h local (23h em Brasília).
Mais detalhes da tragédia que matou 7 pessoas
Em fevereiro de 2023 já havia sido emitido um alerta amarelo sobre os riscos dessa região por conta das chuvas persistentes e volumosas, deixando o solo encharcado e propício para um deslizamento. José Agualsaca contou à emissora Teleamazonas que sobreviveu por pouco: “Eram cerca de nove horas da noite e eu consegui escapar faltando uns 15 minutos. Estávamos tirando as coisas”.
Essa área que acabou cedendo já estava sendo observada pelas autoridades locais que já haviam emitido alertas sobre o afundamento de uma via no setor de onde parte da montanha se desprendeu, mas ainda assim, a avalanche de lama fez suas vítimas fatais. Até o momento, de acordo com a Secretaria Nacional de Gestão de Riscos (SNGR) são cerca de 500 afetados pelo deslizamento de domingo.
Além das casas que foram engolidas pela lama, o deslizamento de terra também derrubou um ginásio, um estádio e fez com que três escolas suspendessem as aulas. Cerca de 400 alunos vivem nessa área de risco iminente.
Como curiosidade, Alausí é tem um codinome conhecimento mundialmente “Nariz do Diabo”, isso porque representa um trecho que passa uma linha de trem sendo considerada a mais perigosa do mundo. Nessa encosta passa a linha ferroviária transandina do Equador.
Por que tanta chuva?
Desde o começo do ano até agora, chuvas torrenciais têm deixado rastros no Equador, somando mais de 22 mortos, 346 desabrigados, quase 7 mil casas afetadas, com cerca de 987 eventos perigosos relacionados aos temporais e chuvas volumosas. Inclusive, na última semana, 15 pessoas morreram com as chuvas e um terremoto que obrigaram o governo a decretar situação de emergência.
Mas para falar de tanta chuva assim no Equador é preciso lembrar dos fenômenos formados que estão favorecendo essas condições de chuva expressiva, como o El Niño Costeiro, sendo ele o aquecimento anômalo das temperaturas do Pacífico Leste que banha o país. Atualmente, segundo informes da NOAA, a área de Niño 1+2 está com anomalias de 2°C.
Esse El Niño Costeiro atinge áreas como Equador e Peru e ainda pode provocar muita chuva nos próximos dias, semanas e talvez até meses. Isso porque a tendência segundo projeções climáticas é que um Oceano Pacífico em constante aquecimento daqui pra frente, com possibilidade de instalação do El Niño durante o segundo semestre de 2023.
Esse El Niño Costeiro instalado com temperaturas de até 2°C acima do normal traz fortes indícios que o El Niño em escala global se forme nos próximos meses, o que trará conseqüências para a distribuição de chuvas e comportamento das temperaturas no Brasil. Por exemplo, para o próximo verão com a atuação de um El Niño, espera-se mais chuvas no Sul, mais calor no Sudeste e Centro-Oeste, e um risco de estiagem em áreas do Norte e Nordeste.