Emergência Climática: desmatamento em Terras Indígenas disparou no Brasil
Entre os anos de 2019 e 2021 os Territórios Indígenas foram duramente invadidos e, com isso, as taxas de desmatamento e emissão de carbono nesses territórios dispararam. Agora esses povos exigem seu direito de demarcação e proteção das florestas!
Os povos indígenas, além de carregar uma enorme importância cultural e histórica para o Brasil, são os principais defensores e protetores das florestas. Segundo estudos, os povos indígenas protegeram mais de 20% da vegetação nativa no Brasil, nos últimos 35 anos. Diversos levantamentos feitos via dados de satélite mostram que, enquanto as florestas em torno das Terras Indígenas (TIs) estão 29% desmatadas, dentro das TIs o desmatamento é de apenas 2%.
Cerca de 700 mil indígenas vivem em TIs no Brasil, territórios legalmente demarcados e que devem ser protegidos pelo Estado brasileiro, onde não é permitida a entrada de não indígenas sem autorização. Os TIs abrigam mais de um milhão de quilômetros de floresta, que preservam a biodiversidade, contribuem para a regulação do clima e a absorção de carbono da atmosfera.
Mais da metade desses TIs estão dentro da Amazônia Legal brasileira e, infelizmente, muitos deles têm sofrido com a invasão e desrespeito de suas demarcações nos últimos anos. De acordo com um estudo publicado na Scientific Reports da Nature, o desmatamento aumentou 129% dentro dos TIs entre 2013 e 2021, sendo que nos últimos três anos (2019 a 2021) o aumento foi de 195%. E pior, nos últimos 3 anos o desmatamento ocorreu 30% mais distante dos limites de demarcação, em direção ao interior dos TIs, entrando cerca de 8,9 quilometros ao ano além dos limites.
Os pesquisadores utilizaram conjuntos de dados oficiais de sensoriamento remoto para estudar o desmatamento dentro e fora dos TIs na Amazônia brasileira nesse período. E constataram que o aumento do desmatamento ocorreu junto a um aumento do garimpo ilegal e também do avanço ilegal de áreas de plantação e pasto.
Todo esse desmatamento foi responsável pela emissão de 96 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) no período entre 2013 e 2021, sendo que cerca de 59% dessas emissões ocorreram nos últimos três anos. O que fez com que a floresta revertesse seu papel, deixando de absorver carbono e passando a emitir carbono para a atmosfera.
“Em números absolutos, a área devastada nas TIs pode parecer pouca, mas, como se trata de uma região destinada à proteção ambiental, a magnitude do impacto é muito maior. Além da perda de floresta, o desmatamento também serve de vetor de outros problemas para o interior dessas áreas, como o avanço de doenças e ameaças à sobrevivência de indígenas isolados. Um caso recente é o do povo Yanomami, onde houve diversas mortes de indígenas após a entrada de garimpeiros”, disse Celso Silva-Junior, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e primeiro autor do artigo, à Agência FAPESP.
Indígenas decretam emergência climática no país
Na semana passada milhares de indígenas participaram em Brasília da 19ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL 2023). Em uma assembleia realizada na quarta-feira (26), os representantes dos povos indígenas do Brasil decidiram decretar emergência climática no país, cobrando ações efetivas do governo brasileiro para proteção das terras indígenas no combate à crise climática.
Junto a declaração também houve a apresentação de uma carta que apresenta 18 reivindicações a todos os poderes do Estado. Entre as reivindicações está a demarcação das TIs em todos os biomas do Brasil, além da atualização e implementação de planos de ação para a prevenção e controle do desmatamento nesses biomas.
“Nós, povos indígenas, fizemos e estamos fazendo a nossa parte. Em todos os biomas e ecossistemas, além de contribuirmos na formação social do Brasil, aportando para a cultura, a língua e a culinária, até hoje contribuímos na proteção da biodiversidade, das florestas e das águas, e, consequentemente, na manutenção do equilíbrio climático, graças à relação espiritual e harmoniosa que mantemos com a Mãe Natureza, da forma como aprendemos dos nossos ancestrais e dos nossos encantados”, diz um trecho da carta.