Erupção de vulcão em Tonga está influenciando a estratosfera no Polo Sul
A grande erupção do vulcão subaquático de Tonga em janeiro deste ano injetou uma enorme quantidade de vapor d’água na estratosfera sobre o Hemisfério Sul, que pode estar esfriando as temperaturas da estratosfera sobre a Antártica, modulando o Vórtice Polar!
Grandes erupções vulcânicas têm o poder de alterar o clima da Terra, alterando a circulação global e também a absorção de radiação, consequentemente implicando em alterações na temperatura do planeta. Mas não sabemos ao certo como cada erupção afeta o clima, isso porque depende da magnitude da erupção, a quantidade de pluma de poeira e cinzas lançadas na atmosfera, as substâncias que compõem essa pluma e o alcance dessa pluma na atmosfera.
Neste ano a grande erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha'apai em Tonga, no dia 15 de janeiro, gerou vários impactos ao longo do planeta, como tsunamis em áreas costeiras, propagação de ondas gravitacionais que influenciaram as medições de variáveis meteorológicas em diversos países, além da densa e volumosa pluma de fumaça e vapor d’água que viajou milhares de quilômetros.
O vulcão de Tonga produziu uma enorme pluma que chegou a atingir uma altura de 58 km, chegando até a mesosfera (camada acima da estratosfera). Essa pluma injetou grandes quantidades de gases vulcânicos (como o enxofre) e também uma enorme quantidade de vapor d’água na estratosfera, devido ao vulcão ser subaquático e ter entrado em erupção no oceano.
Pouco tempo após a erupção, cientistas de todo o mundo passaram a estudar os possíveis efeitos dessa erupção no clima do planeta. Um desses estudos, publicado no mês passado e já mencionado em artigo anterior, explorou os efeitos dessa grande quantidade de vapor d’água na estratosfera, algo que nunca havia sido observado antes.
Os autores verificaram que, ao contrário das fortes erupções anteriores, a erupção de Tonga pode não esfriar a superfície do planeta, mas pode potencialmente aquecer a superfície devido ao excesso de vapor de água. Entretanto, esse aquecimento seria a longo prazo e em escala global, em uma escala mais curta de tempo essa grande quantidade de vapor d’água na estratosfera pode implicar em outros efeitos mais regionais, como vamos explicar a seguir!
Erupção de Tonga e o resfriamento da estratosfera no Hemisfério Sul
A estratosfera, camada logo acima da troposfera, é uma camada com cerca de 30 km de espessura, extremamente seca, que registra temperaturas negativas e abriga a camada de ozônio. Apesar do nosso clima ser regido pelas circulações atmosféricas que ocorrem na troposfera, ele pode ser fortemente modificado pelos impactos vindos da estratosfera. Um grande exemplo dessa relação são os aquecimentos e esfriamentos anômalos na estratosfera que implicam em variações no vórtice polar e, consequentemente, nos jatos de altos níveis da troposfera, alterando a rota dos ciclones e anticiclones.
Após a erupção de Tonga, foram verificadas grandes quantidades de vapor d’água na estratosfera, principalmente nas latitudes subtropicais do Hemisfério Sul. Com o passar dos meses essa grande nuvem de vapor tem se deslocado e se aproximado das latitudes polares nas últimas semanas.
Alguns estudos indicam que na estratosfera a grande quantidade de vapor d'água pode diminuir as temperaturas, algo que realmente tem sido observado nos últimos dias no campos de anomalia de temperatura no nível de 10 hPa. Se esse resfriamento ocorre próximo ao Polo Sul, ele colabora para uma intensificação do vórtice polar sobre a Antártica. Um vórtice polar mais intenso implica em jatos de altos níveis mais intensos e mais deslocados em direção aos polos, o que corrobora com a fase positiva da Oscilação Antártica!
Portanto, os sucessivos resfriamentos anômalos na estratosfera sobre a Antártica e as oscilações positivas da Oscilação Antártica que tem ocorrido nas últimas semanas, podem estar associadas à erupção de Tonga em janeiro! Além disso, como esse vapor d’água deverá permanecer na estratosfera por muito tempo, podemos esperar que ele continue modulando o vórtice polar até setembro, quando ocorre a transição para a primavera e as temperaturas começam a esquentar no Polo Sul!