Estas são as praias paradisíacas e destinos de inverno que correm o risco de desaparecer devido às mudanças climáticas

O aumento da temperatura média do planeta, e as consequências daí decorrentes, colocam em xeque o sector do turismo, com implicações econômicas e culturais. Esta é a lista de lugares que podem não existir mais num futuro próximo.

turismo indústria turística viagens mudanças climáticas aquecimento global
Cada vez mais praias, ilhas, geleiras e resorts de inverno no mundo serão afetados pelo aumento da temperatura média do planeta.

As mudanças climáticas estão colocando em xeque o setor do turismo no mundo. Cada vez mais áreas, que pelas suas belezas naturais atraem milhões de visitantes por ano, são acrescentadas à lista de locais ameaçados, seja pela subida do nível do mar, pela maior frequência e intensidade das tempestades, pelo derretimento das geleiras, ou pela degradação dos ecossistemas.

Esse fenômeno não é apenas uma preocupação ambiental, mas também tem implicações econômicas e culturais para as comunidades que dependem do turismo para a sua subsistência.

Compreender a ligação entre eventos climáticos e desastres é crucial. Um exemplo emblemático pode ser visto nas recentes enchentes que devastaram o estado do Rio Grande do Sul.

Esse fenômeno extremo, amplamente atribuído às mudanças climáticas, causou perdas significativas de vidas e propriedades. O local também será inevitavelmente afetado pela diminuição do número de turistas.

“Vivemos em um mundo que passa por um processo de transformação muito intenso, seja na expansão urbana ou no uso dos recursos naturais. Essa expansão alterou muito o meio ambiente nos últimos 100 anos”, explica à BBC News Brasil Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Segundo Ometto, estas mudanças têm impacto direto nos ecossistemas e nas comunidades humanas, especialmente em regiões que dependem do equilíbrio ambiental para manter a sua biodiversidade e a atividade turística. A má notícia é que, se as políticas públicas não forem implementadas com urgência, o prognóstico para os próximos anos não é nada animador.

Destinos turísticos em perigo de extinção no mundo

Nas próximas décadas, cada vez mais praias, ilhas, geleiras e estâncias de inverno no mundo serão afetadas pelo aumento da temperatura média do planeta, o que desencadeia alterações em todas as escalas que incluímos no conceito de alterações climáticas.

Em artigo publicado pela BBC News Mundo, são listados os casos mais ressonantes que as gerações futuras verão se o rumo não for mudado a tempo.

Maldivas e ilhas do Pacífico em risco

As Maldivas, um dos destinos mais cobiçados pelos turistas que querem desfrutar de águas azul-turquesa e areia branca, poderão desaparecer até o ano 2100, segundo projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Segundo o relatório “Ocean, Cryosphere and Sea Level Change”, o nível do mar subirá em 2050 entre 0,18 metros (um cenário com baixas emissões de gases com efeito de estufa) e 0,23 metros para um cenário com elevadas emissões. Para 2100, a previsão é ainda mais preocupante: poderá subir entre 0,38 metros e 0,77 metros, respetivamente. Este cenário também colocaria em xeque diferentes pequenas ilhas do Pacífico.

turismo indústria turística viagens mudanças climáticas aquecimento global
Até 2100, o nível do mar poderá subir entre 0,38 e 0,77 metros. Imagem gerada com IA.

Outro estudo, publicado na revista Science Advances e realizado por cientistas do Serviço Geológico dos Estados Unidos, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e da Universidade do Havaí, mostrou que a região pode se tornar inabitável já em 2060. O trabalho científico também revelou que as Ilhas Carolinas, as Ilhas Cook, as Ilhas Gilbert, as Ilhas Line, as Ilhas Society, as Ilhas Spratly, as Seicheles e as Ilhas do Noroeste Havaiano também correm o risco de ficarem submersas nos próximos quarenta anos.

O que acontece é que estas ilhas são muito baixas e suscetíveis à subida do nível do mar. Essa elevação não é uniforme e já existe uma diferença de altura entre o Atlântico e o Pacífico”, afirma Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Meio Ambiente da USP.

O professor lembra ainda que o mesmo acontecerá com a Polinésia Francesa, Tuvalu e outras ilhotas do Pacífico.

Canais de Veneza, suscetíveis às mudanças climáticas

Outro destino que atrai diversos turistas anualmente e está suscetível às mudanças climáticas e possível desaparecimento é Veneza, na Itália. A cidade já sofre com o turismo de massa, inundações e até secas.

turismo indústria turística viagens mudanças climáticas aquecimento global
Veneza é particularmente vulnerável às alterações climáticas.

“A Itália está realizando trabalhos para conter a subida do nível do mar, mas as tentativas para os implementar têm sido, na verdade, muito limitadas. Podem funcionar no futuro, mas Veneza é particularmente vulnerável às mudanças climáticas”, afirma Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental da ONU. sobre Mudanças Climáticas.

Destinos de inverno e geleiras em perigo de extinção

Alguns destinos de esqui já produzem neve artificial e podem até fechar mais cedo por falta de neve branca, segundo especialistas.

“A redução da cobertura de neve já está afetando as áreas de esqui nos Estados Unidos e nos Alpes. O derretimento das geleiras significa que há menos neve nos resorts. Toda a indústria do esqui pode desaparecer”, alerta Artaxo.

O estudo da UNESCO, acima citado, também mostrou que as geleiras localizados em 50 locais do Patrimônio Mundial estão recuando a um ritmo alarmante desde a década de 2000 devido às emissões de CO2.

Essas geleiras, que incluem alguns dos mais famosos do planeta, como os mais próximos do Monte Everest e o último que resta em África, perdem anualmente 58 mil milhões de toneladas de gelo. Essa perda é equivalente ao consumo anual de água de França e Espanha combinados e contribui com quase 5% para a subida global do nível do mar.

O relatório alerta ainda para atrações turísticas de inverno em cada continente que poderão desaparecer nas próximas décadas:

  • África: Parque Nacional Kilimanjaro, na Tanzânia e Monte Quênia, no Quênia. Esses poderão desaparecer até 2050.
  • Ásia: As geleiras nas Áreas Protegidas dos Três Rios Paralelos de Yunnan, China, apresentam a maior perda de massa em comparação com 2000 (57,2%) e são também as geleiras de derretimento mais rápido da lista. A região fronteiriça entre o Cazaquistão, o Quirguistão e o Uzbequistão, que diminuiu 27% desde a década de 2000.
  • Europa: As geleiras dos Pirenéus, na fronteira entre França e Espanha. Além disso, as geleiras das Dolomitas, na Itália, que correm o risco de desaparecer nos próximos 25 anos.
turismo indústria turística viagens mudanças climáticas aquecimento global
Os glaciares das Dolomitas, em Itália, que correm o risco de desaparecer nos próximos 25 anos.
  • América Latina: as geleiras do Parque Nacional Los Alerces, na região da Patagônia, Argentina. Apresentam a segunda maior perda de massa em relação ao ano 2000, correspondendo a 45,6%. Além disso, as geleiras do Parque Nacional Huascarán, no Peru, que diminuíram 15% desde 2000.
  • América do Norte: as pequenas áreas glaciais do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Além disso, as geleiras do Waterton Glacier International Peace Park, localizado na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos. Estas perderam 26,5% do seu volume em 20 anos.
  • Oceania: geleiras Te Wahipounamu no sudoeste da Nova Zelândia. Estes glaciares já perderam quase 20% do seu volume desde a década de 2000.

O aumento das temperaturas globais e o resultante derretimento dos glaciares não só ameaçam os destinos turísticos, mas também afetam diretamente os meios de subsistência das comunidades locais.

Impactos no turismo e na população

No sector do turismo, as mudanças climáticas não afetam apenas as atividades diretamente relacionadas com o gelo e a neve, como o montanhismo e o esqui, mas também os ecossistemas e paisagens que atraem visitantes.

Além disso, a falta de água resultante do derretimento do gelo pode causar escassez de recursos hídricos, afetando hotéis, resorts e outras infraestruturas que necessitam de água potável para funcionar.

Outros fenômenos climáticos como inundações, furacões e secas também geram graves impactos nos locais turísticos.

O problema também influencia a geração de empregos em cada localidade, que tende a desaparecer. Nas cidades e regiões que vivem exclusivamente do turismo, toda a cadeia é impactada.

Referência da notícia:

https://www.bbc.com/mundo/articles/c6ppjydm1r7o