Este país não existe: conheça o destino que nenhum mapa quer mostrar
Entre fronteiras disputadas e símbolos nostálgicos, existe uma terra esquecida que mantém tradições e uma identidade única. Conheça o 'país-fantasma', um local onde o tempo parou e a história nunca foi embora.
Imagine estar num país que é, mas não é. Confuso? É que, para todos à sua volta, exceto para si mesmo, o país não é real. Ou melhor, não é reconhecido. Parece impossível? Bem-vindo a Transnístria.
Transnístria, também conhecida como República Moldava da Transnístria, é um lugar curioso e cheio de contrastes. Localizado quase espremido entre a Moldávia e a Ucrânia, este território estreito ao longo do rio Dniestre declara-se independente desde 1990, mas nenhum país do mundo o reconhece oficialmente.
Aqui existe um governo próprio, moeda, exército, passaporte, matrículas e até um hino nacional — mas são inúteis para o resto do mundo. É que, oficialmente, Transnístria não está no mapa, portanto, todos estes símbolos só são úteis ali mesmo.
“Entrar aqui, é como entrar em um portal para um universo paralelo saído de um livro de ficção política”, garante uma visitante. “Não aceitam cartões e também não aceitam dinheiro da Moldávia nem da Romênia. Foi um "parto" comprar água”, continua a expor a sua experiência.
Por outro lado, quem nasceu ali tenta explicar a situação. “Nasci na Transnístria e tenho nacionalidade moldava como todos os que nascem lá. Teoricamente, a Moldávia é o único país que reconhece o país e tudo o que provém dele.” Ainda assim, as autoridades moldavas admitem que não têm qualquer controlo sobre a região.
A maioria da sua população, cerca de 500 mil habitantes, tem dupla ou tripla nacionalidade, seja russa, moldava ou ucraniana.
Um passado soviético
A Transnístria está localizada no oeste da Moldávia, um país que fez parte da União Soviética desde 1940 até a sua dissolução no início da década de 1990.
O conflito armado entre as forças separatistas da Transnístria e o governo moldavo não durou muito, mas deixou um legado de tensões étnicas e políticas na região, várias centenas de mortos e a intervenção do exército russo. Aliás, desde o cessar-fogo, em julho de 1992, cerca de 1,5 mil soldados russos foram destacados para "manter a paz" no território.
Com o fim do conflito, a Transnístria declarou a sua independência. Mas apenas outras regiões com disputas semelhantes — como a Abcásia, Nagorno-Karabakh e Ossétia do Sul — reconhecem o seu status.
Hoje, por exemplo, na capital regional — Tiraspol, com os seus 130 mil habitantes — não faltam ruas com nomes de figuras comunistas ou datas importantes da era soviética. Em frente ao edifício do Parlamento local, de estilo brutalista, há até uma grande estátua de Lenin.
É verdade, a Transnístria é famosa pela sua atmosfera de tempos soviéticos. Aliás, poderá ver bandeiras com a foice e o martelo, e prédios públicos com aquele ar robusto e geométrico da arquitetura soviética.
No entanto, apesar de toda a nostalgia, a população não é particularmente "soviética" no modo de vida; trata-se mais de um orgulho cultural e de uma identidade própria do que de uma real prática ideológica. As moedas locais, os rubos transnistrianos, são uma raridade colecionável: em vez de notas, muitos valores vêm em moedas de plástico. E, claro, não podem ser trocadas em mais lado nenhum.
Um destino preso no tempo
Ao entrar em Transnístria conseguirá perceber porque é que se diz que aqui o tempo parece andar devagar. Afinal, as pessoas levam a vida num ritmo bem mais tranquilo do que aquele a que podemos estar habituados.
A capital, Tiraspol, tem algumas avenidas largas, uns quantos monumentos e uma sensação de cidade “parada no tempo”, que encanta turistas à procura de uma experiência fora do comum. Não é à toa que muitos visitantes descrevem a Transnístria como um “museu vivo da União Soviética”.
Além disso, como o território está “preso no tempo” (e nas disputas de fronteiras), não é incomum que turistas relatem experiências um pouco peculiares ao passar pela fronteira ou ao tentar comunicar com os habitantes, que falam principalmente russo.
Uma identidade marcada
Mas não se deixe enganar com todas estas indecisões. Apesar do seu estatuto indefinido e dos inúmeros desafios, a Transnístria tem uma identidade bastante forte, e quem lá vive parece determinado a manter viva esta versão particular da sua história.
Ao visitar, vá preparado para uma viagem que é quase uma cápsula do tempo: as memórias do passado, as peculiaridades do presente e o mistério sobre o futuro criam um lugar que é, ao mesmo tempo, leve e fascinante — e que certamente não encontrará em mais lado nenhum.