Estrela ficou 1.000 vezes mais brilhante em 1937 e agora sabemos o motivo

Um evento em 1937 chamou a atenção dos astrônomos, e é possível que finalmente tenha surgido uma explicação para tal fenômeno. Veja aqui mais informações.

Uma estrela ficou 1000 vezes mais brilhante em 1937 e agora temos a resposta do motivo.
Uma estrela ficou 1000 vezes mais brilhante em 1937 e agora temos a resposta do motivo.

Um evento em 1937 chamou atenção de astrônomos do mundo inteiro que mal sabiam que o mistério permaneceria por muitas décadas. Uma estrela localizada na constelação de Órion ficou 1000 vezes mais brilhante de repente. Essa foi uma das primeiras observações de estrelas que aumentavam o brilho de repente que parecia não ter explicação.

Por décadas, os astrônomos encontraram estrelas com fenômenos semelhantes e a busca por uma explicação começou a ser o interesse de grupos de pesquisa. Essas estrelas ficaram conhecidas como FU Orionis que faz referência ao nome da estrela de 1937, Orionis North. O que chamou atenção é que esse comportamento parecia estar associado apenas à estrelas velhas enquanto as FU Orionis são novas.

Com novos dados do observatório ALMA, grupo de astrônomos publicou um artigo na revista The Astrophysical Journal argumentando que encontraram o motivo desses eventos. Segundo o artigo, essa é a primeira vez que dados observacionais do processo que causa o aumento do brilho foram capturados. E uma explicação física se tornou possível.

Estrelas FU Orionis

Um par de estrelas com massas de 0,6 massas solares e 1,2 massas solares está localizado na constelação de Órion. As estrelas recebem o nome de Orionis North e Orionis South, respectivamente. Elas chamaram atenção em 1937 quando a estrela Orionis North ficou cerca de 1000 vezes mais brilhante de repente. Desde então, astrônomos começaram a buscar explicação para o fenômeno.

Nenhuma estrela FU Orionis observada retornou ao brilho original mesmo sendo esperado que o evento dure apenas algumas décadas.

Estrelas que tiveram eventos parecidos receberam o nome de estrelas FU Orionis em homenagem ao par de 1937. Essas estrelas chamam atenção por serem estrelas com alguns milhões de anos e muito jovens. V1647 Orionis foi uma FU Orionis que o fenômeno aconteceu em 2004 e é um dos objetos estudados também.

ALMA

O observatório ALMA localizado no Chile foi construído como uma ferramenta revolucionária para a Astronomia. Ele possui 66 antenas com o conjunto principal tendo um diâmetro de 12 metros. As 66 antenas atuam em conjunto como um grande interferômetro para observar ondas de rádio. O ALMA observa o céu o dia inteiro durante todo o ano.

Uma das grandes observações que destacou a importância do ALMA foi a foto do buraco negro M87*. Graças ao ALMA dentro do projeto que tinha objetivo fotografar um buraco negro, a foto foi possível e divulgada em 2019. Além do destaque na Ciência, o ALMA também é um sítio de turismo que atrai muitos turistas em visitação.

Sem explicação

As estrelas FU Orionis chamam atenção justamente por serem estrelas muito jovens com alguns milhões de anos. A variação de brilho não é algo incomum em estrelas mas esse processo geralmente acontece no final da vida de uma estrela. Durante o final da vida, a estrela possui variações no brilho que podem aumentar ou diminuir dependendo do estágio.

Uma estrela FU Orionis chamada V1647 Orionis
Uma estrela FU Orionis chamada V1647 Orionis que foi observada em 2004. Credito: NASA

Isso acontece porque a estrela expande quando o combustível de hidrogênio acaba, nesse estágio ela se torna uma gigante vermelha. O brilho que uma gigante vermelha terá depende da massa que a estrela tinha antes de iniciar o processo. No estágio de gigante vermelha, camadas de gases escapam da superfície da estrela variando o brilho.

Disco de acreção

Quando falamos de disco de acreção, é natural pensarmos logo nos famosos discos de acreção de buracos negros. Essas estruturas recebem esse nome porque são verdadeiros discos de material, geralmente plasma, que está espiralando em direção a um objeto central. Qualquer objeto que tenha um campo gravitacional forte o suficiente, pode ter um disco de acreção.

Por isso, discos de acreção são consideravelmente comuns de encontrar em estrelas e material que está espiralando em direção a elas. Isso acontece principalmente em estrelas mais jovens que o resto de material que formou a estrela pode ficar em formato de disco ao redor dela. Há uma dinâmica complexa entre o objeto central e o disco de acreção.

Fim de um mistério

Os pesquisadores do ALMA utilizaram os dados de observação do observatório para mapear o monóxido de carbono (CO) em torno da FU Orionis de 1937. Eles encontram um filamento de CO que descreve um modelo de acreção em torno da estrela. Porém, o filamento não é massivo o suficiente para ter causado uma variação no brilho.

A ideia é que o filamento seja um resquício de um evento passado que desestabilizou o disco de acreção. Ao desestabilizar, mais material caiu em direção à estrela fazendo o brilho aumentar consideravelmente. O brilho do disco e do objeto depende da taxa de acreção que o objeto central tem.

Referência da notícia:

Hales, A. S. et al. Discovery of an Accretion Streamer and a Slow Wide-angle Outflow around FU Orionis The Astrophysical Journal, 966, 2024.