Existe um gás no Ártico que poderia neutralizar o efeito estufa?
Dados armazenados em núcleos de gelo há mais de 55 anos, trazem uma nova visão para determinar se o sulfeto de dimetila funciona como um gás anti-estufa
A intensidade e a taxa de degelo durante o penúltimo derretimento do gelo foram muitos maiores do que se pensava anteriormente. De acordo com estudos recentes, neste cenário de mudança climática, a instabilidade das camadas de gelo marinhas - aquelas que fluem diretamente para o oceano - foi fundamental para acelerar o aquecimento global.
O sulfeto de dimetila tem sido apontado como capaz de neutralizar os impactos das mudanças climáticas, embora seus efeitos sejam complexos. Os pesquisadores modelaram dados da camada de gelo do sudeste da Groenlândia para fornecer informações a respeito dessa molécula e seus efeitos no clima global.
Como essa substância se comporta no ecossistema?
O sulfeto de dimetila é uma pequena molécula liberada pelo fitoplâncton no oceano. Essa substância pode desempenhar um papel importante na regulação do clima da Terra, pois incentiva a formação de nuvens acima do mar, que bloqueia a radiação do Sol e reduz as temperaturas da superfície do mar. Por isso a molécula é rotulada como um gás anti-estufa.
No entanto, devido a algum calor retido na atmosfera, os seus efeitos são complexos. Esta nova investigação, publicada na Communications Earth & Environment, identificou evidências de que o aumento das emissões de sulfeto de dimetila é atribuído ao recuo do gelo marinho da Groenlândia à medida que o planeta esquenta.
Os pesquisadores mediram os níveis da molécula ao longo de 55 anos, quantificando o composto de ácido metanossulfônico (MSA) em amostras de gelo do sudeste da camada de gelo da Groenlândia.
O sulfeto dimetila produz diretamente MSA, o que significa que pode ser utilizado como um registro estável dos níveis da molécula. A equipe recriou o fluxo anual e sazonal de MSA de 1960 a 2014 em uma resolução mensal, descobrindo que os níveis de MSA diminuíram entre 1960 e 2001, mas aumentaram após 2002.
O professor assistente Sumito Matoba explicou: “Descobrimos que os fluxos de MSA de julho a setembro foram três a seis vezes maiores entre 2002 e 2014 do que entre 1972 e 2001. Atribuímos isso ao recuo anterior do gelo marinho nos últimos anos”.
Dados de satélite foram usados para confirmar as descobertas
Os especialistas empregaram dados de satélite para analisar os níveis de clorofila-a no gás circundante, um indicador do fitoplâncton. Isso apoiou bem suas descobertas, pois os níveis de clorofila-a se correlacionaram com as emissões de sulfeto de dimetilo produzidas pelo fitoplâncton.
Os efeitos da mudança climática são especialmente severos no Ártico, fazendo com que a região aqueça a uma taxa quase 4 vezes mais rápida que o resto do planeta. Muitas áreas marinhas que costumavam ser cobertas por gelo durante todo o ano agora estão livres de gelo no verão.
As temperaturas do Ártico estão subindo com o dobro da velocidade da média global. Com o gelo sazonal do verão diminuindo significativamente nas últimas décadas, o que aumenta a quantidade de luz que atinge o oceano, ocorre o crescimento do fitoplâncton. Outro aspecto afetado pelo aumento da temperatura global, é a intensificação do derretimento de gelo, que por sua vez torna as geleiras mais finas.
Embora as descobertas destaquem o aumento do sulfeto de dimetila, a equipe explicou que o monitoramento contínuo e de longo prazo dos aerossóis, é essencial para entender os impactos das mudanças climáticas.
Embora os resultados mais recentes da equipe de Hokkaido adicione uma confirmação importante das mudanças nos níveis de sulfeto de dimetila, Matoba enfatiza que é necessário um monitoramento contínuo e de longo prazo dos aerossóis. "Isso será essencial para acompanhar o impacto atual e prever os impactos futuros das emissões de sulfeto de dimetila no clima global", diz ele.