Fenômeno La Niña em processo de formação
Há algum tempo que o modelo CFSv2 aponta para um cenário de águas frias na região equatorial do Pacífico caracterizando o fenômeno La Niña. O processo de resfriamento começou. Quais fatores contribuem? Será uma La Niña clássica?
Aproximadamente 70% do nosso planeta é coberto por água, sendo assim, apenas 30% se trata de terras emersas. Essa condição, por si só, já nos mostra que os oceanos tem um peso maior quando se trata de fatores influentes na circulação geral da atmosfera.
Além disso, pelo fato de esses 70% não serem distribuídos de forma homogênea pela Terra, com extensões de água maiores que outras, alguns oceanos acabam influenciando globalmente e outros de forma mais local. Como é o caso do Pacífico, onde na sua porção equatorial, que vai do norte da Oceania até a América do Sul, se dão os fenômenos El Niño e La Niña, que influenciam diretamente na circulação da atmosfera através das Células de Hadley e de Walker, impactando regime de chuvas da América do Sul, América do Norte, da Oceania e do leste da Ásia.
Fazendo um paralelo com o Oceano Atlântico, a temperatura das águas da superfície na sua porção equatorial acaba influenciando na posição da Zona de Convergência Intertropical, que por sua vez afeta o regime de chuvas na faixa norte da Região Nordeste e dos estado do Pará e do Amapá, não trazendo impactos de maneira global. Assim, é compreensível a maior atenção que se dá quando há previsão ou expectativa de formação de qualquer um dos cenários estabelecido pelo El Niño Oscilação Sul (ENOS).
A formação e o estabelecimento do La Niña de 2020
Desde o início do ano, as simulações já vinham apontando uma redução das temperaturas nas regiões Niño 3.4 e Niño 1+2 a partir do outono atingindo anomalias abaixo de -0,5°C já no inverno. Essa condição vem se mantendo desde então trazendo um cenário de alta probabilidade de ocorrência se levado em consideração o modelo CFSv2.
No entanto, análise somente da previsão de um modelo climático não é o suficiente, aliás, se trata de uma simulação numérica que possui várias aproximações e, mesmo sendo a melhor ferramenta de previsão, é preciso se certificar se está “enxergando” um cenário razoável. Por esse motivo se faz necessária a análise das condições atuais para estabelecer uma condição inicial e os fatores que podem promover a modificação ao longo do próximos meses.
Através da variável anomalia de temperatura da superfície do mar (SST), pode-se observar que a região equatorial do Pacífico está aquecida com valores acima de 0,5°C. No entanto, quando se fala sobre os 0,5°C, tanto acima quanto abaixo da média, nesta região, estamos falando de uma condição média que deve persistir por 5 meses para se classificar como El Niño ou La Niña, e de 2 a 3 meses para essa condição surtir efeitos no Brasil. Em resumo, estamos em neutralidade em relação ao ENOS.
No entanto, essa não é a condição mais importante. No mesmo mapa de SST é possível notar dois bolsões de águas frias: um próximo à costa oeste dos EUA e o outro no Pacífico Sul. Essas regiões correspondem às de atuação das correntes marítimas da Califórnia e de Humboldt, que convergem para a porção equatorial e acabam por transportar as águas mais frias e iniciar o processo de resfriamento das regiões Niño 3.4 e Niño 1+2. Situação mostrada na no gráfico de condições registradas do NCEP e de previsão do modelo CFSv2.
Assim, espera-se que as temperaturas atinjam valores médios abaixo de 0,5°C para ambas as regiões por volta de Junho persistindo até o final do ano, se tratando de um fenômeno La Niña clássico ou canônico, com impactos durante a primavera e parte do verão.