Conheça o fungo que ameaça a produção global de bananas e o que o Brasil precisa saber
O fungo FOCr4t, responsável pela devastação de plantações de bananas ao redor do mundo, ameaça o Brasil. Sem medidas preventivas, a economia e a segurança alimentar do país podem sofrer impactos significativos.
A banana, uma das frutas mais consumidas no mundo, enfrenta uma ameaça significativa devido a uma nova variante do fungo Fusarium oxysporum conhecida como Tropical Race 4 (TR4). Este fungo tem o potencial de devastar plantações de banana, colocando em risco tanto a segurança alimentar quanto a economia de muitos países, incluindo o Brasil.
Até a década de 1950, a banana mais consumida no mundo era a Gros Michel. No entanto, essa variedade foi praticamente exterminada pela Fusarium oxysporum raça 1, um fungo que bloqueava o sistema vascular das plantas, impedindo o transporte de água e nutrientes, levando ao colapso das plantações. Em resposta, a indústria substituiu a Gros Michel pela variedade Cavendish, que era resistente à raça 1.
Porém, nas últimas décadas, uma nova cepa do fungo, o TR4, emergiu e começou a infectar as plantações de Cavendish. Esta cepa é mais agressiva e pode devastar plantações inteiras, como aconteceu com a Gros Michel.
O mecanismo de ação do TR4
A pesquisa recente publicada na Nature Microbiology revelou que o TR4 tem uma origem evolutiva distinta da raça 1, e que ele usa uma estratégia única para infectar as plantas. Quando o TR4 ataca a banana Cavendish, ele desencadeia a produção de óxido nítrico, um gás tóxico para a planta.
Esse gás desativa o sistema de defesa da banana, facilitando a infecção. Além disso, o fungo se protege aumentando a produção de compostos que neutralizam o óxido nítrico, permitindo que ele continue a infectar a planta.
A situação no Brasil
O Brasil é o quarto maior produtor de bananas do mundo, com destaque para as regiões Nordeste, Sudeste e Norte, que concentram as maiores produções. A banana é uma cultura vital para a economia de várias regiões, sendo uma importante fonte de renda para pequenos agricultores.
Até o momento, o TR4 não foi detectado no Brasil, mas sua presença já foi confirmada em países vizinhos como Colômbia, Peru e Venezuela, o que aumenta a preocupação com sua possível entrada no território brasileiro.
Além disso, o uso intensivo de fungicidas, que já é uma prática comum para controlar outras doenças como a Sigatoka-negra, poderia aumentar ainda mais, trazendo consequências negativas para o meio ambiente e para a saúde dos trabalhadores rurais.
Medidas de prevenção e a importância da diversificação
Para evitar que a história da Gros Michel se repita, é essencial que o Brasil adote medidas preventivas rigorosas. Isso inclui o controle da movimentação de materiais agrícolas entre regiões e a pesquisa contínua para o desenvolvimento de variedades de banana que sejam resistentes ao TR4.
A diversificação genética das plantações de banana é outra estratégia importante. Atualmente, quase todas as bananas comercializadas pertencem à variedade Cavendish, que é estéril e propagada por clonagem. A dependência de uma única variedade torna a indústria altamente vulnerável a novas pragas e doenças. Investir em pesquisas para encontrar e cultivar novas variedades de banana que sejam mais resistentes pode ser uma solução de longo prazo.
O Fusarium TR4 representa uma ameaça real e iminente para a produção global de bananas, e o Brasil não está imune a esse perigo. Com a proximidade geográfica de países já afetados e a importância econômica da banana no país, é crucial que medidas de prevenção e pesquisa sejam priorizadas. Além disso, a diversificação das plantações pode ajudar a mitigar os riscos e assegurar que essa fruta tão popular continue disponível e acessível para as futuras gerações.
Referência da noticia:
Zhang, Y., Liu, S., Mostert, D., Yu, H., Zhuo, M., Li, G., ... & Ma, L. J. (2024). Virulence of banana wilt-causing fungal pathogen Fusarium oxysporum tropical race 4 is mediated by nitric oxide biosynthesis and accessory genes. Nature Microbiology, 1-12.