Fumaça das queimadas na Austrália devem dar a volta ao mundo
A fumaça e aerossois produzidos na Austrália tomaram proporções globais. A formação de tempestades de fogo fizeram com que a fumaça e partículas alcançassem a estratosfera e se espalhassem ao redor do Hemisfério Sul, podendo completar uma volta no globo.
Os efeitos das queimadas na Austrália tomaram proporções globais, para muito além do território do país. Já era esperado que o CO2 emitido pelos incêndios impactaria o balanço de energia da Terra, podendo agravar o aquecimento global via aumento do efeito estufa. No entanto, a NASA divulgou um vídeo nessa semana que a fumaça e os aerossóis produzidos na Austrália estão se espalhando por todo Hemisfério Sul e devem completar uma volta completa, retornando ao país de origem.
Como isso pode acontecer?
A combinação do calor anômalo e uma seca histórica na Austrália propiciou a formação, sem precedentes, de grande número de Pyrocumulonimbus (pyrCbs). Essa formação de nuvem de tempestade é induzida pelo fogo. O extremo calor produzido pelo fogo aquece a massa de ar próxima à superfície, a tornando menos densa (mais leve) e forçando sua subida. Quando essa massa de ar sobe, ela leva consigo cinzas, fumaça e material queimado e nuvens se formam quando esse material esfria, mas sem precipitação. Dessa forma, as PyrCbs são nuvens altas, e no caso das produzidas na Austrálias, chegaram a 16 km de altitude, atingindo a estratosfera.
A estratosfera é a camada da atmosfera acima da camada mais próxima à superfície terrestre. É nela que está a camada de ozônio, que nos protege da radiação solar ultra-violeta (UV). Uma vez na estratosfera, a fumaça é transportada muito mais rapidamente para outras partes do globo, seguindo o jato de altos níveis na direção leste. Por essa razão a fumaça veio direto para a América do Sul, e não no sentido oposto. A fumaça e aerossóis da Austrália já viajaram milhões de quilômetros e podem influenciar o tempo pelos lugares onde passa.
A NASA ainda segue o monitoramento e as investigações intensivas de como essa fumaça irá impactar a dinâmica e química de nossa atmosfera. Não se sabe se esse excesso de fumaça e aerossóis causará aquecimento ou resfriamento global. Por um lado temos o aumento do efeito estufa pelo excesso de CO2 e outros gases estufa produzidos pela queima. Por outro, os aerosóis provenientes das cinzas e queima de materiais podem causar um resfriamento. Os aerossóis aumentam a formação de nuvens que ajudam a refletir os raios solares e diminuir a quantidade de calor que chega à superfície terrestre.
Como medimos o trajeto da fumaça?
As imagens foram produzidas com a combinação dos dados medidos por dois instrumentos a bordo do satélite Estadunidense Suomi, mantidos pelas Agências Americanas de Ciências Espaciais (NASA) e de Oceano e Atmosfera (NOAA). Um dos instrumentos mede a "cor verdadeira" da fumaça através das medidas de radiação na faixa do visível. O outro faz medidas na faixa de radiação ultra-violeta, permitindo a detecção dos aerossóis, permitindo uma visão mais completa das nuvens e suas características. Outros satélites como o CALIPSO e MODIS estão sendo usados para coletar mais informações sobre a composição das nuvens formadas.