Genes fantasmas: conheça o caso de africanos ocidentais com herança de um antigo hominídeo
Os nossos genes são como heranças de gerações passadas, mas já imaginou herdar genes tão antigos como os de um hominídeo fantasma? Conheça a história de africanos ocidentais.
Você já ouviu falar em hominídeos? Um nome um tanto quanto estranho, mas que denomina nossas mais antigas origens. O termo descreve humanos e os ancestrais extintos como os Australipithecus, em que o único representante dos hominídeos ainda vivo é o Homo sapiens sapiens, ou seja, nós. Ou seja, um hominídeo é um grupo dentro da ordem dos primatas. Dentro desse legado de genes estão chimpanzés, gorilas, orangotangos e os humanos.
Mas o tema chamou a atenção recentemente por conta de uma descoberta sobre um possível legado genético deixado para os atuais africanos ocidentais, mas o intrigante é que a população antiga e humana que deixou esse legado ainda não foi descoberta em fósseis, e por isso foram considerados genes fantasmas.
O que se sabe até o momento é que a herança genética foi passada pelos parentes extintos para ancestrais africanos dos povos iorubá e mende modernos, o que começou há 124 mil anos atrás ou até mais que isso, segundo relatos dos geneticistas da UCLA Arun Durvasula e Sriram Sankararaman. Porém, eles ressaltam algumas diferenças sobre o DNA sobrevivente de tal modo que levanta a diferença entre neandertais e denisovanos e um hominídeo antigo, tornando-o com poucas chances de ser a fonte dos genes fantasmas.
O mistério de transmissão de DNA
No dia 12 de fevereiro de 2023, cientistas publicaram na Science Advances, um estudo sobre os genomas dos grupos Yoruba e Mende que contêm de 2 a 19% do material genético dessa misteriosa “população fantasma”. O mais interessante é a influência sobre algumas funções aumento da sobrevivência, incluindo a supressão de tumores e a regulação hormonal atual graças ao DNA transmitido pelas misteriosas espécies Homo lá atrás. A suspeita é que esses genes antigos se espalharam entre os africanos ocidentais modernos de forma bem rápida, mas por qual motivo?
Bom, são diversas possibilidades, mas nada que seja muito específico somente de africanos, isso porque segundo Durvasula e Sankararaman, o DNA de chineses Han em Pequim, bem como residentes de Utah com ascendência do norte e oeste da Europa, também mostraram sinais de ancestralidade da antiga população fantasma, porém, não foram estudados tão a fundo como os africanos ocidentais, então não tem como fazer muitas correlações, o que deixa a desejar sobre a descoberta.
Outro fato importante é que não é somente esse tal hominídeo que desempenhou um papel nessa herança genética dos povos africanos, por exemplo, nesse novo relatório publicado também foram consideradas outras evidências sobre o cruzamento de povos antigos com diversas outras espécies de Homo, o que acabou gerando um papel muito importante na evolução dos africanos ocidentais.
Aliás, você sabia que depois de deixar a África cerca de 60 a 80 mil anos atrás, grupos de H. sapiens cruzaram com neandertais europeus antes de levar o DNA neandertal de volta à África, a partir de cerca de 20 anos anos atrás? Isso foi relatado por outro grupo de estudiosos em 30 de janeiro de 2020 em uma pesquisa parecida.
O poderoso DNA de neandertais
Nesse estudo de 2020, os cientistas descobriram que o DNA neandertal representa, em média, cerca de 0,5% dos genomas dos africanos individuais, ou seja, muito mais do que o relatado em estudos anteriores. A maioria das pessoas de hoje que vivem fora da África carrega cerca de três vezes mais DNA neandertal do que os africanos.
Segundo o geneticista Iain Mathieson, da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia (que não participou do novo estudo), o DNA do hominídeo fantasma e o DNA do Neandertal parecem ter feito incursões separadas entre o H. sapiens africano mais ou menos na mesma época. O que levanta a hipótese de que embora humanos antigos que voltaram para a África já pudessem ter acasalado com membros da antiga população fantasma, “é mais provável que o cruzamento tenha acontecido na África”, diz Sankararaman.
Sempre que se trata de DNA já é algo bastante complexo e único, imagina entender como essas trocas genéticas aconteceram sem nenhum fóssil da antiga população fantasma para extrair exemplos de seu DNA para o estudo concreto. Segundo o geneticista Pontus Skoglund, do Francis Crick Institute, em Londres, mesmo com as incertezas, o novo estudo é um bom argumento para a transmissão de DNA de uma população de hominídeos mal compreendida para os ancestrais dos africanos ocidentais de hoje.
Os pesquisadores Durvasula e Sankararaman fizeram a comparação de genomas de 405 africanos ocidentais, sendo mais da metade ioruba ou mende, com DNA antigo extraído de um fóssil neandertal da Europa Oriental de aproximadamente 44 mil anos e também de um fóssil Denisovan da Sibéria datado de pelo menos 51 mil anos atrás.
A partir de padrões nas mudanças de unidades únicas de DNA, ou SNPs, foi permitido que pesquisadores identificassem áreas nos genomas iorubá e mende que até então foram herdadas de uma linhagem de hominídeos antigos que não os neandertais e denisovanos. Essa população fantasma divergiu dos ancestrais diretos dos atuais iorubá e mende há mais de 1 milhão de anos, estimam os cientistas.