Guerra: Europa quer independência energética e descarbonização
A invasão da Rússia à Ucrânia tem provocado diversas destruições, violações e mortes. Além de tudo isso, quais serão as consequências dessa guerra? Será que em 2022 vai acontecer o boom mundial de 1973?
Em 1973, o boom mundial de crescimento chegou ao seu limite e teve seu fim no pós-guerra quando produtores de petróleo restringiram a oferta e aumentaram os preços.
Sabe-se, então, que grandes nações europeias, como a Alemanha, recorreram ao gás russo em uma substituição às usinas de carvão, o afastamento da energia nuclear após o desastre de Fukushima e o ponto em que as fontes renováveis de emissão zero e o armazenamento podem atuar como substituição total.
O gás que vem da Rússia
Em torno de 40% do gás da UE vem da Rússia, e a guerra na Ucrânia está ocorrendo em um momento em que boa parte do mundo estava se recuperando do caos energético devido às interrupções pandêmicas no transporte, o que elevou os preços da energia.
A cenário é complexo porque a invasão ocorreu poucos dias antes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgar um relatório sobre os impactos e a adaptação do clima regional, para reduzir os danos causados pelo uso de combustíveis fósseis.
Em 2019, o gasoduto Power of Siberia começou a transportar gás da Sibéria para a China. Por coincidência ou não, apenas algumas semanas antes da invasão, a Rússia anunciou um acordo para um novo oleoduto para a China.
A busca pela energia renovável pode ser acelerada
Em janeiro, o ministro do Clima e da Economia da Alemanha anunciou novas medidas para acelerar a implantação de energia renovável e a indústria de energia limpa. Mas será que a Europa conseguirá reduzir sua dependência do gás russo?
Existe um esforço para mudar para a geração renovável interdependente, como os parques eólicos offshore propostos para serem compartilhados por várias nações europeias. Porém, isso não está garantido.
A curto prazo, existe um enorme risco de que a crise na Ucrânia concentre a atenção na segurança energética em detrimento da descarbonização. Inclusive, podemos ver um retorno à energia do carvão, pois países como a Alemanha podem até ser forçados a repensar ou adiar sua eliminação nuclear.
Esforços climáticos internacionais afetados?
A Rússia já não tem participado voluntariamente nas negociações internacionais sobre o clima. Apesar disso, na preparação para a COP26, o país deu a entender que estaria aberto para adotar uma linha mais séria sobre a ação climática, onde Putin se comprometeu com a neutralidade de carbono até 2060.
A guerra obviamente impedirá isso de acontecer. Qualquer potencial para um maior envolvimento climático com a Rússia antes da próxima grande reunião climática no Egito no final deste ano está fora da mesa por enquanto, lembrando que a Rússia é um dos cinco maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo.
Ainda não se sabe o que a Rússia planeja fazer, mas a destruição direcionada de instalações nucleares, seja como arma ou um ato de dissuasão defensiva, provavelmente violaria o direito internacional.
Destruição ambiental é um crime de guerra
O documento fundador do Tribunal Penal Internacional observa que é um crime de guerra causar intencionalmente “danos generalizados, de longo prazo e graves ao ambiente natural”, assumindo que foi claramente excessivo em relação à vantagem militar obtida.
No ano de 2000, a Rússia assinou este documento, o estatuto de Roma, mas nunca ratificou acordo para se tornar membro. Em 2016, a Rússia anunciou sua retirada total do Tribunal Penal Internacional.
A comunidade internacional também chegou a um acordo histórico sobre a definição de ecocídio em 2021, ou seja, isso significa que é possível que o governo russo seja responsabilizado pelos impactos ambientais e humanitários de sua agressão.