Há 108 anos obteve-se a temperatura mais alta já medida
Em 10 de julho de 1913, no Vale da Morte, Califórnia (EUA), foi registada oficialmente a temperatura mais elevada da Terra, em um recorde que perdura até aos nossos dias. Embora ainda sirva como referência, este registro levanta controvérsias entre os meteorologistas.
Situado no deserto do Mojave, o Vale da Morte ainda ostenta o recorde de temperatura mais elevada jamais registada na Terra: 56,7°C em 10 de julho de 1913 - o reconhecimento destes valores de temperatura variam de entidade para entidade devido à fiabilidade dos dados.
Alguma controvérsia por falta de fiabilidade dos dados
108 anos depois deste impressionante registo, o recorde térmico suscita dúvidas entre as demais organizações científicas especializadas na recolha de dados climatológicos e meteorológicos, uma vez que este registo nunca chegou a ser duplamente verificado. Aliás, em 2013, exatamente um século depois, foi quebrado um novo recorde (pelo menos se tivermos em conta os registos desde 1931) no Vale da Morte, com os termômetros atingindo os 53,9°C.
Aliás, em uma tendência que parece sustentar o aquecimento do planeta, considerando apenas 7 anos, em 2020, a 16 de agosto, o recorde foi, de novo, ultrapassado (54,4°C), se tivermos em conta os dados registados desde 1931, recolhidos e verificados pela Organização Meteorológica Mundial.
O caso do Vale da Morte merece uma análise sólida
Com efeito, tal como muitos cientistas salientam, a verificação destes dados é essencial, já que no passado houve vários casos de medições que não foram comprovadas. Tenhamos como exemplo o caso de 1912, em El Azizia, na Líbia, com temperatura máxima de de 58°C. Em 2012, este recorde foi eliminado por falta de credibilidade nos registos. Assim, torna-se imperativo que os especialistas comprovem que este registo na Califórnia é real. Embora controverso, o registro de 10 de julho de 1913 (56,7°C) continua a ser validado por várias instituições de pesquisa e educação de prestígio, como o Smithsonian – no vídeo no item a seguir.
Se por um lado, Randy Cerveny, especialista em temperaturas extremas e professor na Universidade do Arizona, afirma que "tudo indica que é uma observação legítima", por outro, o meteorologista Bob Henson acrescenta que "é bem possível que o pico registrado em Death Valley tenha estabelecido um novo recorde de calor mundial. A natureza extrema do padrão climático circundante torna esta leitura plausível. O caso merece uma análise sólida".
O que despoleta estes valores absurdamente elevados no Vale da Morte?
O clima deste local extremo e agreste, sobretudo devido às temperaturas elevadas que ostenta, faz, nesta altura do ano – o verão – uma verdadeira homenagem ao nome que possui, sendo o Vale da Morte o lugar mais quente da Terra.
Quando o sol aquece o solo, o calor é refletido para cima, mas o ar denso, devido à baixa altitude, absorve parte dessa radiação e irradia parte dela de volta para o solo. Além disso, as vertentes íngremes do vale detêm o ar quente, o que faz com que este volte para o fundo do mesmo, onde é aquecido por compressão.
A profundidade e o relevo do Vale da Morte influenciam as temperaturas de verão. Este é uma bacia longa e estreita, situada a 86 metros abaixo do nível do mar, e é cercado por cordilheiras de elevada altitude e íngremes. O ar limpo e seco, assim como a cobertura vegetal dispersa, permitem que a luz solar aqueça a superfície do deserto.
As noites de verão, apesar de serem mais frescas, costumam registrar mínimas de 28 a 37°C. Assim, já não é de estranhar que devido à radiação solar, ao relevo e à cobertura vegetal, à estação do ano, e à latitude no qual o vale se insere, as temperaturas acabem por se revelar tão elevadas.