Há 35 anos uma misteriosa nuvem tóxica matava milhares em Camarões
1,7 mil pessoas e 3,5 mil animais foram mortos por uma nuvem de gás tóxico em agosto de 1986 no povoado de Nyos em Camarões. Os sobreviventes relataram cheiro de ovos podres e pólvora no ar e isso levou cientistas a encontrarem a causa.
Era dia 21 de agosto de 1986. Quando amanheceu, os moradores de vários vilarejos no noroeste de Camarões descobriram, ao despertar, que muitos dos seus amigos e vizinhos tinham morrido durante a noite. "Por volta das onze da noite acordei, mas não conseguia me levantar. Estava confuso, não entendia o que estava acontecendo", contou um sobrevivente.
O número total, no entanto, foi bem mais alto: nesse dia, 1.746 pessoas morreram depois de inalar gases tóxicos que vinham de um lago vulcânico, além de 3,5 mil cabeças de gado. Todas as vítimas se distribuíam em povoados ao redor do lago Nyos, próximo à fronteira do país com a Nigéria. O desastre foi tão grave que o presidente do país chegou a pedir ajuda internacional.
Investigações científicas foram feitas durante várias semanas para descobrir o que havia ocorrido. Foram chamados especialistas de todo o mundo para ajudar a desvendar o mistério. Um deles era o médico britânico Peter Baxter, que chegou à região cerca de duas semanas depois da tragédia.
George Kling, professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, também foi convidado para ajudar na investigação. "Quando chegamos ao lago Nyos, a cena era de dar frio na espinha. Todas as pessoas e todos os bichos estavam mortos", conta. "Predominava um silêncio, mas todas as construções estavam de pé, não parecia que tinha havido um furacão, uma inundação ou algo do tipo."
O que houve?
As evidências físicas indicavam que uma onda de uns 40 metros de altura tinha se formado em consequência de uma alteração na profundidade do lago. Mas era um mistério o que havia provocado a mudança - e o que havia causado a morte de centenas de moradores da região.
As informações que vinham da região diziam que havia ocorrido uma erupção vulcânica, e que gases vulcânicos tinham sido liberados. Mas havia algo estranho nisso, pois não houve uma explosão grande causada por uma erupção, ou a devastação que um evento desse tipo teria provocado.
Uma das testemunhas lembra: "Eu quase morri, mas aí decidi beber azeite. Logo depois vomitei algo negro, que fedia a algo como ovo ou pólvora." Foram esses cheiros que deram aos cientistas um sinal do que estavam procurando e que os levaram a achar que sabiam quem era o culpado: dióxido de carbono, milhares de toneladas desse gás, que teria sido liberado do fundo do lago e descido do vulcão até o vale mais abaixo.
De início, os cientistas pensaram se tratar de enxofre, que tem cheiro desagradável característico e é produzido em grandes quantidades pelos vulcões. Quando os cientistas foram ao lago e começamos a analisar as amostras, viram que na água não tinha enxofre, nem nas plantas que rodeavam o lago e que tinham sido expostas à nuvem de gás.
Era muito difícil entender essas descobertas. Até que os pesquisadores encontraram documentos antigos que falavam sobre pilotos de combate que haviam sido expostos a uma alta concentração de C02.
Tudo indica que o dióxido de carbono ficou em formação no fundo do lago durante vários anos. Como o lago é muito estratificado, ou seja, é muito fundo, e as camadas de cima não se misturam com as de baixo, o gás que se formou nas camadas de baixo estava preso. Isso fez com que se acumulasse com muita pressão. Os cientistas dizem que o mesmo efeito se produz quando agitamos uma garrafa de champanhe e depois tiramos a rolha.