Histórico! Primeira descida tripulada até a Fossa do Atacama

Na semana passada, os oceanógrafos chilenos Osvaldo Ulloa e Rubén Escribano deram um grande passo na conquista e conhecimento dos lugares mais profundos do planeta, ao descer na Fossa do Atacama junto com o experiente americano Víctor Vescovo.

Ulloa e Escribano, diretor e vice-diretor, respectivamente, do Millennium Institute of Oceanography no Universidade de Concepción, No Chile, passaram anos imaginando como seria a paisagem da Fossa do Atacama, uma reentrância impressionante que cai a mais de 8 mil metros de profundidade nas costas do Chile e do Peru.

Os detalhes da façanha

Em dois mergulhos separados, Ulloa primeiro e Escribano depois, junto com Vescovo, embarcaram em uma minúscula esfera de titânio coberta por uma espessa camada protetora de espuma sintética, conforme indicado pela BBC Mundo.

Apelidado de Limiting Factor, em homenagem aos romances ficcionais de Ian Banks, o submersível é a maravilha tecnológica que rotineiramente abre as portas para a exploração da chamada zona hadal dos oceanos, ou seja, tudo o que existe abaixo de 6.000 metros.

Cada uma das duas viagens durou um total de dez horas, para as quais os "aquanautas" tiveram que literalmente se desidratar na noite anterior, vestir roupas quentes e garantir que tivessem comida.

A descida até o ponto mais profundo do poço foi feita por Ulloa junto com Vescovo, em 20 de janeiro, em uma viagem que durou três horas e meia e chegou a 8.069 metros, segundo os mapas feitos no dia anterior. O segundo mergulho, feito por Escribano e Vescovo, atingiu a profundidade de 7.330 metros dias depois.

O experiente explorador americano Víctor Vescovo, que acompanhou os cientistas chilenos, já em 2019 tornou-se a primeira pessoa a visitar os cinco pontos mais profundos dos cinco oceanos pilotando um submersível especialmente construído para o efeito.

“Foi algo mágico, como pousar em outro planeta”

Em declarações à BBC Mundo, Ulloa, de 60 anos, disse que "esta foi a aventura da minha vida e o ápice da minha carreira como investigador em ciências marinhas".

Uma vez no fundo, Vescovo manobrou a espaçonave sobre um incrível terreno de vales, cordilheiras e outras formações rochosas que trarão informações importantes sobre a geologia característica desta região do planeta.

“Também ficamos impressionados com o grande número de pepinos-do-mar, uma espécie de pepino-do-mar que foi encontrada em outras fossas, mas que estava presente em abundância aqui”, diz Ulloa.

“Mas se há algo que eu, como microbiologista, queria nesta expedição, era encontrar tapete de colônias de micróbios existentes na Fossa do Atacama já a mais de 8.000 metros".

Dois dias depois Escribano desceu sozinho a 7.330 metros, explorando a vertente leste da fossa em busca de organismos mais abundantes.

"Foi algo mágico, como descer em outro planeta e ver as estruturas construídas por esses seres. Imaginei que fossem pequenas cidades feitas por vermes e crustáceos que fazem caminhos no sedimento", disse.