Histórico: um robô operado da Terra realiza a primeira cirurgia no espaço
O experimento demonstrou a viabilidade da cirurgia remota no espaço. Com isso, novas perspectivas se abrem para a medicina, tanto no espaço como aqui na Terra.
Pela primeira vez na história, um grupo de cientistas conseguiu operar a partir da Terra um robô cirúrgico localizado na Estação Espacial Internacional (ISS).
O robô cirurgião chama-se spaceMIRA e é semelhante a um braço. Mede apenas 76 cm e pesa pouco menos de 1 kg. Do laboratório em Lincoln (Nebraska), seis médicos o operaram remotamente e o robô conseguiu fazer corretamente as incisões cirúrgicas planejadas.
Neste primeiro experimento, o robô não operou um ser humano real, mas sim fez os cortes em faixas elásticas que simulavam tecidos, músculos, tendões e vasos sanguíneos humanos. As faixas estavam dentro de um armário experimental do tamanho de um micro-ondas.
Os médicos na Terra tiveram que superar dois grandes desafios. A gravidade zero e o pequeno atraso na resposta, já que, devido à distância de 400 km da Estação, o robô responde aproximadamente meio segundo após a ordem ser emitida da Terra. Isso obrigou os médicos a recalcular suas manobras.
“Podíamos ver a mão esquerda segurando um alicate e a direita com uma tesoura. Conseguimos segurar as faixas, pegar a tesoura e cortá-las”, explicou Shane Farritor, diretor de tecnologia da empresa. “Foi uma pequena faixa elástica, mas um grande passo para a cirurgia”, disseram os médicos, sob aplausos, quando a intervenção terminou.
O spaceMIRA é uma evolução do MIRA, o primeiro dispositivo miniaturizado de cirurgia assistida por robô (miniRAS). O diferencial dos dois modelos, segundo a própria empresa, é o tamanho reduzido e a portabilidade, que busca tornar a cirurgia remota mais simples e acessível. Não apenas no espaço, mas também na Terra.
Longa vida no espaço: preparativos
Os humanos habitam a ISS há duas décadas. Os astronautas geralmente tem uma saúde muito boa quando deixam a Terra, por isso as suas consultas médicas remotas quase nunca apresentam problemas físicos graves.
Mas os tempos estão mudando. Conforme a tecnologia permitir, as viagens espaciais serão mais longas e a permanência em corpos celestes serão mais prolongadas. Assim a questão do fornecimento e prestação de serviços é cada vez mais uma prioridade para as agências espaciais.
No entanto, tal como acontece com muitas inovações, esta nova tecnologia para cirurgia remota tem aplicações potenciais que vão muito além da conquista espacial.
“A cirurgia remota pode impactar potencialmente os cuidados de saúde no espaço e em todo o mundo. Só nos Estados Unidos, um terço dos condados não tem atualmente acesso a um cirurgião local, e a escassez de cirurgiões poderá aumentar para mais de 30.000 nos próximos dez anos”, informa o site Virtual Incisión.
O presidente da empresa, John Murphy, confirmou esta ideia: “Por mais emocionante que seja ter a nossa tecnologia no espaço, esperamos que o impacto desta investigação seja mais notável na Terra”.
A missão de demonstração tecnológica 2024 é financiada pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) e pela Universidade de Nebraska, através do Programa Estabelecido para Pesquisa Competitiva (EPSCoR).