Hubble bate recorde e detecta a estrela mais distante já vista
O telescópio espacial mais famoso, o Hubble da NASA, detectou a luz de uma estrela que existiu nos primeiros bilhões de anos após o nascimento do universo no Big Bang, tornando-se a estrela individual mais distante já vista até hoje.
A descoberta é um grande salto na exploração do universo, mas também na descoberta da história do cosmos. A estrela recém-detectada está tão distante que sua luz levou 12,9 bilhões de anos para chegar à Terra, o que significa que a luz foi emitida quando o universo tinha apenas 7% de sua idade atual. Os cientistas apelidaram essa estrela de Earendel, que significa "estrela da manhã" em inglês antigo.
"Earendel existiu há tanto tempo que pode não ter as mesmas matérias-primas que as estrelas que nos cercam hoje", disse o astrônomo Brian Welch, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, principal autor do artigo que descreve a descoberta. “Estudar Earendel será uma janela para uma era do Universo que não conhecemos, mas que levou a tudo o que sabemos. É como se estivéssemos lendo um livro realmente interessante, mas começamos com o segundo capítulo e agora teremos a oportunidade de ver como tudo começou”.
A equipe de pesquisa estima que Earendel tenha pelo menos 50 vezes a massa do nosso Sol e milhões de vezes mais brilhante, competindo com as estrelas mais massivas conhecidas. Mas, mesmo uma estrela tão brilhante e de grande massa seria impossível de ver a uma distância tão enorme sem a ajuda da ampliação natural de um enorme aglomerado de galáxias, neste caso conhecido como WHL0137-08, que se localiza entre nós e Earendel. A massa do aglomerado de galáxias distorce o tecido do espaço, criando uma poderosa lupa natural que distorce e amplifica muito a luz de objetos distantes atrás dela.
O telescópio Hubble também foi quem detectou a estrela mais antiga anterior em 2018. Essa enorme estrela azul apelidada de "Ícaro" existia quando o universo tinha cerca de 4 bilhões de anos, ou 30% de sua idade atual, em uma época que os astrônomos chamam de “desvio para o vermelho de 1.5 (redshift)”. Os cientistas usam o termo "desvio para o vermelho" porque, à medida que o universo se expande, a luz dos objetos distantes é esticada ou “deslocada” para comprimentos de onda mais longos e mais vermelhos à medida que viaja em nossa direção. Earendel tem um desvio para o vermelho de 6.2, muito mais do que a descoberta anterior, mas não deve ser confundida com a estrela mais antiga conhecida, que é outra apelidada de “Matusalém” e foi descoberta pelo Hubble em 2013.
Daqui para frente
A composição de Earendel será de grande interesse para os astrônomos, porque se formou antes que o universo estivesse cheio de elementos pesados produzidos por sucessivas gerações de estrelas massivas. Se estudos de acompanhamento descobrirem que Earendel é composta apenas de hidrogênio e hélio primordiais, seria a primeira evidência das lendárias estrelas da População III, que se supõe serem as primeiras estrelas nascidas após o Big Bang. Embora a probabilidade seja pequena, Welch admite que é tentadora.
Os astrônomos esperam que Earendel permaneça altamente grande nos próximos anos. Será observada pelo telescópio espacial James Webb da NASA. A alta sensibilidade do Webb à luz infravermelha é necessária para aprender mais sobre Earendel, porque sua luz é esticada (desvio para o vermelho) para comprimentos de onda infravermelhos mais longos devido à expansão do universo.
“Com o Webb, esperamos confirmar que Earendel é de fato uma estrela, além de medir seu brilho e temperatura”, disse a NASA. Esses detalhes restringirão a investigação de seu tipo e seu estágio no ciclo de vida estelar. "Também esperamos descobrir que o Arco do Amanhecer não possui os elementos pesados que se formam nas gerações posteriores de estrelas. Isso sugeriria que Earendel é uma estrela rara, massiva e pobre em metais”, esclareceram.