Importante atualização sobre o La Niña: "fenômeno pode não se formar neste ano", aponta a climatologista Paola Bueno

As atualizações dos modelos climáticos seguem pessimistas em relação a chegada do La Niña em 2024! As novas previsões mostram que o La Niña será fraca entre a primavera e o verão ou pode não se formar!

Previsão La Niña
Previsão de anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do modelo NMME para o trimestre de primavera austral (setembro, outubro e novembro). Fonte: CPC/NOAA.

Em um piscar de olhos o mês de julho está acabando e estamos entrando em agosto, último mês de inverno do Hemisfério Sul. Com isso, nós já começamos a pensar e estipular como será o clima no Brasil durante a primavera, quando a estação chuvosa retorna em grande parte do Brasil e as temperaturas voltam a se elevar.

Um dos principais padrões de teleconexões esperados para a primavera é o La Niña que, como mencionado em artigo anterior, teve sua chegada postergada pelos modelos de previsão nas últimas atualizações e, ao que tudo indica, deverá emergir em meados da primavera, entre os meses de setembro e outubro. Mas vale ressaltar que alguns modelos deixaram de acreditar na formação do La Niña neste ano, como veremos a seguir, o que nos faz ainda ter incertezas!

Além das incertezas em relação a sua chegada, os modelos também não estavam muito certos a respeito da intensidade que este evento de La Niña poderia alcançar. Porém, nas últimas semanas os modelos passaram a indicar uma maior certeza e concordância em relação à intensidade desta possível La Niña.

Um La Niña fraco ou até mesmo inexistente!

Durante a fase final do El Niño no primeiro semestre deste ano, quando os modelos começaram a prever um La Niña, grande parte dos modelos apontavam para um evento de La Niña de intensidade forte a moderada. Com o passar dos meses nós da Meteored Brasil notamos que muito provavelmente os modelos estariam superestimando o evento e acreditávamos que este evento não passaria de um La Niña fraca.

Agora, as últimas atualizações das previsões mostram que grande parte dos modelos passaram a apontar que, se esse La Niña realmente se formar na primavera, ela não passará de uma La Niña fraca, com anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) médias entre -0.5°C e -1°C na região do Niño 3.4, com o ápice de intensidade previsto para ocorrer no trimestre de verão.

Pluma de previsões de diferentes modelos climáticos para as anomalias de TSM na região do Niño 3.4. Rodadas realizadas em julho de 2024. Fonte: IRI.

Na pluma de modelos do IRI, vemos que a maioria dos modelos, dinâmicos principalmente, apostam no La Niña fraco, começando ao longo da primavera e durando até o final do verão de 2024-25. Apenas dois modelos dessa pluma continuam a prever uma La Niña de intensidade moderada, com as anomalias ligeiramente abaixo de -1°C, mas esses são minoria em relação a pluma e, portanto, a probabilidade é baixa.

O La Niña, em seu ápice de intensidade entre a primavera e o verão do Hemisfério Sul, não deverá passar da intensidade fraca. Isso se o fenômeno realmente se formar, já que alguns modelos deixaram de acreditar no estabelecimento do La Niña neste ano!

Outro ponto importante, que temos chamado atenção e agora está mais evidente, é a considerável possibilidade do La Niña não se formar em 2024! Muitos modelos foram ajustando suas previsões e diminuindo a intensidade do futuro La Niña e alguns deixaram de acreditar em sua formação, prevendo apenas um ligeiro resfriamento das TSMs na região do Niño 3.4 no Pacífico Tropical, mas não atingindo o limiar de La Niña, ou seja, mantendo as anomalias acima de -0.5°C.

Pluma de previsões dos modelos que compõem o conjunto de multimodelos internacionais IMME para as anomalias de TSM na região do Niño 3.4. Rodadas realizadas em julho de 2024. Fonte: CPC/NOAA.

Diversos modelos estatísticos não preveem a formação do La Niña nos próximos meses e alguns modelos dinâmicos também, entre eles o modelo de confiança da Meteored, o modelo do ECMWF. Conforme podemos observar na pluma de modelos do IMME, que junta alguns dos principais modelos dinâmicos internacionais, a previsão do ECMWF coloca anomalias de TSM ligeiramente abaixo da média nos próximos meses na região do Niño 3.4, mas sem passar do limiar de La Niña de -0.5°C!

Quando sentiremos os impactos do La Niña no Brasil?

Se a La Niña se formar na primavera, podemos esperar seus efeitos no Brasil apenas entre o final da primavera e verão, mas principalmente nos meses de verão. Entretanto, por se tratar de uma La Niña fraca, seus efeitos não serão tão intensos e abrangentes.

Lembrando que durante episódios de La Niña, esperamos um volume de chuvas acima da média em grande parte das regiões Norte e Nordeste e chuvas abaixo da média em partes do Centro-Sul do Brasil, principalmente sobre a região Sul. Em termos de temperatura, geralmente temos temperaturas mais amenas, que inclusive tendem a ficar ligeiramente abaixo da média. Mas isso em anos de La Niña bem configurada e principalmente de intensidade moderada a forte!

Os impactos do possível La Niña não serão tão claros e evidentes, como de costume. Os primeiros sinais poderão ocorrer através de um aumento das chuvas no Norte do Brasil no início do verão e final da primavera.

Como ainda é incerto o estabelecimento desse La Niña, as previsões de anomalias de chuva e temperatura para o Brasil nos próximos meses ainda são incertas e tem variado ao longo das rodadas. Por enquanto os modelos têm mostrado que os efeitos esperados do La Niña serão perceptíveis no início do verão brasileiro e em algumas partes do Norte do Brasil, que poderão registrar chuvas acima da média, e algumas partes do Centro-Sul que deverão registrar chuvas dentro ou abaixo da média. Mas esses impactos não serão tão abrangentes.

Previsão de anomalia de precipitação (a esquerda) e temperatura a 2 metros (a direita) para o trimestre de novembro, dezembro de 2024 e janeiro de 2025. Fonte: CPC/NOAA.

Em relação a temperatura, as previsões de praticamente todos os modelos indicam um comportamento completamente oposto ao esperado num evento de La Niña, projetando temperaturas acima da média em todo o Brasil, tanto na primavera quanto no verão. Isso nos mostra que, se esse La Niña vier a ocorrer, ela estará atuando em um cenário climático incomum, onde outros grandes padrões estarão atuando, entre eles a grande tendência de aquecimento global, que com certeza já deixou de ser negligenciável nos últimos anos.