Incêndios causam transtornos próximo ao Ártico
Além do forte aquecimento das últimas semanas nas altas latitudes do hemisfério norte, incêndios florestais se alastram e consomem a vegetação de regiões onde não é comum se observar esse tipo de fenômeno.
O verão/2019 vigente no hemisfério norte está acumulando vários recordes de calor em diversos continentes. Em junho, o Alasca registrou temperaturas sem precedentes, o mesmo que em países da Europa na primeira onda de calor que atingiu o continente europeu no fim do mês passado. Mas não é só o aquecimento que se alastra em parte do hemisfério que é preocupante, isso porque os incêndios florestais decorrentes das altas temperaturas e da estiagem estão gerando vários impactos. De acordo com o porta voz da Organização Meteorológico Mundial (OMM) Clare Nullis, incêndios de grandes proporções nunca observados atingem latitudes do Ártico desde o início de junho.
Clare Nullis também afirmou que 50 megatoneladas de CO2 foram emitidos na atmosfera nesses incêndios. Isso equivale a emissão total anual de CO2 da Suécia, superando inclusive a soma de emissão de CO2 para o mês de junho entre os anos de 2010 a 2018 na região do Ártico. A maior parte do fogo está concentrado na Sibéria e no Alasca, áreas em que sistemas de altas pressões persistiram. No entanto, um incêndio na província de Alberta no Canadá dizimou uma área vegetada equivalente a 300 mil campos de futebol.
O problema dos grandes incêndios em altas latitudes é o feedback positivo que eles geram, isto é, ajudam no aquecimento global. Esse processo ocorre através de uma cadeia de eventos, a começar pela fuligem preta das queimadas que são depositadas sobre a neve branca e diminuem a reflexão da luz solar. Consequentemente, há um aumento da absorção de energia e, portanto, uma elevação da temperatura da superfície e do ar adjacente.
A queima de biomassa também libera CO2 na atmosfera, um dos gases mais importantes do efeito estufa. Não bastasse os problemas ambientais associados aos incêndios, há também os de saúde pública. As plumas de fumaça são transportadas pelo vento horizontal na atmosfera e alcançam regiões remotas, prejudicando a qualidade do ar nas cidades que recebem a fumaça. Tal fato ocorreu recentemente em Fairbanks, no Alasca, que foi atingida por um episódio agudo de poluição e algumas pessoas precisaram ser internadas.
Padrão médio das últimas semanas
Na média, a corrente de jato exibiu um padrão amplificado entre a Ásia e a América do Norte desde junho. Como resultado disso, as áreas em que um mergulho para o sul persistiu obtiveram temperaturas abaixo da média, enquanto as áreas em que o jato migrou para o norte apresentaram aumento significativo das temperaturas, como no caso da Sibéria e do Alasca.
Uma das principais razões para esse padrão observado é a teleconexão relacionada a Oscilação do Ártico (OA), que se manteve em fase negativa quase o tempo todo a partir do mês passado. A fase negativa da OA está associada ao desenvolvimento de ondas de Rossby ao longo da corrente de jato, contribuindo para situações de bloqueios atmosféricos e extremos meteorológicos.