Incêndios na Austrália: um pingo de esperança vinda dos céus

Ao longo dessa semana uma pequena mudança nos padrões atmosféricos na Oceania trazem esperança para a ocorrência de chuvas nas regiões de incêndio. Apesar dos volumes baixos já é um cenário animador diante das condições atuais.

Incêndios na Austrália, wild fires
Uma pequena mudança no padrão pode provocar chuvas no leste e sudeste da Austrália. Volumes são baixos, mas já trazem um pingo de esperança.

Desde a primavera de 2019 o leste e sudeste da Austrália vem sofrendo com as faltas de chuvas e, principalmente, com as temperaturas extremamente elevadas que vem mantendo as condições favoráveis para a ocorrência e o alastramento dos incêndios na região.

Todos já estão bastante familiarizados com a situação do país através das inúmeras notícias que vem destacando os números surpreendentes de focos de incêndio e, infelizmente, de mortes humanas e de animais. Mas o que vem proporcionando, desde o ano passado, uma condição de seca e de temperaturas extremas? Há esperança para um mudança de padrão nas próximas semanas? As respostas estão na discussão climática a seguir.

Dipolo do Índico: o principal fator climático

O Dipolo do Oceano Índico (IOD) é determinado através de dois padrões de aquecimento/resfriamento das águas do Oceano Índico, que por sua vez correspondem a duas fases distintas: negativa e positiva.

Na fase negativa, o padrão que se observa são de águas mais frias próximas da África e mais quentes na região das Filipinas e no norte da Austrália. Essa condição favorece o movimento ascendente, bem como o transporte de umidade para a atmosfera, ao norte da Oceania, proporcionando aumento das chuvas desde o oeste ao sudoeste da Austrália.

Já na fase positiva o que se observa é o padrão inverso: águas mais aquecidas próximas a África e mais frias no leste do Oceano Índico. Assim, há um aumento das chuvas no leste do continente africano e na região da Arábia. Essa condição contribui para o aumento da ocorrência da formação de ciclones tropicais. Nas Filipinas e na Oceania passa a haver subsidência, ou seja, o ar mais seco do alto da atmosfera passa a descer e a inibir a formação de nuvens e, consequentemente, diminui as chuvas na Austrália e favorece a formação de bloqueios atmosféricos.

Na primavera de 2019 a fase positiva de IOD começou a se desenvolver e a ganhar força, configurando uma fase positiva mais intensa em relação às registradas no últimos 25 anos, com pico no mês de outubro. O resultado não podia ser diferente: chuvas abaixo da média e temperaturas muito acima da climatologia, com maiores máximas vemsuperando os 45°C na região desértica e nas áreas do leste e sudoeste, onde estão concentrados os incêndios. Na média de dezembro isso representa de 5 a 6°C acima. A boa notícia é que o IOD vem perdendo cada vez mais intensidade e sua influência é também cada vez menor.

Previsões indicam uma mudança de padrão

A atuação de um bloqueio atmosférico, que está representado presença de dois sistema de alta pressão: um ao leste e outro ao sul da Austrália. Esse padrão vem impedindo o avanço de sistemas frontais sobre a Oceania. Como resultado os ventos de norte e noroeste, provindos da região desértica, contribuíram para a manutenção das altas temperaturas e também para combustível para os incêndios. Outra consequência foi a formação de uma bolha de calor no Pacífico.

Para fins de comparação, os mesmo ocorreu na Região Sul nos últimos dias do ano, com o ar mais quente sendo transportado da porção central e sendo represado no Rio Grande do Sul. Na Europa, as ondas de calor do verão, ocorrem também pelo transporte do ar mais quente da região desértica do Saara no norte da África.

Nesta semana há o enfraquecimento do bloqueio atmosférico e um sistema frontal consegue passar de forma costeira juntamente com a formação de um cavado sobre o leste e sudeste da Austrália, trazendo a possibilidade de chuvas para região. Mesmo com a previsão de baixos volumes e de uma condição ainda irregular, já é uma ótima notícia que traz um pingo de esperança e ajuda para o combate dos incêndios. Em relação as temperaturas ainda há previsão de onda de calor de baixa intensidade ao longo da semana e forte intensidade em alguns pontos do leste e norte mais para o fim de semana, segundo a Australian Government Bureau of Meteorology.

Segundo os modelos de clima, a segunda quinzena de janeiro será mais úmida, principalmente, na última semana do mês. Com o enfraquecimento do IOD a tendência é que a probabilidade de formação de bloqueios atmosféricos seja menor, o que traz um cenário mais favorável à ocorrência de chuvas no sul, sudeste e leste da Austrália.