INPE está prestes a desligar o supercomputador Tupã por falta de verba
Com a redução do orçamento e atraso de pagamento das verbas do governo federal, INPE se encontra em situação crítica e deverá desligar o supercomputador Tupã até Agosto, interrompendo pesquisas espaciais e serviços climáticos.
Tudo indica que o principal supercomputador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Tupã, será desligado pela primeira vez na história. O desligamento ocorrerá no mais tardar em Agosto, devido à falta de verba.
Tupã tem sido amplamente utilizado pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) durante os últimos anos. O supercomputador é utilizado na elaboração de previsões de tempo e clima, tratamento e coleta de dados meteorológicos, emissão de alertas climáticos e também pesquisa e desenvolvimento científico.
A diretoria do INPE prevê o desligamento de pelo menos uma parte da operação do Tupã, o que interromperá pesquisas em andamento e o fornecimento de dados meteorológicos - o que pode dificultar, por exemplo, o monitoramento de queimadas no Brasil, assim como estiagens e mudanças climáticas no país.
Este ano, o INPE recebeu o menor orçamento da história do governo federal. E dos R$ 76 milhões de reais previstos, apenas R$ 44,7 milhões foram liberados - O restante continua contingenciado, sem previsão de ser entregue ao Inpe. Só de energia elétrica, o supercomputador Tupã consome 5 milhões de reais por ano.
Mas a energia não é o único problema - O Tupã realiza cálculos complexos, mas não armazena dados. Por isso, o INPE utiliza um Data Center, que coleta e armazena com segurança a quantidade monstruosa de dados que o Tupã gera. E a verba prevista também não é suficiente para manter o contrato com o Data Center.
Qual a importância do supercomputador Tupã?
O Tupã é um supercomputador modelo XT6 da Cray, adquirido com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no ano de 2010. Instalado na sede do INPE em Cachoeira Paulista (SP), o supercomputador foi o mais potente da América do Sul e um dos 500 mais potentes do mundo.
Além de atender ao CPTEC e ao Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) durante dez anos, o Tupã foi utilizado por grupos de pesquisa, instituições e universidades nacionais e internacionais. Seus dados também abastecem o Operador Nacional do Serviço Elétrico (ONS), que coordena a geração e a transmissão de energia elétrica em todo o país.
Ano passado, o INPE chegou a prever a troca do Tupã por dois supercomputadores de menor porte - que possuem uma capacidade de processamento muito menor, mas também gastam menos energia. Ainda assim, não houve verba suficiente para realizar a substituição.
Qual é o problema do orçamento do INPE?
Nos últimos anos, a instituição tem sofrido com redução de verba e atrasos no pagamento, o que levou o instituto a reduzir contratos de internet e telefonia, suspender pagamento de publicações de pesquisas, interromper o pagamento de mais de 100 pesquisadores e até mesmo reduzir os serviços de limpeza e manutenção em sua sede.
A situação quase impossibilitou o lançamento do primeiro satélite completamente brasileiro, o Amazônia I, que foi salvo devido à uma intervenção emergencial da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Além das pesquisas climáticas e espaciais, outras áreas também sofrem com a situação. Este ano, o Laboratório de Integração e Testes (LIT) provavelmente será fechado, deixando de fazer testes de produtos de mercado para empresas, como carros e eletrônicos, o que pode impactar negativamente o mercado.
A situação foi ainda mais agravada devido à pandemia. De acordo com a AEB, o corte orçamentário federal foi severo e a administração está tentando conter os possíveis impactos na ciência e pesquisa brasileiras, para asim tentar garantir o desenvolvimento das atividades espaciais e meteorológicas no país.