Inteligência Artificial de mãos dadas com a Amazônia
O desmatamento e as queimadas cada vez mais desenfreadas são preocupações diárias de ambientalistas e lutadores pela proteção da Amazônia. Agora, a tecnologia se alia à luta utilizando inteligência artificial.
O número de focos de queimadas na Amazônia tem crescido e batido recordes um ano atrás do ano. O desmate, que cresce de forma desenfreada, provoca grande impacto ambiental, o que não é novidade e é motivo pela luta de ambientalistas.
No Brasil foram contabilizadas mais de 179 mil queimadas desde o início do ano até o momento segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Desse total, 40% queimou na Amazônia. É um número absurdo apesar de ser menor quando comparado ao ano de 2020.
Como uma das saídas na batalha contra o fogo, a tecnologia tem sido cada mais explorada. O uso de plataformas tecnológicas capazes de prever o risco de desmate e o impacto do fogo na floresta se tornou importante aliado na proteção de biomas brasileiros como a Amazônia em especial.
Surgimento da PrevisIA
Em prol da Amazônia, uma parceria foi feita entre o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), a Microsoft e o Fundo Vale para a criação da plataforma PrevisIA, que utiliza geoestatística e inteligência artificial para mapear regiões de florestas ameaçadas.
Segundo o geógrafo pesquisador associado do Imazon Carlos Souza Júnior, a ideia é disponibilizar informações que permitam aos agentes públicos agir preventivamente e evitar o desmatamento.
Através de uma análise automatizada dos informes anuais sobre cortes rasos (rentes ao solo) da cobertura vegetal coletados por meio de satélites, principalmente da série Landsat, os dados geoestatísticos da plataforma são obtidos e acumulados desde 1988 pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica por Satélite (Prodes), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Com auxílio de inteligência artificial, foram acoplados aos dados do histórico de desmatamento, informações sobre as estradas abertas na Amazônia, obtidas a partir de imagens de satélites.
A fim de maior assertividade, são utilizadas diversas variáveis preditivas no modelo de risco de desmatamento, incluindo uso da terra, atividades socioeconômicas na região, topografia e rios. Vale ressaltar que as imagens para o mapeamento das estradas são coletadas pelo satélite Sentinel-2 da Agência Espacial Europeia (ESA) e processadas na plataforma em nuvem Azure, da Microsoft.
Afinal, a tecnologia tem funcionado?
Segundo Souza, utilizando as informações da plataforma PrevisIA, é possível compreender a dinâmica do desmatamento e assim, determinar quais são as fronteiras ativas, as áreas de floresta que correm maior risco a curto prazo, em torno de 12 meses. O geógrado ainda completa: "um exemplo é o mapeamento de estradas não autorizadas que são abertas na floresta, chamadas artérias da destruição".
Através do estudo feito previamente foram obtidos dados de que 95% do desmatamento e 85% das queimadas na Amazônia, se concentram em distâncias em torno de 5,5 quilômetros dessas estradas. Com a geoestatística utilizada, é possível conhecer o histórico de ocupação do solo e do uso da terra nessas próximas de cada estrada que geralmente estão associadas às atividades extrativistas ilegais de madeira e garimpeiros, além da ocupação irregular de terras públicas.
O algoritmo de inteligência artificial desenvolvido pelo IMAZON permite detectar através das imagens de satélites, estradas que não constam nos mapas oficias e estimar a região de florestas sob influência delas.
Dados de 2021
Neste ano, foram detectados 9.635 quilômetros quadrados de floresta sob risco de desmatamento através da PrevisIA, o que inclui 18 unidades de conservação com áreas de risco alto ou muito alto, 192 municípios, 48 terras indígenas, dois territórios quilombolas e 789 assentamentos rurais.
A equipe da plataforma vem comparando desde o início do ano até o momento, a projeção com os indicadores do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que no seu boletim referente ao mês de julho deste ano identificou 2.095 km² de desmatamento na Amazônia Legal.
Os criadores do projeto estão empenhados em busca de parcerias com usuários que podem fazer o uso efetivo dos dados, como governos municipais, estaduais e órgãos federais.
Uma outra ideia é que a plataforma também possa ser usada por bancos que estabeleçam critérios sustentáveis em suas políticas de crédito, seguradoras que pretendem reduzir os riscos de suas atividades e empresas empenhadas em estabelecer cadeias produtivas abastecidas por insumos de procedência legal.
Um projeto inaugural já está em curso com o Ministério Público do Pará, que tem interesse em oferecer aos promotores municipais informações para prevenir e controlar o desmatamento em escala local.