Inverno incomum no Hemisfério Norte: ondas de calor e de frio extremo
Calor extremo nunca antes visto no auge do inverno na Europa, enquanto uma onda de frio extraordinária causou centenas de mortes nos Estados Unidos e no Canadá. É assim que esse inverno incomum no Hemisfério Norte vem se desenvolvendo.
O clima do Hemisfério Norte ficou "louco". Enquanto a Europa vive uma das ondas de calor mais intensas da história, os Estados Unidos e Canadá experimentaram um frio brutal que afetou mais de 250 milhões de pessoas.
E como o Hemisfério Norte está recém na metade do inverno, o clima promete continuar surpreendendo: estão previstas fortes chuvas para a costa oeste dos Estados Unidos, que podem provocar fortes enchentes na Califórnia, assolada pela seca nos últimos anos.
E quais foram as situações climáticas mais extremas no último mês no Hemisfério Norte? Contamos os detalhes abaixo.
Tempestade histórica do Ártico sobre a América do Norte
Os Estados Unidos e o Canadá experimentaram uma onda de frio brutal devido à aproximação de uma intensa massa de ar polar do Ártico, que foi classificada pelo Serviço Meteorológico dos Estados Unidos como uma tempestade histórica.
O avanço dessa frente fria pode ser visto claramente na animação abaixo. As cores esverdeadas, geralmente concentradas na parte norte dos EUA e no Canadá, se deslocaram rapidamente para o sul entre 19 e 23 de dezembro de 2022.
Esta frente não só trouxe consigo temperaturas extremamente frias da ordem de -20 a -40ºC, como também esta mudança de temperatura ocorreu em menos de uma hora, surpreendendo muitas pessoas nas suas atividades habituais do dia-a-dia. Além disso, o vento intenso fez com que a sensação térmica ficasse entre 10 e 20 graus abaixo da real temperatura do ar.
As consequências foram desastrosas: cerca de 102 pessoas morreram em situações associadas à tempestade, cerca de 7.000 voos foram cancelados antes do Natal, inúmeras estradas foram fechadas devido a fortes nevascas e condições adversas de condução. Um caos total!
Europa: do frio ao calor extremo
Do outro lado do Atlântico, dezembro começou com temperaturas muito baixas em todo o velho continente. Em meados de dezembro, as mínimas ficaram entre 0 e -10ºC em grande parte da França, Alemanha e Polônia.
Mas os europeus receberam um "presente" de Natal antecipado. Poucos dias antes da véspera de Natal, um forte fluxo de sudoeste transportou o ar quente de latitudes mais baixas, ou seja, de setores como o Mediterrâneo para o norte.
Isso fez com que o clássico branco do Natal fosse substituído por um clima úmido e temperado. No final de dezembro, um novo pulso de ar quente aumentaria ainda mais as temperaturas.
E quem foi o responsável? Não só a advecção de ar quente, mas também a subsidência (ar que desce) associada a um grande anticiclone na área. Isso aconteceu por vários dias, intensificando o efeito da onda de calor.
Como visto na figura acima, as cores vermelhas representam anomalias de temperatura acima do normal. Pode-se ver muito claramente como praticamente todo o velho continente foi afetado, com muito calor.
Com maior intensidade, esta onda de calor atingiu duramente a Alemanha, a República Checa e Polônia, com anomalias de temperatura de até +18ºC acima da média climatológica. Várias cidades quebraram os recordes diários de temperatura mais altos para o mês de janeiro.
Em Javorník, na República Checa, a temperatura mais alta chegou a 19,6ºC, quando o normal é de apenas 3ºC. O mesmo sucedeu em Korbielów, na Polônia, com 19ºC em pleno inverno, quando a normal nesta época é de apenas 1ºC.
O fato de ser inverno significa que o impacto da onda de calor nas pessoas é menor do que se fosse em pleno verão, mas também não significa que em termos climáticos não seja uma anormalidade, uma 'loucura'. Se no verão ocorresse uma anomalia deste tipo, as temperaturas máximas ultrapassariam facilmente os 40ºC.
Ao mesmo tempo, esta onda de calor provocou uma diminuição no consumo de gás, reduzindo as chances de cortes de abastecimento devido aos problemas associados à guerra entre Rússia e Ucrânia. Uma boa notícia dentro dessa situação anômala.
Chuvas torrenciais na Califórnia
A combinação perfeita para uma semana chuvosa finalmente chegou à Califórnia. Desde a última quinta-feira, 5 de janeiro, sucessivos sistemas frontais vêm se aproximando da região, vindos do Pacífico, associados a grandes quantidades de umidade e a rios atmosféricos.
Isto já começou a trazer fortes chuvas para a costa oeste dos Estados Unidos. De fato, as precipitações já estão causando graves danos, como inundações em Capitola e em Ventura, devido às chuvas intensas.
Nos próximos dias, a situação pode se complicar. A previsão do modelo europeu ECMWF prevê que seriam registrados mais de 100 mm de chuva acumulada em todo o Estado da Califórnia, com máximos de até 250 mm na costa e em áreas montanhosas.
Estas chuvas vêm aliviar um pouco a seca que assolou a região; no entanto, chuvas torrenciais em tão pouco tempo podem provocar outros problemas como inundações e deslizamentos de terra.
O que mais pode se esperar no restante do inverno no Hemisfério Norte? Ficaremos de olho.