Investigações sobre a origem do óleo no Nordeste continuam
A situação causada pelas manchas de óleo que não param de chegar ao litoral do Nordeste se mostra cada vez mais grave e complexa. A maior suspeita envolve um acidente com um navio clandestino que estava transportando petróleo em uma operação ilegal.
A situação causada pelo vazamento de óleo no Nordeste se revela mais grave e complexa a cada dia. A origem do óleo continua desconhecida, e Marinha do Brasil e Universidades trabalham em parceria para descobrir mais informações para encontrar o foco e o possível volume do vazamento - dois fatores que ajudarão a conter um desastre ainda maior.
Origem do óleo
As pesquisas divulgadas até então, apontam para um vazamento em alto mar. Os estudos usam modelos numéricos para simular o trajeto do óleo e sua dispersão pela costa nordestina. O óleo teria sido transportado pela Corrente Sul Equatorial em direção à costa brasileira, e assim entrado na circulação das Correntes Norte do Brasil e Sub-Corrente Norte do Brasil.
A análise da composição e densidade do óleo mostram características que correspondem ao petróleo prospectado na Venezuela. Cruzando essa informação com as simulações, o óleo venezuelano estaria então sendo transportando por algum navio durante o incidente. Apesar da grande quantidade de óleo que chegou ao litoral, navios transportadores tem capacidade de até 300 mil toneladas - o que torna sim possível um deles ser a fonte de tal vazamento. A Marinha informou que até agora, mil toneladas de resíduos de óleo cru foram recolhidos nas praias.
Uma das hipóteses é um acidente operacional que teria obrigado o navio a esvaziar seus tanques, ou até um naufrágio. Em ambos os casos a embarcação teria que ter notificado a operação, o que não aconteceu. O comandante da Marinha do Brasil, almirante Ilques Barbosa Júnior, explica que este silêncio pode indicar um operação clandestina em navio irregular. Este tipo de navio transporta cargas que não podem ser comercializada, muitas vezes por causa de sanções contra algum país. Esse tipo de operação usa linhas de comunicação marítimas pouco frequentadas e não atualiza seu sistema de identificação para evitar ser interceptado.
Os pontos que reportaram as primeiras manchas continuam a receber óleo, o que indica um vazamento contínuo e não pontual. O uso de satélites nesse caso, se mostrou ineficaz pois o óleo foi transportado um pouco abaixo da superfície do mar (subsuperfície), não aflorando até chegar na zona costeira próximo à quebra das ondas. Essas são características de um óleo mais denso (pesado) e já bem degradado pelo meio.
De quem é a responsabilidade?
A Marinha do Brasil, cruzando as informações de navegação e das simulações de dispersão de óleo, conseguiu chegar a 30 navios suspeitos. A investigação inicial lidava com cerca de mil embarcações. Novas simulações da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que o vazamento pode ter tido origem mais próximo a costa do que pensávamos, entre 270 e 600 km. Esses novos resultados ajudarão ainda mais a estreitar as investigações da Marinha.
Apesar da origem venezuelana, a responsabilidade de tal incidente recai sobre a empresa que adquiriu o produto e o navio que estava fazendo a logística de transporte. O mesmo acontece com petróleo de origem brasileira explorado por empresas estrangeiras.
O Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (Decreto 8.127 de 2013) foi acionado, quase 50 dias após o início do incidente. Esse plano será fundamental para coordenar os esforços de contenção e resposta ao incidente. Até agora os trabalhos de contenção estão sendo feitos em medidas isoladas por estados, municípios e por muitos voluntários.