Já estamos sofrendo com os impactos das mudanças no oceano e criosfera
O relatório especial do IPCC sobre Oceano e Criosfera nas Mudanças Climáticas tráz evidências alarmantes de como o aquecimento global já está impactando ecossistemas e comunidades. As populações mais vulneráveis já sofrem, e problemas econômicos, culturais e de subsistência devem ser discutidos.
No último fim de semana, cientistas se reuniram com a imprensa e líderes para o lançamento do Relatório Especial do Oceano e Criosfera nas Mudanças Climáticas em Mônaco. O relatório, publicado pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), mostra evidências alarmantes de que o aquecimento global já está sendo sentido por comunidades mais vulneráveis. O oceano está mais quente, mais ácido e menos produtivo. O derretimento de glaciais e coberturas de gelo continental está promovendo aumento do nível do mar, e eventos extremos estão se tornando mais frequentes.
O relatório foi aprovado por 195 representantes dos governos participantes do IPCC no dia 24 de Setembro. Nele se apresenta os benefícios de limitar o aquecimento global para o menor nível possível, indo de encontro das diretrizes do Acordo de Paris (2015). Atualmente, o aquecimento global já faz a superfície da Terra estar, em média, 1º acima da temperatura média do planeta na era pré-industrial.
O oceano e a criosfera - as partes congeladas do planeta, incluindo montanhas com cobertura de neve - tem papel fundamental na vida na Terra. Um total de 670 milhões de pessoas vivem em altas montanhas e mais 4 milhões vivem permanentemente na região do Ártico. 680 milhões de pessoas vivem próximos a linha de costa e 65 milhões vivem em pequenas ilhas. O relatório mostra evidências de que o aquecimento global está causando profundas consequências, não só para os ecossistemas, mas também para as pessoas que habitam esses meios.
"O mar aberto, o Ártico, a Antártica e as altas montanhas parecem coisas muito distantes para muitas pessoas, mas nós dependemos desses meios e somos influenciados direta e indiretamente por eles de muitas formas: no tempo e clima, comida e água, energia, comércio, transporte, recreação e turismo, saúde e bem estar, cultura e identidade", disse Hoesung Lee, coordenador do IPCC. Segundo Lee, mesmo se reduzirmos as emissões, as consequências para estas pessoas ainda será desafiadora, mas ao menos será menos catastrófica para a parcela mais vulnerável.
As evidências apresentadas no relatório são resultado de cerca de 7 mil publicações científicas recentes que envolveram mais de 100 cientistas de 36 países. Os principais pontos apresentados foram:
- Comunidades nas proximidades de altas montanhas estão mais vulneráveis e expostas a desastres naturais, como deslizamentos de terra, avalanches e inundações.
- A retração dos glaciais já estão alterando a disponibilidade e qualidade de água, o que está também afetando comunidades mais distantes e atividades de agricultura e geração de energia.
- A perda de gelo continental, junto com a expansão térmica, está contribuindo para o aumento do nível do mar em uma taxa mais acelerada. No século XX o nível médio do mar subiu cerca de 15cm. Atualmente a taxa de aumento está mais do que duas vezes maior, chegando a 3,6 mm por ano.
- Mesmo se conseguirmos reduzir o aquecimento global a níveis menores que 2ºC, o nível do mar continuará a subir até cerca de 30-60 cm até 2100. Se o ritmo de aquecimento se mantiver como o atual, chegará a 60-110 cm em 2100.
- O aumento do nível do mar, aliado a intensificação de ciclones tropicais e dos ventos em algumas regiões, estão contribuindo para o aumento da frequência de desastres nas zonas costeiras, como ressacas e inundações.
- O aquecimento e acidificação dos oceanos, perda de oxigênio e mudanças no ciclo de nutrientes já estão afetando a distribuição e abundancia de vida marinha em áreas costeiras, oceano aberto e fundo oceânico.
- Comunidades que dependem de recursos pesqueiros para a subsistência podem enfrentar sérios riscos nutricionais e de saúde alimentar.