La Niña 2020 poderá ser mais forte do que previsto

Desde sua consolidação em agosto, grande parte dos modelos climáticos colocavam que a La Niña desse ano seria fraca, ou no máximo de intensidade moderada. Mas agora as projeções mudaram, provavelmente teremos um evento bem mais forte do que era previsto!

La Niña 2020
Campo de anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) da semana do dia 12/10 a 18/10. Fonte: NOAA.

O ano de 2020 já é oficialmente um ano de La Niña, fase negativa do principal padrão de teleconexão terrestre, o El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Desde sua formação em agosto houve muitas especulações a respeito de sua intensidade, muitos especialistas e modelos numéricos apostavam num evento pouco significativo, de intensidade fraca. Porém, as apostas mudaram!

Na última semana a região do Niño 3.4 (localizada no Pacífico Tropical entre 170°O e 120°O de longitude), principal região de utilizamos para monitorar as anomalias associadas ao ENOS, registrou uma anomalia de -1.4°C. Esse valor é considerado bem intenso e já indica uma intensidade moderada da atual La Niña, beirando a intensidade forte. Um evento de La Niña é considerado moderado quando as anomalias do Niño 3.4 ficam entorno de -1 a -1.5°C, abaixo de -1.5°C é considerado como forte!

Após essa intensificação do resfriamento das águas superficiais e a confirmação da resposta atmosférica a esse resfriamento, caracterizada pela intensificação dos ventos alísios e os valores positivos do Índice Oscilação Sul (SOI, sigla em inglês), as projeções mudaram!

Agora, muitos dos modelos usados nas previsões do IRI e CPC preveem anomalias condizentes a um evento de La Niña moderado ou até mesmo forte até o final desse ano! O modelo CFSv2, do NCEP/NOAA, é um dos modelos que aposta num evento muito intenso, com anomalias inferiores a -2°C. Porém, modelos como o ECMWF, continuam mantendo suas apostas num evento moderado, não passando de -1.5°C.

A maioria dos modelos do IRI/CPC indicam que a La Niña deverá atingir seu máximo de intensidade em dezembro ou janeiro de 2021, verão no hemisfério sul, e a partir de fevereiro e março, deverá começar a perder força e gradualmente voltar a condições de neutralidade durante o outono de 2021. Dessa forma, o La Niña desse ano poderá ser forte, porém de curta duração.

Quais são os impactos da La Niña?

Muitos estudos já foram feitos no intuito de estudar eventos passados de El Niño e La Niña e inferir seus impactos no clima global, o mais recente deles foi feito por pesquisadores do IRI e publicado na revista Weather and Forecasting no mês passado, que atualizaram antigos mapas de impactos das diferentes fases do ENOS no regime de chuvas global.

Esses mapas foram atualizados a partir de novos métodos estatísticos e 20 anos a mais de dados históricos de alta resolução, estendo o período de análise de 1951 a 2016, adicionando as análises eventos recentes de grande impacto, como o El Niño de 2015/16 e a La Niña de 2010/11.

Probabilidades de anomalias de chuva acima (esquerda) e abaixo (direita) da média sobre a América do Sul no trimestre de Novembro, Dezembro e Janeiro (NDJ), com significância estatística de 90%. Fonte: IRI.

Os impactos de La Niña e El Niño foram analisados separadamente. Além disso, os autores só consideraram os eventos mais intensos, ou seja, eventos de El Niño que registraram anomalias 1°C ou mais e eventos de La Niña que registraram anomalias de -1°C ou menos, descartando os eventos fracos que não possuem impactos tão consistentes na atmosfera.

A equipe do IRI disponibilizou esses resultados em uma plataforma interativa onde você pode visualizar os resultados probabilísticos de anomalias de chuvas para os eventos de El Niño e La Niña para todos os continentes. De acordo com os mapas desse estudo, sobre o Brasil há uma grande probabilidade da ocorrência de chuvas abaixo da média sobre partes das regiões Sudeste e Centro-Oeste e acima da média no norte da região Nordeste e norte/nordeste da região Norte, no trimestre de Novembro, Dezembro e Janeiro.