La Niña e mudanças climáticas causam inundações em ilhas do Pacífico
Ilhas do Pacífico tropical ocidental estão enfrentando graves inundações costeiras devido a uma elevação do nível do mar decorrente da combinação de maré alta, mudanças climáticas e a La Niña. De acordo com projeções, esse cenário será comum em 2050!
Graves inundações costeiras têm afetado várias ilhas pelo Pacífico equatorial ocidental nas últimas semanas. As inundações têm causado danos generalizados a construções e plantações de alimentos na Micronésia, Ilhas Marshall, Papua Nova Guiné e Ilhas Salomão.
As marés altas são normais nesta época do ano no oeste do Pacífico, associadas ao ciclo lunar, e são conhecidas como “spring tides”. Porém, neste ano elas têm sido maiores e causado mais danos a população. Mas por quê? O principal motivo é uma combinação de maré alta, mudanças climáticas e a La Niña!
A La Niña é um fenômeno climático associado a um resfriamento anômalo da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e alterações na circulação atmosférica global. Uma das alterações atmosféricas que a La Niña causa é o fortalecimento dos ventos alísios no Pacífico tropical, que são os ventos que sopram de leste para oeste em superfície.
Esses ventos, em condições normais, são responsáveis por empurrar as águas mais quentes da superfície do oceano para o lado oeste da bacia do Pacífico Tropical, o que ocasiona em um maior acúmulo de águas quentes nessa região, dando origem a chamada ‘piscina quente’ do Pacífico Oeste.
Dessa forma, durante a La Niña, com os ventos alísios mais fortes empurrando ainda mais água para oeste, há um acúmulo maior de águas quentes no Pacífico tropical oeste e, devido a expansão térmica, um consequente aumento do nível do mar. Portanto, um dos efeitos naturais da La Niña, além das alterações no regime de chuvas e temperatura, é o aumento das marés nas ilhas e regiões do Pacífico tropical ocidental.
Essa elevação do mar em decorrência da La Niña costuma atingir seu máximo entre novembro e dezembro no Hemisfério Norte e entre fevereiro e março do ano seguinte no Hemisfério Sul. Portanto, espera-se que as inundações costeiras continuem ao longo do verão nessas ilhas do Pacífico Oeste.
Um vislumbre do futuro
De acordo com o professor Shayne McGregor, em um artigo escrito para o site de notícias acadêmicas The Conversation, a La Niña está nos dando um vislumbre assustador do que está por vir nas próximas décadas. Atualmente algumas das regiões do Pacífico Ocidental estão registrando uma elevação do nível do mar de 15 a 20 centímetros, o mesmo aumento que é projetado para ocorrer globalmente em 2050, independentemente de quanto cortamos as emissões globais a partir de agora.
Considerando toda a variabilidade natural em decorrência de fenômenos climáticos, como o El Niño – Oscilação Sul (ENOS), e a taxa de aquecimento da temperatura média global do último século, o último relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) mostra que os níveis médios do mar global aumentaram cerca de 20 cm entre 1901 e 2018.
Portanto, as ilhas do Pacífico ocidental já estão experimentando hoje uma combinação dos efeitos do aquecimento do clima global e a variabilidade natural do ENOS. Como as projeções futuras indicam que o nível do mar se elevará ainda mais, esperamos que futuras combinações de maré alta e La Niña acarretem inundações costeiras ainda mais graves e prejudicais para essas ilhas.