La Niña mais fraca pode dificultar a recuperação da bacia do São Francisco no segundo semestre!

Chegamos ao período seco da bacia do São Francisco e os volumes dos reservatórios tendem a diminuir gradualmente. Previsão climática indica um cenário preocupante no regime de chuvas da bacia.

São Francisco
Trouxemos o balanço do período chuvoso na bacia do São Francisco, e as perspectivas para o período seco diante das atualizações do modelo. Foto: Cemig.

Oficialmente chegamos ao fim do período chuvoso da bacia do São Francisco, iniciando o tão temido período seco da bacia. A estação chuvosa compreende os meses de outubro a maio e a estação seca entre maio e setembro. Neste último mês o subsistema Nordeste apresentou uma boa recuperação, com acumulados de aproximadamente 100 mm no alto São Francisco, ou seja, foram observadas chuvas acima da média climatológica.

Chuvas na Bacia do São Francisco
Chuva acumulada em Abril de 2024 e a média climatológica do respectivo mês. Fonte: INMET.

A porção média e baixa da bacia apresentaram os maiores valores de precipitação, entre o norte da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Trouxemos aqui um balanço da estação chuvosa referente ao período chuvoso de 2023/24, e quais as expectativas para o período seco do Velho Chico diante das últimas atualizações dos modelos climáticos.

Os níveis dos reservatórios começaram a baixar!

O regime de chuvas na bacia do São Francisco está diretamente ligada com o nível dos reservatórios, e consequentemente com a capacidade de geração de energia elétrica por meio das hidrelétricas. Assim, é levada em consideração a Energia Armazenada (EAR) para representar a energia associada ao volume de água precipitável nos reservatórios.

Reservatórios do Nordeste
Energia armazenada (%) no subsistema Nordeste e volumes útil dos reservatórios da Bacia São Francisco na mesma região. Fonte: ONS.

Atualmente, o subsistema Nordeste está com 78,3% de energia armazenada, sendo considerada estável desde a última atualização do mês de abril. A partir de agora, será normal observar o decaimento dos níveis de água da bacia e, também, na energia armazenada da região Nordeste.

Durante a estação chuvosa, na porção do alto São Francisco, a precipitação ficou abaixo da média, assim como na região de Sobradinho. E as chuvas acima da normal climatológica foram verificadas já na parte média e baixa da bacia.

Embora o final desta estação chuvosa tenha tido uma boa recuperação com a alta recarga dos reservatórios, os níveis de EAR na bacia do São Francisco são inferiores aos verificados em 2023 e 2022. Por isso, é muito importante fechar a estação chuvosa com um volume hídrico confortável, mas isto está diretamente ligado com o regime de chuvas da região.

Uma La Niña de intensidade fraca a moderada

Estamos observando o enfraquecimento lento do padrão climático El Niño no Oceano Pacíficico Tropical com sua fase positiva, e aguardando a fase negativa, a La Niña, dar o ar da graça. Os modelos climáticos apontam que o El Niño já está saindo de cena ainda neste mês de maio.

Atualmente, a anomalia de TSM do Pacífico Tropical, na região do Niño 3.4, é de aproximadamente +0.5°C, que é considerado um El Niño fraco e bem próximo da neutralidade, entre -0.5°C e +0.5°C. Isto quer dizer que a La Niña vem logo em seguida? Ainda não!

Previsão de Anomalia de TSM na região Nino 3.4. Fonte: CFSv2.

A La Niña vai demorar meses até se desenvolver e se consolidar oficialmente, isto porque é necessário a permanência das anomalias negativas, abaixo de -0.5°C, por pelo menos 3 meses. Ou seja, os modelos indicam que a La Niña surgirá no segundo semestre deste ano e com intensidade fraca a moderada, porém, os seus impactos mais significativos no clima do Nordeste deverão ser sentidos entre o final de 2024 e início de 2025.

Este prognóstico tem impacto direto sobre o nível dos reservatórios da bacia do São Francisco! Em anos de La Niña, normalmente são observadas anomalias positivas de precipitação no Nordeste, mas com o surgimento tardio do fenômeno, as chuvas podem não chegar a tempo para a recuperação da bacia.

TSM
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar. Fonte: NOAA

Além disso, os modelos climáticos preveem o surgimento de águas mais frias no Atlântico tropical durante o período seco da bacia, ou seja, o atual grande modulador do clima no Nordeste vai sair de cena e as chuvas tendem a diminuir gradualmente na faixa costeira. E diante destas previsões oceânicas, o regime de chuvas sobre a bacia do Velho Chico pode apresentar irregularidades e prejudicar a sua recarga hídrica no segundo semestre de 2024!

Chuvas irregulares irão prejudicar a recuperação dos reservatórios

A última atualização do modelo de confiança da Meteored Brasil, o ECMWF, para o trimestre de Junho-Julho-Agosto, mostra um padrão de precipitação irregular sobre a região Nordeste e também sobre a bacia do Velho Chico.

Anomalia de chuva
Anomalia da Precipitação média para o trimestre de Junho-Julho-Agosto de 2024. Fonte: ECMWF.

Na parte mais alta da bacia do São Francisco, entre os estados da Bahia e Minas Gerais, são esperadas chuvas abaixo da média, e na porção média e baixa, a tendência é de precipitação dentro ou levemente acima da normal climatológica deste período, com valores entre 50 e 100 mm.

As anomalias negativas de precipitação no trimestre de Junho-Julho-Agosto representam um risco para o armazenamento de água no solo da Bacia do São Francisco.

Climatologicamente falando, os acumulados de precipitação na bacia durante o período seco são bem baixos, e diante do prognóstico atual, o cenário daqui a alguns meses pode se tornar crítico em questão de armazenamento de água e geração de energia elétrica. Vale lembrar que essas previsões, por serem de longo prazo, podem apresentar incertezas e mudarem em rodas futuras do modelos.