ANA lança o primeiro Mapa do Monitor de Secas do Brasil com cobertura nacional

Monitorar as secas se tornou algo tão fundamental quanto registrar as chuvas. Seus impactos podem ser estudados para a criação de estratégias que amenizem os efeitos da estiagem prolongada.

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ANA lança o primeiro mapa do Monitor de Secas com abrangência em todo o território nacional. Fonte: ANA

As chuvas são registradas no Brasil por diversos institutos oficiais, seja por estações meteorológicas automáticas ou convencionais, seja através do uso de radares. É de extrema importância monitorar as chuvas, principalmente quando se trata de eventos extremos.

Porém, monitorar quando não chove e por quanto tempo isso dura, também se tornou algum fundamental e indispensável para diversos setores, visto que os efeitos da seca também podem gerar prejuízos incalculáveis. Foi pensando nisso, que a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) começou a monitorar os períodos de estiagem no Brasil, porém, os dados ainda não contemplavam todo o território nacional.

ANA lança o primeiro Mapa do Monitor de Secas com cobertura em todos os estados brasileiros e no DF. A ferramenta faz o acompanhamento contínuo de secas e é capaz de acompanhar o grau de severidade com impactos associados.

A ANA já fazia o acompanhamento de secas no Brasil, mas só a partir de janeiro deste ano de 2024 que passou a trazer dados em cobertura total no país. A última atualização aderiu o estado do Amapá, último que faltava para completar os 26 estados brasileiros. A principal função da ferramenta é apontar o grau de severidade da seca e como isso pode gerar impactos à população e a setores importantes como a agricultura e a geração de energia.

Conheça o Mapa de Monitor de Secas

Na última quinta-feira (18) foi divulgado o mapa completo com todos os estados brasileiros e o Distrito Federal com dados de acompanhamento de secas, se trata do Programa Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em que o mapa em si foi elaborado em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá (SEMA), além de outras instituições estaduais parceiras que facilitaram o levantamento de área e dados.

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Em dezembro de 2023, os destaques são feitos por Região e por Unidade da Federação, acompanhando-se o surgimento, desaparecimento, evolução ou involução do fenômeno da seca em cada uma dessas áreas. Fonte: ANA

Esse mapa é divulgado mensalmente e tem sido utilizado para auxiliar o planejamento e a tomada de decisão através de políticas públicas de combate e minimização dos impactos gerados pela falta de chuva. Esse Monitor de Secas pode ser acessado pelo site ou também pelo aplicativo disponível gratuitamente para dispositivos móveis, tanto com sistema Android quanto iOS.

O estado do Amapá, último a ser aderido no programa, sofreu fortes reflexos do fenômeno El Niño nos últimos meses do ano de 2023, assim como outros estados da região Norte e Nordeste. Vale lembrar que com o aquecimento anômalo das águas superficiais do Pacífico Equatorial, a chuva tende a ficar concentrada sobre a região Sul do Brasil, algo que de fato aconteceu.

Com a falta de chuva regular por um longo período é considerada a estiagem, um período de secas que tem severidades diferentes a depender da região e também de uma combinação de fatores climáticos. Como a seca traz danos severos a vegetação, aos rios, a produção agrícola e aos animais, foi necessário criar uma base de dados para monitorar a situação.

Esse Monitor de Secas disponibilizado pela ANA é considerado um processo de acompanhamento regular e também periódico, cujos resultados são divulgados através de um mapa de forma mensal, que leva informações sobre a situação das secas com dados considerados até o mês anterior a divulgação, ou seja, o mapa que foi divulgado em janeiro mostra a situação das secas registradas em dezembro. Os indicadores refletem um curto prazo (últimos 3, 4 e 6 meses) e um longo prazo (últimos 12, 18 e 24 meses), mostrando a evolução da seca em cada região monitorada.

Seca mais intensa no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste

Considerando o período final de 2023, novembro e dezembro, houve um aumento considerável de secas no Brasil. A seca ficou mais intensa 14 estados brasileiros: Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins, e também no Distrito Federal. No norte de São Paulo, a seca ficou mais pronunciada em dezembro de 2023.

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Mapas novembro e dezembro para acompanhamento da evolução das secas no Brasil. Fonte: ANA

Com relação à severidade do fenômeno, a seca chegou a ficar ‘estável’ em cinco estados brasileiros: Alagoas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, ou seja, não houve melhora e nem piora do quadro de dezembro com relação ao mês de novembro.

Ao separar o Monitor de Secas por região, nota-se que no Sul no Brasil não houve registro de seca em novembro e dezembro de 2023, pois a região passou por uma forte influência do fenômeno El Niño mantendo o quadro de chuvas acima da média. Em contrapartida, outras regiões enfrentaram longos períodos de estiagem.

No Centro-Oeste, teve registro do maior grau de severidade da escala do Monitor de Secas, em que foi registrada seca excepcional em 1% da região. Apesar do marco negativo na região central do país, o Nordeste e o Norte foram os que se destacaram quanto ao maior percentual de área com seca ao mesmo tempo no mês de dezembro, 97%. No Sudeste, o aumento da seca moderada foi de 9% em novembro para 24% em dezembro.

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Situação por região das secas registradas entre novembro e dezembro de 2023. Fonte: ANA

Por fim, vale comparar a seca registrada em novembro e dezembro de 2023, em que apenas três estados brasileiros registraram diminuição da área: Pará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em contrapartida, foram cinco estados com aumento da área com seca registrada: Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Situação no Sul e no Sudeste

Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná: livres da seca em novembro e dezembro de 2023;

São Paulo: O fenômeno não era registrado no estado desde setembro de 2023, e mesmo com o retorno, foi o menor percentual de área com seca no Sudeste;

Minas Gerais: Com 95%, teve a maior área com seca no estado desde novembro de 2022;

Rio de Janeiro: Com 42%, teve a maior área com seca no estado desde julho de 2023;

Espírito Santo: Primeira vez com registro de seca total no estado por dois meses consecutivos desde o período de outubro e novembro de 2022;

Situação no Centro-Oeste

Mato Grosso do Sul: Com 86%, teve a maior área com seca no estado desde setembro de 2022;

Mato Grosso: Com 100%, teve a maior área com seca no estado desde agosto de 2021;

Goiás: Com 100%, teve a maior área com seca no estado desde outubro de 2022;

Distrito Federal: Primeira vez com registro de seca total no estado por dois meses consecutivos desde o período de junho e julho de 2023;

Situação no Nordeste

Bahia: Primeira vez com registro de seca total no estado por três meses consecutivos desde o período entre agosto e outubro de 2021;

Sergipe: Primeira vez com registro de seca total no estado por dois meses consecutivos desde o período de janeiro e fevereiro de 2022;

Alagoas: Com aumento de 8%, é a maior área registrada com seca no estado desde novembro de 2021, mas por outro lado, foi o estado com menor percentual de área com seca no Nordeste;

Pernambuco: Com 84%, teve a maior área com seca no estado desde abril de 2022;

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Seca ganhou intensidade e longo período no Nordeste do Brasil no segundo semestgre de 2023 devido instalação do fenômeno El Niño.

Paraíba: A área com seca diminuiu 1% entre novembro e dezembro;

Rio Grande do Norte: Com diminuição de 7%, teve a menor área com seca no estado desde setembro de 2023;

Ceará: Primeira vez com registro de seca total no estado por três meses consecutivos desde o período entre setembro e novembro de 2018;

Piauí: Primeira vez com registro de seca total no estado por três meses consecutivos desde o período de novembro de 2017 e janeiro de 2018;

Maranhão: Com 100%, teve a maior área com seca no estado desde janeiro de 2018;

Situação no Norte

Tocantins: Primeira vez com registro de seca total no estado por dois meses consecutivos desde o período de setembro e outubro de 2022.

Pará: Com diminuição de 2%, ainda teve a maior área com seca no estado desde sua entrada no Mapa do Monitor em abril de 2023;

Amapá: Com seca em 45% de sua área, é o menor percentual entre os estados do Norte;

Roraima: Primeira vez com registro de seca total no estado por três meses consecutivos desde sua entrada no Mapa do Monitor em agosto de 2022;

Amazonas: Primeira vez com registro de seca total no estado por dois meses consecutivos desde sua entrada no Mapa do Monitor em dezembro de 2022;

Acre: Com seca em todo o estado de setembro a dezembro, foi a primeira vez que o estado registrou quatro meses de seca total desde o período de novembro de 2022 e fevereiro de 2023;

Rondônia: Primeira vez com registro de seca total no estado por três meses consecutivos desde o período de agosto de 2022;

Referência da matéria:
Ana - Ana publica o primeiro Mapa do Monitor de Secas com cobertura nacional