Mais de 75% da superfície terrestre se tornou mais árida nos últimos 30 anos, incluindo o Brasil

Entre 1990 e 2020, 4,3 milhões de quilômetros quadrados de áreas úmidas foram transformadas em áreas secas, segundo relatório da Organização Nacional das Nações Unidas (ONU).

Seca
Relatório da ONU revela que 77,6% da superfície terrestre ficou mais árida nos últimos 30 anos. Foto: Reprodução.

Apesar do aumento de desastres relacionados à água, como inundações e tempestades, em várias regiões do mundo, cientistas da ONU alertaram que mais de 75% das terras ficaram permanentemente mais secas nas últimas décadas.

O relatório, A ameaça global de terras secas: tendências regionais e globais de aridez e projeções futuras, foi lançado na 16ª conferência das quase 200 Partes da UNCCD em Riad, Arábia Saudita (COP16), a maior conferência da ONU sobre terras até o momento e a primeira COP da UNCCD a ser realizada no Oriente Médio, uma região profundamente afetada pelos impactos da aridez.

Um terço da superfície terrestre está mais seca, afirma ONU

De acordo com o relatório histórico da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), cerca de 77,6% das terras da Terra ficaram mais secas nas últimas três décadas em comparação com o período anterior de 30 anos.

Nesse mesmo intervalo, as áreas áridas aumentaram em aproximadamente 4,3 milhões de km², uma extensão quase um terço maior que a Índia, o 7º maior país do mundo, e agora abrangem 40,6% de todas as terras, excluindo a Antártida.

Nas últimas décadas, aproximadamente 7,6% das terras do planeta – uma área maior que o Canadá – foram transformadas em regiões mais áridas (ou seja, de terras não áridas para áridas, ou de classes áridas menos secas para mais secas). A maioria dessas áreas passou de regiões úmidas para áridas, com sérias consequências para a agricultura, os ecossistemas e as populações locais.

A pesquisa alerta que, se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas, outros 3% das áreas úmidas podem se tornar áridas até o final deste século. Ao contrário das secas, definidas por períodos temporários de baixa precipitação, a aridez representa uma transformação permanente. Quando o clima de uma área se torna mais seco, porém, a capacidade de retornar às condições anteriores é perdida.

Áreas áridas
Painel superior: a diferença entre os valores do Índice de Aridez (AI) de 1961–1990 e 1991–2020. Verde significa condições mais úmidas, marrom condições mais secas. Painel inferior mudanças entre as classes do AI nos períodos mencionados acima. Áreas pretas são os pontos críticos expostos à aridificação.

Áreas que não eram terras secas em 1961–1990, mas se tornaram terras secas em 1991–2020, estão presentes em todas as macroregiões, exceto na Antártida. Terras secas são áreas do mundo onde a quantidade de chuva é <65% do que pode ser potencialmente evaporado e compreendem todas as terras com climas hiperáridos, áridos, semiáridos e secos subúmidos. Áreas não secas, com chuva >65% da evaporação potencial, são consideradas úmidas.

Regiões do mundo mais afetadas pelo aumento da aridez

A migração forçada é uma das consequências mais evidentes da aridez. Quando a terra se torna imprópria para viver, famílias e comunidades inteiras, que enfrentam a escassez de água e o colapso agrícola, frequentemente se veem obrigadas a abandonar seus lares, gerando desafios sociais e políticos em diversas partes do mundo.

No Brasil, por exemplo, as secas periódicas e a desertificação entre 1960 e 1980 foram responsabilizadas pela emigração de mais de 3 milhões de pessoas.

Partes do oeste dos Estados Unidos e do Brasil, especialmente no Cerrado e na Caatinga, estão apresentando tendências significativas de seca, com escassez de água e incêndios florestais se tornando riscos perenes. O Mediterrâneo e o sul da Europa, antes considerados celeiros agrícolas, enfrentam um futuro sombrio à medida que as condições semiáridas se expandem. Já na África Central e em partes da Ásia, áreas biologicamente diversas estão sofrendo degradação de ecossistemas e desertificação, colocando inúmeras espécies em risco.

Referência da notícia

Vicente-Serrano, S. M., N. G. Pricope, A. Toreti, E. Morán-Tejeda, J. Spinoni, A. Ocampo-Melgar, E. Archer, A. Diedhiou, T. Mesbahzadeh, N. H. Ravindranath, R. S. Pulwarty and S. Alibakhshi (2024). The Global Threat of Drying Lands: Regional and global aridity trends and future projections. A Report of the Science-Policy Interface. United Nations Convention to Combat Desertification (UNCCD). Bonn, Germany.