Mais que um trabalho, uma missão: jardineiros de corais, a nova profissão que surgiu da crise climática
Os oceanos e os recifes de corais, ameaçados pelas mudanças climáticas, encontram uma esperança em uma nova profissão: os jardineiros de corais. veja do que se trata.
A vida marinha tece o tecido invisível que sustenta o nosso planeta. 90% da vida na Terra encontra-se no vasto oceano e os recifes de corais, apesar de cobrirem apenas 0,2% do fundo do mar, abrigam mais de um quarto de todas as espécies.
Não é de surpreender que os corais sejam considerados guardiões da biodiversidade e pilares dos ecossistemas aquáticos. No entanto, por trás da sua deslumbrante beleza subaquática escondem-se as sombras de uma crise silenciosa: o desaparecimento progressivo destes organismos vitais.
Em resposta à crescente crise dos corais, uma nova profissão surgiu e está ganhando força: os jardineiros de corais, ou "Coral Gardeners". Estes defensores dos oceanos dedicam-se ao cultivo de corais com o objetivo de ajudar os recifes a se recuperarem dos danos causados pelo aquecimento global e por outros fatores de stress.
Desde 2017, a associação de jardineiros da Polinésia “Los colores perdidos”, criada por Titouan Bernicot, um jovem de apenas 18 anos, conseguiu plantar mais de 100 mil corais, constituindo um marco nos esforços para restaurar a saúde dos ecossistemas marinhos. Mas seu compromisso não pára aqui; eles perseveram na sua ambiciosa missão de atingir a meta de um milhão de corais plantados.
O nome da associação faz referência à dolorosa realidade do branqueamento que os corais sofrem antes de morrerem. Este fenômeno, impulsionado principalmente pelo aumento da temperatura da água, desencadeia um processo devastador em que os corais expelem as algas simbióticas que lhes fornecem a sua cor e os nutrientes característicos.
Corais ficando cada vez mais brancos
A causa subjacente do branqueamento dos corais é tão complexa quanto o próprio coral: os corais são criaturas um tanto fantásticas, compostos por milhares de pólipos que lhe dão vida e a bela cor. Um pólipo é um pequeno animal com esqueleto calcário que vem da família das águas-vivas. Esses pólipos se alimentam de microplâncton e excrementos de microalgas, as chamadas zooxantelas, com as quais vivem em simbiose.
Porém, quando a temperatura do mar atinge níveis críticos, em torno de 28°C, as zooxantelas começam a produzir substâncias tóxicas prejudiciais aos pólipos. Em resposta a esta ameaça, os pólipos expulsam as zooxantelas, privando-se assim da sua principal fonte de alimento, levando ao branqueamento dos corais e à fome dos pólipos.
Se as temperaturas permanecerem elevadas, os pólipos não podem regressar, levando à deterioração e eventual morte do coral. Quando um coral morre, a restauração do recife torna-se uma tarefa monumental e, em muitos casos, quase impossível.
Como é o trabalho dos jardineiros de corais
Os jardineiros de corais possuem um método inovador para restaurar recifes. Primeiro, eles coletam fragmentos de corais danificados, os limpam e depois os prendem a varas de bambu antes de serem “plantados” a uma profundidade de 2 metros, onde ficam protegidos das correntes.
Os corais permanecem nessas “fazendas aquáticas” por aproximadamente um mês, tempo necessário para se adaptarem ao novo ambiente.
Depois de atingirem tamanho e condição saudáveis, são reintroduzidos em ambientes naturais onde podem continuar seu crescimento. Posteriormente, os corais regenerados e fortalecidos são replantados em recifes danificados ou mortos.
Para realizar este trabalho, os jardineiros de corais observam e documentam meticulosamente o crescimento das mudas, adquirindo conhecimentos valiosos sobre a vida dos corais. O objetivo é descobrir quais espécies são menos sensíveis ao aumento da temperatura e da acidez da água.
Ao aumentar a conscientização sobre a crise dos corais, Bernicot espera inspirar as pessoas a participarem ativamente na salvação dos recifes. Através do site Coral Gardeners é possível adotar um coral por 25 euros, dar-lhe um nome e acompanhar o seu crescimento, graças ao cuidado dedicado dos jardineiros de corais.