Mércurio do garimpo ilegal está causando danos neurológicos na população Yanomami, aponta Fiocruz

Garimpo ilegal na Terra Yanomami está colocando em risco a saúde dos indígenas. Contaminação por mercúrio prejudica as funções neurológicas!

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Saúde dos Yanomami está em risco devido ao garimpo ilegal na região Amazônica. Foto: Fiocruz.

A crise sanitária que atinge a terra indígena Yanomami ganhou destaque nos últimos anos, relacionada ao avanço do garimpo ilegal, que tem levado fome, desnutrição, doenças infecciosas e recentemente, a contaminação por mercúrio para essa população.

Uma nova pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) juntamente com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio buscou observar o impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia, com ênfase na comunidade Yanomami.

Pesquisa revela que mercúrio está causando danos neurológicos nos Yanomami

Os resultados foram obtidos a partir da análise de amostras de cabelos colhidas em outubro de 2022, evidenciando uma situação preocupante a respeito das consequências do garimpo ilegal de ouro na região.

Existem metais, como o zinco, o ferro e o selênio, que têm uma importância para o organismo, envolvidos no metabolismo do ser humano. O ferro, por exemplo, faz parte da formação da hemoglobina, mas o mercúrio não desempenha nenhum papel no metabolismo humano, e por isso, ele é considerado um contaminante químico

De acordo com os resultados da pesquisa, a neuropatia periférica e o desempenho cognitivo reduzido foram as principais consequências neurológicas encontradas.

Mas o que é neuropatia periférica? Nada mais é do que doenças que afetam os nervos ao longo do corpo, alterando a força e a sensibilidade nos braços, mãos, pernas e pés, sendo a causa mais conhecida, a diabete. E o desempenho cognitivo reduzido afeta ações como memória, aprendizado, linguagem e concentração.

A neuropatia periférica foi encontrada em 30% dos indígenas que participaram do estudo, enquanto o desempenho cognitivo reduzido, em 35% deles. Por outro lado, entre os 10% que apresentaram níveis de metilmercúrio no organismo acima de 6 microgramas por grama de cabelo, valor equivalente a seis vezes o limite recomendado pela agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, mais de 75% das pessoas apresentaram neuropatia periférica, e mais de 90% tinham o desempenho cognitivo reduzido.

"É apenas a ponta do iceberg!"

Este tipo de contaminação ocorre quando o mercúrio cai no ambiente e reage com as moléculas, formando compostos que acabam entrando na cadeia alimentar e sendo ingeridos pelos seres vivos na região. E a forma mais segura e eficaz de medir os níveis de metilmercúrio acumulado no organismo ao longo do tempo, é através do cabelo.

De acordo com Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz, nos últimos anos a região do Alto Rio Mucajaí foi extremamente invadida por garimpeiros, porém, a exposição dos indígenas ao mercúrio teve início na década de 1980 devido ao potencial devastador maior do garimpo.

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Efeitos do garimpo nos Yanomami revela dados alarmantes. Fonte: Fiocruz.

Também foram abordados dados como a falta de acesso a serviços de saúde e os efeitos do garimpo na região. Entre as crianças, apenas 15% está com a vacinação em dia, e a contaminação por mercúrio atinge também os peixes e os sedimentos dos rios da região, além de toda a população analisada.

No relatório, além das pesquisas voltadas à contaminação do mercúrio, também constam dados sobre a saúde dos Yanomami Ninam, com informações sobre medidas antropométricas, doenças transmissíveis e crônicas, avaliações pediátricas e características sociodemográficas de 300 pessoas de nove aldeias na região do Alto Rio Mucajai. Paulo reforça que o mercúrio é só a ponta do iceberg dos problemas relacionados ao garimpo.

Referência da notícia:

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Yanomamis de nove aldeias assediadas pelo garimpo estão contaminados por mercúrio.