Meses após as inundações, Amazonas vive agora uma seca severa. Por que?
O estado do Amazonas vive uma das piores estiagens em anos, colocando em risco o abastecimento e transporte de milhares de comunidades ribeirinhas. Alguns dos principais rios da região secaram a ponto de serem atravessados a pé!
Apenas alguns meses após enfrentar as cheias dos rios, que invadiram plantações e diversas cidades no estado do Amazonas, o cenário vivido atualmente é o completo oposto: o estado do Amazonas vive uma situação de seca severa que fez com que o nível de seus rios baixasse drasticamente!
Segundo último relatório de estiagem divulgado pela Defesa Civil do estado, 17 municípios estão em situação de atenção, 34 em estado de alerta e 8 em estado de emergência. A classificação de gravidade vai de estado de atenção, alerta e por último emergência, quando a situação é crítica.
Alguns municípios na calha do Rio Solimões enfrentam uma das maiores vazantes registradas. Na sexta-feira, o rio Solimões registrou uma cota de 6,54 metros na cidade de Manacapuru, muito inferior à cota máxima registrada em junho deste ano, de 20,46 metros, o que representa uma vazante de 13,92 metros em quatro meses!
A cidade de Anamã, que chegou a ficar 100% inundada pelas águas do Rio Solimões neste ano, agora enfrenta problemas de acesso e abastecimento devido ao baixo nível da água no canal de acesso a cidade, que não permite que as embarcações de maior porte cheguem ao porto. Em uma comunidade de Tefé, a estiagem fez com que vários bancos de areia surgissem ao longo do Rio Solimões, sendo possível atravessá-lo a pé em alguns pontos!
Essa situação afeta a população da capital e interior do estado, já que prejudica diretamente o principal meio de transporte de pessoas e cargas, além do abastecimento de água da população. Na capital Manaus, o nível do Rio Negro chegou a 13,56 metros. Lembrando que em junho do ano passado o rio chegou a marca história de cheia de 29,75 metros na capital amazonense.
A situação não se restringe ao Amazonas! No interior do Acre, a cidade de Bujari decretou situação de emergência devido à crise hídrica iniciada em setembro deste ano e que foi agravada nos últimos dias. Em Porto Velho, capital de Rondônia, o Rio Madeira registrou no dia 19 de setembro o nível de 1,44 metro, o mais baixo desde que os registros começaram em 1998.
De acordo com especialistas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a vazante começou um pouco mais tarde nesse ano, mas foi mais severa, principalmente no Rio Solimões. Isso porque foi registrado um déficit de chuvas na região da cabeceira dos rios nos últimos meses, isso acentuou o ritmo de vazante. Os últimos meses caracterizam a estação seca, porém, essa estação seca foi mais seca que o normal.
O que tem causado essa seca?
Ainda não é possível afirmar as principais causas dessa seca em partes da região amazônica. Inclusive, pode até parecer contraditória essa situação, já que ainda vivemos uma fase de La Niña no Pacífico Tropical, padrão que geralmente gera chuvas acima da média na região Norte e Nordeste do Brasil. Porém, temos que ter em mente que nem sempre a La Niña (ou El Niño) é o grande modulador do clima!
Toda a região Amazônica é influenciada pelas condições atmosféricas e oceânicas registradas no Oceano Atlântico Tropical. Às vezes o Atlântico tem uma maior importância que o Pacífico em modular o clima da região. Isso porque o Atlântico é a principal fonte de umidade para a convecção que se forma sobre a Amazônia. Essa umidade chega à região através dos ventos alísios.
O que temos observado nos últimos meses é que os ventos alísios estão mais fracos que o normal sobre o Atlântico Tropical, e isso estaria prejudicando o transporte de umidade para o interior da amazônia e, consequentemente, a formação de chuvas. Uma das possíveis causas do enfraquecimento dos alísios seria a fase negativa da Oscilação do Atlântico Norte, que está associada a um enfraquecimento do sistema de alta pressão que atua no Atlântico Norte, a chamada Alta dos Açores. A intensidade desse sistema influencia diretamente a intensidade dos alísios de nordeste, que sopram em direção ao norte da América do Sul.
Com o gradual início da estação chuvosa pelo Brasil, a convecção já tem voltado a se formar com mais força sobre o Norte do país. Portanto, a tendência é que os rios comecem a encher lentamente, num ritmo mais devagar que o de vazante, a partir deste mês de novembro.