Misteriosos raios vermelhos nas tempestades de Buenos Aires: observação inédita de “sprites”
Muitas pessoas observaram raios vermelhos no céu com a chegada de uma tempestade em Buenos Aires. Foi divulgado um material cinematográfico inédito sobre 'sprites' capturados por caçadores de tempestades, e falamos com um deles.
Buenos Aires tenta aos poucos voltar à normalidade depois do grande golpe causado pela tempestade mais severa em pelo menos uma década, na madrugada do último domingo (17). Alguns dias já se passaram desde o evento e ainda são observados transtornos, como ruas e avenidas intransitáveis devido à queda de centenas de árvores e cortes de energia.
A comunidade científica está de acordo sobre o acontecimento meteorológico ocorrido: um sistema de tempestades organizadas ao longo de centenas de quilômetros que adquiriram uma certa curvatura, fenômeno conhecido como “derecho” e caracterizado por rajadas violentas, que podem eventualmente conter um ou mais tornados, embora isso não tenha sido confirmado até o momento neste caso.
Recentemente, do Aeroparque, onde foram vistas cenas incríveis de aviões girando devido à força do vento, foram divulgados dados de rajadas que indicavam um valor de 143 km/h, o maior registrado em todo o AMBA até o momento. A zona apresenta um maior grau de destruição comparativamente à área ao redor, o que sugere que ali poderá ter havido um máximo de severidade.
Mas outro tema que tem sido muito comentado é a observação de raios vermelhos com a chegada das tempestades. Testemunhamos um fenômeno luminoso maravilhoso e incomum na alta atmosfera chamado sprite, que denota a severidade da tempestade que atingiu Buenos Aires.
O que são sprites?
A meteorologista Marina Fernández explicou que os sprites pertencem a um grupo bastante misterioso e colorido de fenômenos naturais chamados Eventos Luminosos Transientes (TLE, em inglês), que ocorrem na mesosfera.
Os sprites, também conhecidos como "wraiths" ou "red sprites", são produzidos quase simultaneamente ao raio que os desencadeia, ou com um pequeno atraso de até 150 milissegundos. Em noites com clara visibilidade sobre poderosas tempestades distantes, é possível vê-los e capturá-los em fotos.
Relatos visuais de espectros vermelhos datam do século 18, mas a ciência levou mais alguns séculos para descrevê-los pela primeira vez, quando foram capturados acidentalmente em 1989. Anos depois, em 1994, a Universidade do Alasca conseguiu tirar a primeira imagem colorida de um sprite de uma espaçonave da NASA, com sua característica cor vermelha.
Como os sprites se formam?
Numa tempestade, um raio pode alterar abruptamente um campo elétrico que desencadeia um flash secundário numa espécie de efeito dominó; os sprites também são iniciados por uma grande mudança no campo elétrico que ocorre durante a queda de um raio.
Normalmente os relâmpagos emergem da região inferior da nuvem e apresentam polaridade negativa, mas às vezes surgem relâmpagos com polaridade positiva (são muito mais potentes e perigosos). Estes flashes principais transferem grandes quantidades de carga e quase sempre têm polaridade positiva, o que significa que a Terra ganha rapidamente uma carga líquida positiva. Mas os grupos de carga positiva próximos ao topo dos complexos de tempestades também mudam, ganhando abruptamente carga negativa.
Isto cria repentinamente um poderoso campo elétrico entre o topo das tempestades e uma alta concentração de íons carregados positivamente a cerca de 100 km na parte inferior da ionosfera. É esse novo desequilíbrio que pode iniciar um sprite.
Imagens dos sprites capturadas no Uruguai
Devido à sua rápida formação, não pode ser acompanhado com os olhos, mas sua estrutura vertical e cor vermelha podem ser percebidas, como relataram muitas pessoas em Buenos Aires na manhã de domingo. Eles são difíceis de capturar porque duram aproximadamente apenas 20 milissegundos e ocorrem em altitudes muito elevadas.
Matías Mederos, jovem observador meteorológico e caçador de tempestades uruguaio, conseguiu registrar do outro lado do Rio da Prata os sprites produzidos nas intensas tempestades sobre Buenos Aires, gerando um material cinematográfico inédito na América do Sul e de grande valor científico.
Em declarações exclusivas à Meteored Argentina, Mederos disse: “Capturei as imagens em Ciudad de la Costa, em Canelones, em direção a Buenos Aires e usando uma câmera Nikon Z5 sem espelho”.
Mederos define sprites como “um espectro vermelho que ocorre quando há um raio muito poderoso na tempestade (raio positivo), criando assim um campo elétrico forte e repentino entre a atmosfera e a tempestade, produzindo o fenômeno”.
O caçador de tempestades uruguaio diz que ainda não foi procurado pela área científica para disponibilizar seu material, embora a notícia tenha tido bastante repercussão na mídia, tanto no Uruguai quanto internacionalmente.
Gabriel Zaparolli é outro caçador de tempestades e astrofotógrafo brasileiro, que também tirou imagens fascinantes dos sprites em Buenos Aires. Zaparolli conta em seu perfil no YouTube, onde hospedou o vídeo editado, que estava viajando pela cidade de Durazno, no Uruguai, onde estava acontecendo um evento de balonismo. Ao aproximar-se a noite, e sabendo do potencial severo que a tempestade teria, ele posicionou sua câmera para sudoeste, onde conseguiu capturar fotos de enormes grupos de “red sprites”.