Morre Katherine Johnson, a matemática que levou o homem a Lua
Morreu nesta semana Katherine Johnson, a matemática que participou ativamente dos cálculos da Missão Apollo 11, que levou o homem à Lua. Apesar de seu brilhantismo, Johnson teve que vencer inúmeras barreiras por ser mulher e afro-americana em uma época de segregação racial e invisibilidade feminina.
A matemática Katherine Johnson faleceu nesta segunda-feira (24) aos 101 anos. Nas palavras de James Bridenstine, administrador da NASA, Johnson foi uma heroína estadunidense e seu legado nunca será esquecido. Em uma época em que os "afro-americanos" e mulheres não tinham direitos plenos de um cidadão americano, ela se tornou um dos símbolos na luta por igualdade nas ciências e tecnologia.
Já quando criança, Johnson mostrava surpreendente habilidade com números. Ela se graduou em matemática e francês com 18 anos de idade, em uma época de forte segregação racial nos Estados Unidos (EUA) - "pessoas de cor", como eram chamados afro-descendentes, não podiam frequentar qualquer instituição de ensino.
Sua paixão pela pesquisa a fez se inscrever em um processo seletivo no Comitê Nacional de Alertas da Aeronáutica (NACA), antiga Agência Nacional Espacial Americana (NASA). Lá ela passou 4 anos na Divisão de Pesquisa de Voos analisando dados de testes e conduziu uma pesquisa sobre acidentes de aviões causados por esteira de turbulência, uma perturbação na atmosfera que se forma atrás de uma aeronave.
Quando a NACA virou NASA em 1958, Johnson havia trabalhado com grande parte dos engenheiros que faziam parte do grupo de atividades espaciais, e acabou sendo "automaticamente" integrada a nova equipe. Já na NASA ela fez a análise da trajetória do astronauta Alan Shepard na primeira missão estadunidense tripulada.
Em 1960 ela foi a primeira mulher a receber créditos como autora em um relatório científico de sua divisão, pelo relatório feito com Ted Skopinski sobre o ângulo de lançamento necessário para colocar um satélite em uma determinada órbita terrestre. Na época, apesar de mulheres participarem dos cálculos, não era comum que fossem incluidas como autoras.
Um de seus trabalhos mais emblemáticos, foi o cálculo para o retorno seguro do astronauta John Glenn após um voo orbital em 1962. Na época, os computadores entravam em cena como calculadoras gigantes que permitiam resultados mais rápidos e precisos. As equações que controlariam a trajetória da cápsula de Glenn do momento da ejeção até atingir a superfície do mar eram complexas e ele não confiava nas máquinas, que estavam suscetíveis ainda a algumas falhas e a problemas de queda de energia.
John Glenn colocou como pré-requisito para sua ida que as contas fossem conferidas por Johnson. Ela chegou ao mesmo resultados que os computadores, fazendo as contas "na mão". Johnson dizia se lembrar de Glenn falando "se ela diz que está bom, então eu estou pronto para ir" [NASA]. A missão de Glenn foi um sucesso e se tornou um marco na corrida espacial entre EUA e União Soviética.
Johnson ainda participou dos cálculos da sincronização dos módulos lunares na Missão Apollo 11, que levou o homem à Lua. A cientista, que assina a autoria ou co-autoria de 26 relatórios científicos, se aposentou em 1986. Em 2015 Katherine Johnson recebeu a mais alta condecoração civil dos EUA das mãos do então presidente Barack Obama: a medalha presidencial da liberdade.
Apesar de seu brilhantismo, a história de Katherine Johnson só ficou amplamente conhecida após o lançamento do filme "Estrelas além do tempo" (2016), inspirado no livro homônimo de Margot Lee Shetterly. A obra relata os desafios das matemáticas Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, mulheres negras que trabalhavam na NASA em 1961 e faziam parte da equipe chamada "computadores humanos", que ficaram no anonimato por anos.