Múmias alienígenas: verdade ou apenas um espetáculo?
A apresentação de supostos cadáveres alienígenas em uma sessão no Congresso pelo ufólogo mexicano Jaime Maussan reacende o interesse pelas “Múmias de Nazca”. Prodígio ou fraude?
"Fabio Zerpa tem razão. Há marcianos entre o povo. Não sei o que eles querem nem de onde são. Nem o que fazem aqui na terra", diz a canção de Andrés Calamaro dedicada ao ufólogo midiático argentino. Mas será assim?
No final de julho, três militares norte-americanos reformados testemunharam sob juramento numa audiência no Congresso que o governo dos Estados Unidos está escondendo provas sobre a descoberta e posse de espaçonaves e restos biológicos "não humanos". A audiência foi intitulada “Fenômenos Anômalos Não Identificados (FANI): Implicações para a Segurança Nacional, Segurança Pública e Transparência Governamental” e foi convocada pelo Subcomitê de Segurança Interna e Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, em Washington (EUA).
As declarações não forneceram nada de concreto: tanto Ryan Graves como David Fravor, dois ex-pilotos da Marinha dos EUA, testemunharam que durante o voo se depararam com objetos que não conseguiram identificar ou associar a aeronaves conhecidas. David Grusch, um veterano de combate e ex-oficial do Escritório de inteligência do Pentágono, foi quem fez as declarações mais explosivas, indicando que “acredita” que o governo norte-americano possui vários OVNIs, bem como restos biológicos dos seus operadores “não-humanos”. Grusch não apresentou provas e as suas declarações basearam-se apenas em comentários de terceiros: ele não viu nada em primeira mão.
Aliens no Congresso mexicano
Na terça-feira, 12 de setembro, o Congresso Mexicano realizou uma Audiência Pública sobre o que hoje é chamado de FANI, sigla para 'Fenômenos Anômalos Não Identificados', anteriormente conhecidos como 'OVNIs'. Perto do final, o ufólogo midiático Jaime Maussan, diretor do programa Tercer Milenio, responsável pela condução da sessão, anunciou “uma surpresa”.
A surpresa em questão foi que – à vista de todos – abriram alguns pequenos sarcófagos que continham dois corpos dissecados de “seres não humanos”. Enquanto aqueles caixões eram abertos, Jaime Maussan indicou:
Segundo Maussan, os dois corpos mumificados de supostos extraterrestres teriam sido encontrados em Nazca, no Peru. E acrescentou que: "Segundo a Universidade Autônoma do México, que realizou a análise do carbono 14, esses seres têm cerca de 1.000 anos, ou seja, não são seres que foram recuperados em naves que caíram, mas sim são seres que estavam enterrados em minas de diatomáceas, uma alga fossilizada com 17 milhões de anos, é o fitoplâncton que era abundante naquela época e quando desapareceu ficou fossilizado”.
Por fim, foram apresentadas evidências sobre a existência de seres extraterrestres em nosso planeta, em sessão no Congresso e sob juramento. Mas declarar sob juramento não torna algo real... implica apenas que o declarante está convencido de que aquele fato é real.
As Múmias de Nazca
Em 2016, uma descoberta arqueológica pareceu revolucionar a história: na cidade de Nazca, no Peru, ‘múmias humanoides’ fizeram com que a comunidade científica se envolvesse na descoberta de corpos que foram rapidamente classificados como extraterrestres por círculos pseudocientíficos.
Acontece que as chamadas ‘múmias humanoides tridáctilas de Nazca’ apresentam características estranhas à raça humana: além dos três dedos em cada mão, possuem crânios alongados e torsos estreitos. No entanto, investigadores e cientistas duvidam da origem e veracidade destas múmias, indicando que podem ser restos pré-colombianos modificados para terem uma aparência alienígena.
Com que propósito eles fizeram isso? Provavelmente econômico. Aqui vemos um vídeo promocional de um especial sobre “As Múmias de Nazca”, onde Jaime Maussan tem participação ativa:
Enganados pela fraude
Jaime Maussan envolveu a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) em sua apresentação, garantindo que a instituição realizou uma análise de carbono-14 nas múmias e determinou que elas tinham 1.000 anos de idade. No dia seguinte, e devido à divulgação do fato, a UNAM esclareceu a sua participação na investigação, indicando que se limitou a “determinar a idade da amostra que cada usuário traz e em nenhum caso extraímos conclusões sobre a origem das referidas amostras”, o que contraria um dos argumentos de Maussan.
O principal convidado do “show” no Congresso mexicano foi Ryan Graves, um dos palestrantes da sessão especial sobre FANI no Congresso dos Estados Unidos. Diante de tal espetáculo, Graves, decepcionado, postou a seguinte mensagem nas redes sociais:
De acordo com Carl Sagan, “alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias”.
Neste momento, ainda não chegaram provas extraordinárias. Num caso como esse, o agente Fox Mulder, de Arquivo X, não desistiria, “não enquanto a verdade estiver por aí”.