Mundo animal: nova vacina contra câncer para cães dobra a sua taxa de sobrevivência
Uma vacina desenvolvida para tratar o câncer em cães já diagnosticados mostrou resultados promissores em testes clínicos, dobrando as chances de sobrevivência do animal.
O câncer é uma doença que atinge não só o ser humano, mas também os animais. E os tratamentos também são semelhantes. Por exemplo, a quimioterapia. Com tratamentos convencionais como este, cães com certos tipos de câncer têm 35% mais chances de sobreviver por um período extra de um ano.
Agora, com o desenvolvimento dessa vacina para tratar a doença em cães já diagnosticados, essa probabilidade sobe para 60%, quase o dobro de chance de sobrevivência no período extra de um ano. Essa descoberta foi publicada anteriormente na revista Translational Oncology em 2021, mas só chegou ao conhecimento do público no dia 5 de março, quando foi divulgada pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
O desenvolvimento e testes clínicos da vacina
A vacina tem passado por testes clínicos desde 2016, mostrando resultados promissores. Conhecida oficialmente como Canine EGFR/HER2 Peptide Cancer Immunotherapeutic (Imunoterápico de Peptídeo de Câncer Canino EGFR/HER2), a vacina surgiu de estudos sobre doenças autoimunes, onde o sistema imunológico ataca o próprio tecido do corpo em vez de ameaças invasoras. Ela é projetada para fazer com que o sistema imunológico ataque o câncer.
"Cães, assim como humanos, desenvolvem câncer espontaneamente; eles crescem, metastatizam e mutam, assim como os cânceres humanos", disse Mark Mamula, professor de reumatologia na Escola de Medicina de Yale e um dos desenvolvedores da vacina.
As células imunológicas produzem anticorpos, que encontram e se ligam aos tumores, interferindo com as vias de sinalização responsáveis pelo crescimento tumoral. Esses anticorpos buscam duas proteínas: receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2).
Os tratamentos existentes que direcionam as proteínas EGFR e HER2 utilizam apenas um tipo de anticorpo. Esta nova vacina aumenta seus efeitos criando uma resposta policlonal – que envolve anticorpos de várias células imunológicas ao invés de apenas uma, o que faz com que seja mais difícil para o câncer se tornar resistente ao medicamento. O tratamento é uma forma de imunoterapia e está atualmente sob revisão pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Resultados promissores
A vacina foi testada em quase 300 cães nos Estados Unidos e Canadá durante esses oito anos (desde 2016), e dobrou a taxa de sobrevivência de um ano nos animais: saltou de cerca de 35% para 60%. Os tumores em muitos dos cães também diminuíram.
Um exemplo de caso é a fêmea da raça Golden Retriever, de 11 anos, chamada Hunter. Ela foi diagnosticada em 2022 com osteossarcoma (um tumor ósseo) em uma das patas e passou por uma amputação. Realizou tratamento de quimioterapia juntamente com a vacina. Dois anos após seu diagnóstico inicial, ela está curada da doença, não apresentando mais sinais de câncer.
Agora, o próximo passo do estudo é entender se a vacina pode também ser usada para a prevenção do câncer em cães, ou seja, para reduzir a incidência de tumores em cães saudáveis.
Referências da notícia:
Doyle, H. A. et al. Vaccine-induced ErbB (EGFR/HER2)-specific immunity in spontaneous canine cancer. Translational Oncology, v. 14, n. 11, 2021.
Yale News. “Novel cancer vaccine offers new hope for dogs — and those who love them”. 2024.