Novo estudo de atribuição: "essas ondas de calor extremo não podem ser explicadas sem a mudança climática"
Um estudo publicado na última terça-feira pela WWA atribui as várias ondas de calor extremo que ocorreram em diferentes regiões da Terra em julho às mudanças climáticas.
A magnitude e a frequência das anomalias quentes que estão ocorrendo em escala global neste ano, tanto no ar da baixa atmosfera quanto nas águas superficiais dos oceanos, bem como alguns padrões meteorológicos anômalos observados, estão chamando a atenção dos especialistas em clima.
As ondas de calor extremo que ocorreram em diferentes regiões da Terra, como América do Norte, sul da Europa ou noroeste da China causaram registros extraordinários de temperatura, quebrando recordes de calor novamente.
Parece claro que essa circunstância não pode ser desvinculada do aquecimento global, mas para comprová-la é necessário um estudo de atribuição, como o oportunamente divulgado hoje (25) pela WWA (World Weather Attribution).
O que é a WWA (World Weather Attribution)?
Este grupo de trabalho (WWA) foi lançado em 2015 pelo Dr. Geert Jan van Oldenborgh e pelo Dr. Friederike Otto. Atualmente, a equipe principal da WWA é composta por pesquisadores de várias instituições em diferentes países, bem como do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Seus estudos de atribuição são uma ferramenta valiosa para melhorar nosso conhecimento de como o clima da Terra está se comportando e a singularidade dos fenômenos extremos que estão sendo observados em todos os cantos do planeta.
Este tipo de estudo permite relacionar um determinado fenômeno meteorológico extremo (ou um conjunto deles, como as cúpulas de calor deste mês de julho) e as mudanças climáticas. Além disso, tem a importância de poder ser realizado rapidamente, proporcionando os resultados poucos dias após a ocorrência do extremo climático.
Sem o aquecimento global, essas ondas de calor extremo seriam muito pouco prováveis
Este último estudo de atribuição da WWA mostrou que, sem o aquecimento global de origem principalmente antropogênica, teria sido muito improvável (extremamente raro no caso da China e impossível nos casos dos EUA/México e sul da Europa) que essas ondas de calor simultâneas tivessem ocorrido com a magnitude que alcançaram, dando origem a tais picos de calor extremos.
Os responsáveis por este estudo de atribuição apontam que esses eventos extremos de calor já não são raros hoje, com seus períodos de retorno sendo significativamente reduzidos. As mudanças climáticas fazem com que as temperaturas máximas nas ondas de calor analisadas atinjam +2,5°C no sul da Europa, +2°C na América do Norte e aproximadamente +1°C na China, o que não ocorreria se não houvesse o aquecimento global. Se a temperatura média global atingir +2ºC em relação aos valores pré-industriais, uma onda de calor extremo como as recentes ocorrerá a cada 2 a 5 anos.
Mais duas explicações para esse calor
Paralelamente ao aparecimento deste estudo de atribuição, começa a ganhar força entre a comunidade científica a hipótese de que a extraordinária quantidade de vapor de água que a violenta erupção do vulcão submarino Hunga Tonga –ocorrida no oceano Pacífico em 14 de janeiro de 2022 – lançou para a estratosfera (atingindo até a mesosfera), poderá explicar, pelo menos em parte, as grandes anomalias quentes que vivemos até ao momento este ano.
Um dos fatos que mais surpreende os cientistas é o aquecimento extraordinário que as águas superficiais do Atlântico Norte vêm registrando desde o início do ano. Espera-se também que o evento El Niño iniciado em maio passado no Oceano Pacífico contribua para o aumento da temperatura em escala planetária, cuja intensidade continuará aumentando nos próximos meses.
É provável que acabe se transformando em um El Niño moderado ou forte, que, somado ao restante das circunstâncias mencionadas, deixará o famoso +1,5 ºC a poucos passos de distância de chegar. Tudo indica que veremos um primeiro pico (transitório) com essa anomalia quente em escala global antes do esperado.