O lúpulo e sua promissora adaptação ao Cerrado: uma nova oportunidade para a agricultura e a cervejaria artesanal

O cultivo de lúpulo no Cerrado está ganhando destaque no Brasil. Com adaptação ao clima local, ele se torna uma alternativa promissora para produtores rurais e cervejarias artesanais, fortalecendo o mercado de cervejas nacionais.

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Com tecnologia e pesquisa, o lúpulo no Cerrado se torna realidade.

O lúpulo (Humulus lupulus L.), um dos principais ingredientes na produção de cerveja, tem despertado cada vez mais interesse no Brasil, especialmente no Distrito Federal. Tradicionalmente cultivada em regiões temperadas da Europa e dos Estados Unidos, a planta encontrou no Cerrado brasileiro um ambiente adequado para seu cultivo, surpreendendo muitos produtores e se mostrando uma alternativa econômica promissora.

O papel do lúpulo na cerveja

O lúpulo é uma trepadeira cujas flores são utilizadas principalmente na fabricação de cervejas, fornecendo à bebida seu amargor característico e uma variedade de aromas, como florais, cítricos e frutados. Embora seu uso seja limitado em quantidade na produção de cervejas, ele é um ingrediente essencial, contribuindo significativamente para o sabor final. No Brasil, até recentemente, quase todo o lúpulo era importado, o que elevava o custo de produção das cervejarias artesanais e dificultava a criação de um produto 100% nacional.

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O cultivo de lúpulo no Brasil traz novos sabores às cervejas artesanais.

O clima quente e seco do Cerrado, caracterizado por períodos de chuva concentrados e longos meses de seca, foi um desafio para muitos tipos de agricultura, mas o lúpulo surpreendeu pela sua capacidade de adaptação. No Distrito Federal, produtores locais, como a Tatu Hops, pioneira na região, têm apostado na cultura e obtido resultados positivos. A planta demonstrou uma resiliência notável às condições locais, algo que antes era considerado improvável, visto que o lúpulo é tradicionalmente associado a climas frios e úmidos.

A adaptação do lúpulo ao Cerrado é resultado de diversas pesquisas e testes de campo que permitiram a escolha das variedades mais adequadas ao solo e clima locais. Variedades como a Cascade e a Chinook, que também são amplamente usadas em outros países, foram testadas e cultivadas com sucesso, proporcionando colheitas de qualidade que atendem às demandas das cervejarias locais.

Oportunidades econômicas e sustentabilidade

Com a adaptação da planta ao Cerrado, abre-se uma nova oportunidade para os produtores rurais, que agora podem explorar um mercado antes dominado por produtos importados. Isso também fortalece o mercado local, criando uma cadeia produtiva mais sustentável e de menor impacto ambiental.

A possibilidade de produzir lúpulo no Brasil, e especificamente no Cerrado, permite uma redução dos custos logísticos, além de oferecer um ingrediente fresco para as cervejarias artesanais da região.

Além disso, o cultivo no Cerrado apresenta um ciclo de produção relativamente curto — em torno de seis meses — o que aumenta a atratividade da cultura. O uso de tecnologias como a irrigação por gotejamento tem sido crucial para garantir o sucesso das colheitas, especialmente em regiões mais secas, como Brazlândia, onde a produção de lúpulo já está em fase de expansão.

Desafios e futuro do lúpulo no Brasil

Apesar do sucesso inicial, ainda existem desafios a serem superados. Pragas como os nematoides e lagartas-roscas são uma preocupação constante para os agricultores, exigindo controle rigoroso e assistência técnica. No entanto, o suporte de instituições como a Emater-DF tem sido fundamental para capacitar os produtores e promover boas práticas agrícolas.

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Lagarta rosca (Agrotis ipsilon).

O futuro do lúpulo no Brasil parece promissor. À medida que mais produtores adotam a cultura e refinam suas técnicas de produção, a expectativa é que o lúpulo brasileiro ganhe ainda mais destaque no mercado, especialmente com o crescente número de cervejarias artesanais que buscam ingredientes de alta qualidade e de origem local.

Com o tempo, podemos ver o Cerrado se consolidando como uma nova fronteira para o cultivo de lúpulo, contribuindo não só para a economia local, mas também para a criação de cervejas com identidade brasileira.

Referência da noticia:

GUIMARÃES, B. P., DUTRA, R. C., CARMO, T. S., SUAREZ, P. A. Z., & GHESTI, G. F. (2024). Characterization of Brazilian Cascade and Chinook hops and their dry-hopped beer. Food Science and Technology, 44.