O orégano é, de fato, uma erva “milagrosa” que melhora a digestão e alivia a tosse e dores?

Agora, a sociedade começou a adorar esse tempero que faz maravilhas em nossas pizzas: o orégano. Acontece que, ultimamente, ele parece ter 'saltado' do prato para o armário de remédios como se fosse uma nova cura milagrosa.

Você pode não acreditar, mas dizem que ele melhora a digestão e alivia dores e a tosse. Hoje, desvendaremos aqui esses mitos.

Melhoria da digestão?

Comecemos com uma das afirmações mais difundidas: “O orégano melhora a digestão”. Sim, é verdade que contém compostos como o carvacrol e o timol, conhecidos pelas suas propriedades antimicrobianas. Existem até estudos que sugerem que estes compostos podem ajudar a combater infecções gastrointestinais causadas por bactérias como E. coli ou Salmonela.

Porém, não devemos confundir a capacidade de eliminar bactérias com a melhoria da digestão, pois bem, nem ingerimos o suficiente para eliminar qualquer bactéria.

Você tem digestão pesada? Muito provavelmente, o seu problema não é a falta de orégano, mas sim fatores como a quantidade de fibras, o excesso de gordura ou o ritmo da refeição. O orégano pode adicionar um sabor fantástico à sua salada, mas não é um atalho para evitar a indigestão. Olhe para a comida, não para o tempero.

Alivia a tosse e a dor?

A tosse é outro dos 'alvos' favoritos do orégano. Há quem afirme que beber uma infusão desta erva acalma a garganta e reduz os episódios de tosse. É aqui que a ciência começa a vacilar. Alguns estudos preliminares indicam que o carvacrol poderia ter efeitos anti-inflamatórios, o que, em teoria, poderia ser útil em condições respiratórias leves. Mas o que dizem as evidências?

Bem, não existem ensaios clínicos sólidos que confirmem que uma infusão de orégano tenha um efeito mais poderoso do que um copo de leite com mel, que basicamente hidrata e acalma mecanicamente a irritação da garganta.

E sobre a dor, embora o óleo essencial de orégãos tenha sido investigado pelas suas propriedades analgésicas em testes in vitro ou em animais, não há apoio suficiente para recomendá-lo como tratamento da dor em humanos.

O lado negro: risco de aborto espontâneo

Agora vem a parte mais delicada do assunto. O orégano é abortivo quando consumido em grandes quantidades, por exemplo, fazendo infusões para tosse porque não quer tomar remédio e você está grávida (consulte seu médico antes de tentar algo “natural”).

Uma pitada de orégano na lasanha não é a mesma coisa que beber infusões concentradas ou usar óleos essenciais sem controle.

Infelizmente, não estamos lidando aqui com um mito infundado. Estudos sugerem que certos compostos presentes no orégano, como o timol e o carvacrol, poderiam ter efeitos uterotônicos, ou seja, capazes de estimular as contrações uterinas. Embora não exista muita literatura científica que confirme esta relação em humanos, há base teórica suficiente para alertar sobre o risco.

Não precisamos transformar todos os alimentos em uma panaceia para justificar o seu consumo. O orégano é uma planta maravilhosa pelo seu sabor, pelo seu aroma e, sim, pelas suas propriedades antimicrobianas em contextos muito específicos. No entanto, não é uma solução mágica para problemas digestivos, dores ou tosse, muito menos um remédio abortivo “seguro”.

Na época em que você estava morrendo por não comer e não havia medicamentos, a frase “deixe sua comida ser seu remédio” tomada literalmente fazia sentido. Atualmente, deveríamos interpretá-la como dizendo que 'bons hábitos nutricionais e, em geral, de saúde reduzem a possibilidade de doenças não transmissíveis'.

Na verdade, é quase mais importante saber que não ter bons hábitos de saúde, bem como uma alimentação inadequada, leva à redução da expectativa de vida e ao aumento das doenças.

Então pare de experimentar, já evoluímos e usamos o orégano pelo que ele é, um ótimo condimento. Vamos corrigir o título então:

O orégano é uma erva "milagrosa" que melhora a digestão e acalma a dor? Sim.