O que será da La Niña em 2021?

A La Niña, fase negativa do El Niño- Oscilação Sul, está em vigor desde setembro do ano passado, quando o oceano Pacífico Tropical passou a registrar Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) mais frias que o normal. Essas anomalias frias de TSM se intensificaram ao longo dos meses seguintes, atingindo seu pico de intensidade no final do ano passado.

O Oceanic Niño Index (ONI), que usa como base as anomalias mensais registradas na região do Niño 3.4 (localizada no Pacífico Tropical Central – Leste), registrou no último trimestre de Outubro, Novembro e Dezembro, um valor de -1.3°C, que classifica o atual evento como uma La Niña de intensidade moderada.

Essa intensa anomalia média negativa foi impulsionada principalmente pelo resfriamento que ocorreu nessa região na virada do mês de outubro para novembro, quando as anomalias de TSM chegaram a ficar iguais ou inferiores a -1.5°C por duas semanas, no limiar de um evento forte. Esse forte resfriamento ocorreu devido ao afloramento de uma bolha de águas bem frias que estavam em subsuperfície.

A partir do final de novembro e durante o mês de dezembro, essa bolha de águas frias foi perdendo força, se misturando com as águas da superfície. Consequentemente, as anomalias frias de TSM foram desintensificando lentamente, não retornando ao patamar que foi registrado em novembro.

Além da desintensificação dessa bolha de águas mais frias, nos últimos meses uma bolha de águas mais quentes tem ganhado força em profundidade no Pacífico Tropical Oeste. Essa bolha quente poderá avançar para leste nos próximos meses, se misturando com as águas frias e, portanto, contribuindo para o enfraquecimento das anomalias negativas que sustentam a La Niña.

De acordo com a NOAA, é quase certo que a La Niña continuará ao longo do verão do Hemisfério Sul (95% de chance) e há 55% de probabilidade do Pacífico Tropical iniciar uma transição para a fase neutra no outono, ou seja, que as condições oceânicas e atmosféricas voltem ao normal.

De qualquer forma, não podemos nos esquecer de que a atmosfera demora a responder as alterações oceânicas. Mesmo que as anomalias se enfraqueçam e retornem a neutralidade, a atmosfera demorará alguns meses para “sentir” essa alteração e voltar a seus padrões circulatórios normais. Resumindo, mesmo que a La Niña desapareça, seus efeitos na atmosfera ainda durarão por um tempo.

O que esperar para o restante de 2021?

Até o momento sabemos que a La Niña já atingiu seu ápice no final do ano passado e a partir de agora deverá se enfraquecer até o retorno a neutralidade durante o outono austral. Mas será que podemos pressupor o que virá depois disso?

Apesar de ser muito arriscado tentar adivinhar o comportamento do oceano e atmosfera muitos meses à frente, podemos nos basear no histórico de registros para termos algum embasamento para realizar um prognóstico inicial. De acordo com o histórico do índice ONI que data desde 1950, um evento de La Niña é mais frequentemente seguido por uma fase neutra ou um novo desenvolvimento de La Niña no verão seguinte.

De acordo com a Climate.gov, da NOAA, dos 12 eventos de La Niña do primeiro ano (ou seja, o verão anterior não apresentou La Niña), 8 foram seguidos por outra La Niña no verão seguinte, 2 por uma fase neutra e 2 por El Niño. Portanto, de acordo com o histórico, existe uma probabilidade significativa do retorno das condições de La Niña na próxima primavera e verão.

Quais são os efeitos da La Niña no Brasil?

De certa forma já é possível constatar alguns dos efeitos da La Niña no Brasil, principalmente em relação ao regime de chuvas, onde temos observado um volume abaixo do normal no Sul, em partes da região central e sudeste do Brasil, enquanto que no norte das regiões Norte e Nordeste as chuvas estiveram acima da média.

Para os próximos meses podemos esperar condições semelhantes, os mapas probabilísticos de impactos de La Niña do IRI indicam uma alta probabilidade de chuvas acima da média no extremo norte do país e uma probabilidade de chuvas abaixo da média em partes das regiões central e Sudeste.