Oceano Índico: devastador ciclone Chido deixa mortos no arquipélago francês de Mayotte

O ciclone tropical Chido se desenvolveu no oeste do Índico e alcançou a categoria 4, atingindo as ilhas francesas de Mayotte, onde as autoridades acreditam que as mortes podem estar na casa de centenas ou milhares.

Ciclone Chido
O ciclone Chido causou destruição total em zonas habitacionais extremamente vulneráveis no arquipélago de Mayotte. É um território ultramarino que pertence à França.

Geralmente, quando um ciclone tropical se desenvolve sobre o Mar das Caraíbas, ou ameaça os Estados Unidos, os meios de comunicação bombardeiam com informações como se o fenômeno fosse afetar populações tão distantes como a Argentina. Mas a verdade é que outros fenômenos semelhantes, ou piores, em outras partes do mundo passam quase despercebidos. E se eles se desenvolverem sobre o Oceano Índico e ameaçarem a África, nem se fala! É por isso que às vezes parecem fenômenos fantasmas.

O ciclone tropical Chido se desenvolveu sobre o oeste do Oceano Índico e atingiu a categoria 4. Estima-se que as rajadas associadas à sua circulação ultrapassaram os 250 km/h.

Foi o que aconteceu com o trágico ciclone tropical Chido que nos últimos dias se desenvolveu sobre as águas do Oceano Índico, devastou as ilhas ultramarinas francesas de Mayotte, afetou gravemente o norte de Madagáscar, e neste domingo (16) já estava dissipado, mas com chuvas muito intensas ainda sobre Moçambique que podem afetar o nordeste do Zimbabue na próxima terça-feira (18).

De acordo com o site France 24, o número de mortos provocados pelo ciclone Chido em Mayotte poderá certamente chegar a várias centenas, ou até a vários milhares de pessoas. É uma enorme catástrofe e quase não foi noticiada no Ocidente. Estamos diante de um fenômeno que causou possivelmente cinco vezes mais mortes do que a catástrofe de Valência. Foram as autoridades de Mayotte que confirmaram a magnitude do que aconteceu.

Situação extrema e incerta

Em declarações à imprensa, o prefeito François-Xavier Bieuville disse: “Acho que certamente serão várias centenas, talvez estejamos nos aproximando de mil ou mesmo vários milhares [de mortos]”. A passagem de Chido destruiu bairros muito pobres e com habitações extremamente precárias onde vive um terço da população de Mayotte. A população do arquipélago chega a 300 mil habitantes. Todo o acesso à eletricidade, água potável e comunicações também foi perdido.

Quando o ciclone Chido afetou Mayotte, atingiu uma intensidade máxima comparável aos furacões de categoria 4 nas Caraíbas. As rajadas ultrapassaram os 250 km/h. As autoridades acreditam que serão necessários vários dias para se ter uma visão completa do que aconteceu, e serão meses muito complicados porque o acesso aos serviços básicos está longe de voltar ao normal.

O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, confirmou à BBC que “todas as casas improvisadas foram completamente destruídas” e temia um número “elevado” de mortos. Mayotte tem o estatuto de Região Ultraperiférica da União Europeia, semelhante ao das Ilhas Canárias (na Espanha). Estatisticamente, Chido é o pior ciclone tropical a atingir Mayotte em 90 anos.

Sem eletricidade, comunicações e água

Segundo o Ministro de Interior da França, em declarações ao site The Guardian, “quanto às vítimas, as coisas vão ser complicadas, porque Mayotte é uma terra muçulmana onde os mortos são enterrados em 24 horas”. Mayotte é significativamente mais pobre do que o resto da França e tem lidado com a violência de gangues e a agitação social durante décadas. As tensões aumentaram no início deste ano devido à escassez de água.

Equipes de resgate e suprimentos estão chegando por via aérea e marítima. Mas é provável que o abastecimento esteja em sérios problemas porque os aeroportos foram gravemente danificados e não há eletricidade. Como o acesso à água potável já era um problema crônico, não se sabe como tudo isto poderá impactar a sociedade. Sem apoio externo não será possível sair da situação, mas os danos são tão grandes que ninguém consegue prever como serão os próximos dias.

O hospital central do arquipélago também foi gravemente danificado, tornando o atendimento aos feridos muito complexo. Essa desolação, somada à falta de água, sugere um cenário sanitário muito complexo nas próximas semanas. No início deste domingo (16), o ciclone Chido afetou o norte de Moçambique onde a principal ameaça estava relacionada com chuvas intensas e inundações. Mas desde a primeira parte do dia, as comunicações com aquela área do país estavam interrompidas.