Oeste dos Estados Unidos sofre com a pior seca em 20 anos
Vastas áreas do oeste dos Estados Unidos estão sendo afetadas por uma grave seca, a pior da região em pelo menos 20 anos. Os reservatórios estão em níveis críticos, alguns registrando os níveis mais baixos de seus registros.
Mais de 88% do território oeste dos Estados Unidos, que compreende os estados do Novo México, Arizona, Califórnia, Nevada, Utah, Oregon, Idaho, Washington e Montana, está atualmente sob condições de seca, afetando cerca de 143 milhões de pessoas. Em 26% desse território as condições são classificadas como ‘Seca Excepcional’, categoria mais severa usada pelo Monitor de Secas dos Estados Unidos.
Essa é a maior faixa de ‘Seca Excepcional’ registrada em uma década, cobrindo um décimo do país. Praticamente todo o território dos estados de Utah, Arizona, Nevada e Califórnia estão sob essas condições excepcionais.
Centenas de riachos e rios da região estão apresentando vazões bem abaixo da média. Mais de 50% das estações de monitoramento do oeste dos EUA relataram fluxos mais baixos que o normal, o que ameaça o nível dos reservatórios.
O nível do Lago Mead, o maior reservatório do país, situado no Rio Colorado, está em seu nível mais baixo desde sua criação na década de 1930. A situação é tão crítica que o Arizona, Nevada e outros estados provavelmente enfrentarão cortes no fornecimento hídrico.
Na Califórnia, o Lago Oroville, o segundo maior reservatório do estado que fornece água potável para 27 milhões de californianos, está 50 metros mais baixo quando comparado a 2019, quase 40% abaixo da capacidade. O governador Gavin Newsom decretou emergência hídrica em 41 dos 58 condados do estado.
Antes mesmo do início do verão, o oeste dos EUA já experimentou uma forte onda de calor que fez com que os termômetros de diversas regiões ultrapassassem os 40°. Salt Lake City, em Utah, atingiu o recorde de temperatura de 42°C no dia 15 de junho. Na Califórnia os termômetros foram ainda mais longe, chegando a 49°C em Needles e 51°C no Vale da Morte, nesse mesmo dia.
Infelizmente as condições de seca devem piorar já que o solo está extremamente seco e as previsões para o trimestre de junho, julho e junho indicam que os acumulados de chuva continuarão abaixo da média e as temperaturas devem ficar acima do normal.
Seca é combustível para incêndios florestais
Além da escassez hídrica, meteorologistas estão preocupados com outra grave consequência da seca, os incêndios florestais. No ano passado já presenciamos uma temporada histórica e devastadora no sudoeste dos EUA, e infelizmente as atuais condições atmosféricas e de solo indicam que podemos presenciar incêndios tão grandes quanto os de 2020 na temporada que se inicia.
Antes mesmo do início do verão, as altas temperaturas e as condições de extrema seca já deram início a dezenas de incêndios florestais nos estados da Califórnia, Arizona e Novo México.
O papel das mudanças climáticas
Cientistas dizem que as condições de seca nessa região estão sendo exacerbadas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem. De acordo com os cientistas, a seca e o calor estão embebidos num ciclo vicioso de feedback das mudanças climáticas, onde as temperaturas mais quentes favorecem a seca e a seca gera temperaturas mais altas.
"Sempre temos chances de calor extremo, principalmente no verão: mas à medida que o planeta esquenta, vemos que as ondas de calor do verão estão chegando mais cedo, durando mais e se tornando mais quentes e intensas", disse Katharine Hayhoe, pesquisadora e cientista-chefe da Nature Conservancy à CNN.
Um estudo publicado em 2020 na revista Science mostra que 2000 a 2018 foi o segundo período de 19 anos mais seco no sudoeste dos EUA em pelo menos 1.200 anos! Além disso, os autores também indicam que as mudanças climáticas causadas pelas ações antrópicas tornaram essa seca 46% mais intensa do que seria naturalmente.